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27/07/2012

"Contato Imediato"

Capitulo 1


Eu deveria ter aprendido depois de tanto tempo. Toda vez que um amigo vinha com um papo como “Vamos, vai ser legal” eu já deveria saber que isso era uma espécie de código pra “eu vou te colocar numa roubada”. Eu conhecia a regra, sabia como acontecia, mas sempre acabava caindo miseravelmente nessa história e acabava participando de programas entediantes e horríveis.
 
Em sua maioria, idéia da minha melhor amiga
 Mel. Na semana anterior, eu tinha acompanhado Mel para uma convenção de astronomia, certa de que seria legal, exatamente como ela disse que seria. E mais uma vez eu me decepcionara. Fora maçante e eu não entendera nem a metade do que eles estavam explicando. Talvez um dos fatos que me ajudaram a não entender nada tenha sido porque eu dormira enquanto um dos palestrantes falava. Mas minha defesa era simples: o cara falava muito baixo e muito devagar, parecia uma canção de ninar, eu simplesmente fiz o que qualquer pessoa na minha situação (arrastada pela melhor amiga para um programa de índio) faria. Dormi. 
Lembrando desse fato, podia me lembrar do porquê de eu estava tão com tensa com as novas palavras de
 Mel. Minha amiga queria me levar para mais um de seus programas de fim de semana imperdíveis. Iríamos acampar para ver um cometa raro. 
Tentei usar todas as minhas desculpas, e eu tinha um repertório bem cheio que sempre vinha a calhar em momentos como esse, mas ela sempre sabia que eram apenas desculpas e me arrastava para onde ela queria mesmo assim. “Vou ficar na redação até tarde”, dizia eu. “Não esquenta, eu ligo avisando que vamos nos atrasar. Passo aí em meia hora.” Tentava também: “Vou viajar para visitar meus pais.” “Ah, Eles nem estão em casa! Vamos depois, juntas. Mas hoje realmente preciso de você.” Até mesmo a boa e velha dor de barriga fajuta foi cogitada, mas eu conhecia a amiga que eu tinha e sabia que ela sempre levava um remédio para isso na bolsa, além de um para dor de cabeça, outra de minhas desculpas esfarrapadas.
 
Eu já tinha perdido as contas de quantas vezes eu tinha me enfiado em qualquer coisa relacionada a estrelas por causa do amor de minha amiga por elas. Não sabia muito sobre elas, mas tinha visto muitas em todos aqueles anos de amizade com
 Mel. 
- Por favor, amiga. – implorei, vendo-a colocar uma ou duas peças de roupa do meu armário dentro da mochila que estava em suas mãos, escolhendo algumas e descartando outras. –Mel... – gemi, tentando pela última vez, desta vez com uma leve chantagem emocional percebida claramente pelo meu tom de voz, enquanto a via pegar a barraca e a dobrar em várias partes, colocando-a na mochila e socando-a em seguida para que ela realmente coubesse ali.
 
- O que te custa fazer esse favor para a sua amiga mais querida?
 
Ela sabia que aquela frase sempre funcionava comigo. Ela ainda piscava seus olhos brilhantes me deixando numa situação difícil.
 Mel sabia que eu nunca a deixaria na mão e era exatamente por isso que sempre me metia naquelas chatices. Ela sabia que o meu senso de lealdade para com ela sempre seria mais forte que qualquer programa chato e maçante que ela ainda insistisse para fazermos. 
-
 Mel... 
Pensei que uma última tentativa de argumentação me fizesse parecer que não iria ceder, e quem sabe, convencesse
 Mel. 
- Por favor. É a última coisa que eu te peço.
 
Eu sabia que era mentira. Provavelmente a última coisa naquela semana, sim, já que estávamos no sábado e ela não teria oportunidade de pedir mais nada. Mas nunca se sabe com
 Mel, ela bem poderia arranjar mais alguma coisa pra pedir no caminho. Desde que nos conhecemos eu nunca consegui negar nada a ela e dessa vez não era diferente. Por isso peguei a mochila e entrei contrariada no pequeno carro prateado de Mel, refletindo sobre meus possíveis programas de sábado à noite. Eu não teria nenhum lugar realmente legal para ir, talvez apenas me jogasse no sofá quentinho e assistisse a uma reprise de filmes românticos da TV aberta, que passavam todos os sábados. Era uma noite digna de perdedores, mas era bem melhor que passar frio em não sei onde, esperando para ver um cometa. 
- Acho que vai passar Um Amor Para Recordar na TV, hoje. É um dos nossos filmes preferidos, não é?
 
- Alugamos e assistimos amanhã. - respondeu ela de pronto.
 
- Humm,
 Mel... – chamei depois de um tempinho. - E se fizer frio e não tivermos roupas quentes o suficiente? – eu estava sendo chata de propósito. 
-
 Lua! - ela gritou, ralhando comigo para depois olhar para mim por alguns instantes e voltar a atenção para a estrada em seguida. - O cometa só passa uma vez a cada cento e cinquenta anos, ou seja, você nunca mais vai ver esse espetáculo lindo das estrelas! Olha a oportunidade que eu estou te dando! Então seja um pouco mais agradecida, amiga. 
Fiquei tentada a responder "Grande coisa" para irritá-la ainda mais, mas me contive a pulso, dando um sorriso falso para minha amiga, que mesmo sabendo que eu estava fingindo, deu um sorriso de volta, um pouco mais contente. Eu não estava agradecida por passar frio dentro de uma barraca, mas tudo bem, eu faria aquele esforço por ela.
 
- Vai ser legal. Prometo.
 
Eu sabia que não seria lá tão legal quanto ela estava prometendo, na verdade, nem achava que seria legal, mas mesmo assim, contive-me novamente para não dizer nada a ela.
 Mel era minha melhor amiga e a única de minhas amigas que não fazia pressão para que eu arranjasse um namorado e nem se incomodava com o fato de eu não ter um. Pensava que Mel não ligava muito por estar sempre com a cabeça nas nuvens, ou estrelas, como preferir. 
Morar em Nova York não era uma tarefa muito simples, trabalhando na redação de um dos melhores jornais do mundo e enfrentando toda aquela gente sedenta de luxo e glamour. Eu não gostava da parte festiva e glamurosa, mas fazia parte do meu trabalho. O mais complicado era explicar para os montes de mulheres desesperadas por um marido, que pareciam lotar a cidade, que eu não precisava de um homem para ser feliz.
 
Na realidade, ainda não encontrara nenhum homem que chegasse perto do homem certo para mim. Portanto, duvidava que precisasse de um para ter o meu "felizes para sempre". Eu era feliz solteira. E duvidava que nesse mundo inteiro existisse esse tal "homem certo".
 Mel costumava brincar que seu homem perfeito deveria estar em uma outra galáxia para ela não conseguir achá-lo. E mesmo não acreditando em pessoas vivendo em outra galáxia, eu tinha que concordar com ela. Estava difícil encontrar um homem certo nesse mundo. Eu não havia procurado, e nem pensava nisso, mas conhecia muitas pessoas que estavam reclamando pelos cotovelos de tanto procurar e não encontrar. E eu sabia que se elas, que quase arranjavam uma lupa gigante para encontrar o "Senhor Príncipe Encantado", não tinham achado, não seria eu, que nem ao menos dignava-me ao trabalho de procurar, quem acharia. 
- Sabia que esse cometa viaja por todo o espaço sideral? –
 Mel falou de uma vez, me fazendo mostrar uma cara surpresa para que ela não percebesse que eu já estava entediada. Ela dissera a mesma coisa desde que o momento que me convidara para esse maldito acampamento. Me surpreendia por não ter nunca ganhado o prêmio de melhor amiga depois das milhares de coisas que eu havia feito por minha amiga. - Chegamos. 
A brisa do mar bagunçou meus cabelos, enquanto eu descia do carro, carregando a mochila que
 Mel tinha preparado para mim. Eu odiava acampar. Eu era simplesmente uma criatura urbana, não tinha nascido para ar livre. Mosquitos, mato, vento na minha cara não faziam parte da minha visão de diversão em acampamento. Só eu sabia o quanto de repelente eu gastara com essas maluquices da minha amiga de planetas, satélites e qualquer coisa mais. Mas por Mel eu tinha que passar a noite ao relento pajeando um asteróide, ou o que quer que fosse. Amigas eram para isso, certo? 
- Eu monto o telescópio e você as barracas. Pode ser?
 
Concordei com ela apenas porque eu não saberia montar o telescópio caro e complicado que ela simplesmente adorava, as vezes mais até do que a mim. E com grande prática dos tempos de escoteira, os tempos mais desgraçados de minha vida e os que me traumatizaram para sempre, me deixando com ódio mortal de toda e qualquer coisa que me lembrasse o ar livre (lembrete mental: agradecer mamãe por ter me colocado naquele suplicio chamado Escoteiras do Amanhã), montei as duas barracas de frente para o mar, mas a uma distância segura, afinal não queríamos acordar à deriva.
 
Mas também não queria montar perto daquele matagal que havia ao fundo. Aquilo não me inspirava nem um pingo de confiança. Poderia ser um ninho de cobra, rato ou mosquitos. O último era o que mais me causava temor, afinal,
 Mel não tinha colocado repelente na minha bolsa. E quando notei isso, a minha vontade de ir embora, que já era grande, tomou níveis astronômicos. 
- O cometa só pode ser visto pelo telescópio. Te contei isso?
 
Ela manipulava aquele telescópio com reverencia e o montava com uma prática que provava a quantidade de vezes que ela montara e desmontara o tal objeto.
 
- Comentou uma ou duas vezes.
 
Trinta. Mas não quis machucar os sentimentos de minha amiga dando o número exato para ela.
 Mel sorriu para mim e sentou-se em frente ao telescópio montado com esmero, ajustando sua altura e ângulo. Como percebi que ela não se manifestaria, fui procurar por alguns gravetos para fazermos uma fogueira, assim como eu havia aprendido no odioso Escoteiras do Amanhã. 
- Aonde você vai? - ela perguntou.
 
Com certeza
 Mel não tinha a menor noção do que fazer em um acampamento. Céus, por que a vida era tão injusta? Se ela gostava tanto de céu aberto e ar fresco no rosto, por que a mãe dela não a colocou para ser escoteira e eu, que nunca gostei de nem ao menos passear no jardim, tive que passar anos e anos me matando naquele maldito lugar. Sem contar os acampamentos de verão adicionais que minha mãe inventava. 
- Buscar gravetos para fazer uma fogueira. – respondi como se fosse obvio. O que realmente era, já que não tínhamos uma fogueira ainda e a cada segundo parecia estar mais e mais frio.
- Ah! - só agora ela pareceu perceber que não tínhamos montado uma ainda. - Ok. Mas não demore, em no máximo dez minutos o cometa aparecerá.
 
- Tudo bem,
 Mel, não demorarei. 
E não demoraria mesmo. Apesar de querer muito não ver o tal cometa. Eu queria dormir na minha linda caminha de lençóis azuis e não dormir em uma barraca fria sob o perigo de ser atacada por um enxame de mosquitos assassinos que me comeriam viva. Ok, talvez não assim, mas bem perto disso. Mas eu tinha plena consciência de que se eu perdesse tal "espetáculo", ela ficaria no mínimo seis semanas sem falar comigo. E eu simplesmente odiava ficar sem falar com ela, porque isso significava que eu tinha que falar com Kate e... Bem, Kate era uma das maiores casamenteiras de todo o estado nova iorquino.
 
Toda semana ela arranjava um encontro para mim com um cara que poderia ser o cara da minha vida. O que é claro que ele não era. Geralmente era apenas mais um anunciante perdedor do jornal.
 
Saí pela praia, indo para perto de algumas vegetações, com todo o cuidado possível, achando dois ou três gravetos. O local que
 Mel escolhera era grande, mas não demorei muito para achar os gravetos, havia alguns perto da pequena floresta mais acima e na entrada da floresta achei mais um monte deles. Nos pés de alguns arbustos, um pouco para cima de onde Mel e eu armáramos nossas barracas também havia bastante deles. Fui empilhando os gravetos que eu encontrava nos braços e quando quase não conseguia mais empilhá-los, voltei para onde havia armado nossas barracas, escutando os berros de Mel. 
- Corra,
 Lua. - ela gritou desesperada com um olho colado ao telescópio, nem ao menos se importando com o fato de eu estar correndo com todos aqueles gravetos pontiagudos em meus braços, espetando minha pele sem parar. - Meu Deus, eu já o vejo! 
Mel estava empolgada demais, e seu olho não se desgrudava do telescópio. Eu já esperava mesmo que ela fosse monopolizar o objeto. E eu nem ligava muito também, já que eu não queria ver, mesmo assim, olhei para o céu, esperando uma chance de vê-lo a olho nu também, mas já sabendo que seria impossível. Se
 Mel dissera que não daria, então não daria. Ela era a entendida em assuntos estrelares. Eu nem ao menos sabia para onde ficava o Cruzeiro do Sul e as Três Marias. E eu achava que Três Marias era apenas uma Girl Band até Mel me explicar o que elas realmente eram. 
Mas pela primeira vez na vida, minha amiga estava errada. Eu podia ver algo brilhante cortando o céu em alta velocidade, quase como uma estrela cadente, mas grande demais para ser uma delas. Mais parecendo... Não, eu não sabia com que aquilo se parecia.
 
Luzes brilhavam nele, não como uma estrela, mais como um letreiro luminoso da Times Square, eu não conseguia descrever aquilo de uma forma correta ou que condissesse com ele. Era lindo, chamava a atenção de meus olhos de uma forma muito inédita. Meus olhos estavam fixos naquele objeto cadente, a fumaça que saia dele era clara e fazia desenhos estranhos pelo céu. Pela inclinação do objeto, estava prestes a cair perto de nós. Mesmo sabendo disso, eu não consegui focalizar outra coisa, como o local mais provável onde ele iria cair, ou um lugar onde eu pudesse me esconder com minha amiga. Meu coração estava disparado de medo e encanto. Aquele objeto caindo em nossa direção era brilhante demais para que eu não pudesse ficar encantada com ele. Quanto mais perto de nós ele ficava mais quente o ar parecia ficar, em contrapartida.
 
Dei uma olhada rápida para
 Mel que nem olhava mais pelo telescópio. Os olhos dela também acompanhavam a queda do objeto não identificado parecendo tão fascinada quanto eu, ou mais. Nos encolhemos quando ele passou por nós como um feixe de luz enorme e caiu nas árvores que ficavam atrás de nossas barracas, perto de onde eu fora buscar os gravetos. 
Aquilo não era uma estrela.
 
Menos ainda um cometa.
 
Pensei que fosse um meteorito, ou meteoro, seja lá como chamam aquele treco que caí na Terra de vez em quando.
 
Mas sabia o que aquilo era. Eu já ouvira falar nelas, apesar de achá-las apenas mais uma besteira. Eu tinha medo de pensar que eu estivesse errada. Não era momento para pânico. Eu precisava ser racional. Aquilo não poderia ser o que eu estava pensando que fosse. Não poderia ser.
 
Era uma... Nave. Mas naves espaciais não existiam, certo?
 
Errado. Elas existiam e uma delas acabara de cair atrás das árvores acima de nós, onde agora saía uma fumaça estranha, mais escura do que quando ele estava caindo.
 
Olhei para
 Mel que olhava para o céu estática, sem saber o que dizer a mim. Claro que ela gostaria de dar uma resposta daquelas bem mirabolantes mostrando tudo o que sabia sobre o assunto. Ela nunca perdia uma chance de mostrar aquilo que sabia. E, pela primeira vez desde que eu a conhecera, ela não soltava uma palavra sequer, parecendo tão encantada que nem ao menos se lembrava de como se articulava as palavras. 
- Hoje é o dia mais feliz da minha vida! -
 Mel soltou de uma vez, exultante, assustando-me enquanto olhava para as árvores, esquecendo-se de seu precioso cometa, seu caro telescópio e tudo o mais. Tínhamos algo maior. 
Na verdade, ela tinha.
 
E como ela mesma diria, bem mais interessante.
 
- Céus, nem posso acreditar. Eu,
 Mel Fronckowiack vi um OVNI pessoalmente. É... Surreal. 
Boa palavra,
 Mel. Era exatamente a que eu estava procurando. Surreal descrevia bem a situação. Afinal, era realmente surreal estar com sua amiga num lugar que você nem ao menos gostaria de estar e de repente é surpreendida por um treco estranho e mais brilhante do que os anúncios da Times Square caindo perto de você. 
Olhei em volta, preocupada com ao local em que estávamos. Os animais poderiam ficar agitados com o barulho e a fumaça e poderiam querer nos atacar. E isso me deixava tensa. Tensa demais na verdade.
 
Eu era uma medrosa. Não tinha problemas em assumir isso. Apesar de ser uma das pessoas mais racionais já conhecida, eu sabia que a covardia era um dos meus maiores defeitos. E esse defeito estava me deixando com as pernas bambas no momento.
 
- Eu não acredito, não acredito! Cara, eu estou tão excitada!
 
Uau! Se
 Mel não falasse, eu nunca adivinharia. Ela estava prestes a pular de animação. E ela realmente fizera aquilo mesmo, pulando quase em cima de seu precioso telescópio. Fiquei assombrada quando ela pisou num dos pés do telescópio quase derrubando o equipamento. 
Ela estava realmente fora de si. E era uma das poucas vezes que eu via
 Mel naquele estado. Ela geralmente era bem empolgada com tudo, mas era muito raro ver ela quase explodindo de contentamento. 
- Não vejo a hora de contar a todos. Mais uma história incrível de nossos passeios, hein,
 Lua? 
Eu sorri levemente, deixando um pouco a tensão de lado enquanto me lembrava de uma frase que dizia que os amigos conheciam todas as nossas histórias, mas apenas os melhores amigos participavam das aventuras por trás dessas histórias.
 
Mel e eu éramos melhores amigas há mais tempo do que eu conseguia me lembrar. E desde esse “antes que eu possa me lembrar” estive com ela em todas as suas grandes aventuras, ou às vezes nem tão grandes assim.
 
No começo foram as montagens de barraca do lado de fora de minha casa para dormirmos sobre as estrelas.
 
Obvio que eu era a favor de uma festa do pijama no meu quarto com chocolates e travesseiros fofos. Mas por
 Mel, eu arrumava a barraca e dormíamos sobre as estrelas. 
No colegial as coisas não mudaram tanto, eu era do clube de astronomia por
 Mel. Na verdade, nem sabia direito o nome dos outros integrantes do clube, mas freqüentava o lugar, arrastada por Mel pelos corredores da escola. 
Hoje já éramos maiores de idade, já tínhamos uma vida estabilizada, ou quase isso. Mas ainda assim, eu acompanhava
 Mel onde quer que ela pedisse para eu acompanhá-la. Ás vezes eu tentava escapar, claro. Mas ela e eu sabíamos que eu nunca estaria longe dela por muito tempo. 
- O que foi,
 Lua? 
- Estava pensando nas milhares de vezes que fizemos essas buscas às estrelas juntas.
 
- Essa é a melhor delas, não é?
 
Melhor não. Mas com certeza a mais memorável. Afinal, era a primeira vez que algo caia perto de nós, e com grande possibilidade de ser um... Eu não gostava nem de pensar na palavra.
 
- Eu...
 
- Claro que é. Fala sério, quando veríamos um OVNI pessoalmente?
 
- Numa viagem à NASA?
 
Possivelmente minha sugestão não era muito agradável à
 Mel, que me fuzilou com os olhos, para depois esquadrinhar em volta prestando atenção nas arvores que formavam a pequena floresta acima de nós. 
- Eu acho que deveríamos ir lá.
 
Arregalei os olhos para ela perguntando com eles se ela realmente estava falando sério. Esperava com todo o coração que ela não estivesse falando aquilo à serio. Mas pelo modo com que ela apertava as mãos contra o peito, era mais que claro que ela iria para a pequena floresta. Apesar de saber que não devia e que poderiam haver animais perigosos nas arvores.
 
- Não acho prudente.
 
- Pense,
 Lua. 
- É exatamente isso que eu estou fazendo,
 Mel. Pensando na sua segurança. 
Ela riu alto, quase se contorcendo, me deixando confusa por instantes. Por que aquela maluca estava rindo?
 
- Como assim “minha segurança”? “Nossa”, querida. Você vai comigo.
 
- Nem pensar.
 
Ela me olhou furiosa. Eu sabia que ela estava brava até demais comigo por negar uma aventura dela, mas eu estava sendo racional, cuidando da segurança de minha melhor amiga. Ela poderia pensar no momento que eu estava tentando arrasar sua diversão, mas eu estava pensando em algo que
 Mel nunca pensava. 
Mel nunca cogitava a hipótese de algo ser perigoso.
 Mel nunca pensava que poderia se machucar atrás de suas estrelas e planetas. Eu sempre pensava nisso. Afinal, eu era a mais medrosa de nós, não era? 
- Vamos lá,
 Lua. Por favor, por favor, por favor. 
Pronto. E lá estava eu quase sendo convencida por
 Mel novamente. Mas dessa vez era diferente. Não era para uma daquelas palestras chatas que ela estava me convidando. Não era para mais um daqueles acampamentos idiotas que ela planejava com animação. Era perigoso dessa vez. 
Iriamos atrás de uma nave ou seja lá o que fosse aquele treco cadente. Eu não estava pronta para ir atrás de uma nave espacial. Eu nem ao menos sabia o que havia dentro da nave especial.
 
Eu estava nervosa apenas de pensar na possibilidade de
 Mel dentro daquela floresta desconhecida atrás de um objeto desconhecido. 
Céus, minha imaginação estava voando com imagens de
 Mel e a nave em chamas, além de uma nuvem de mosquitos vindo em sua direção prestes a comê-la. Eu fiquei tensa apenas de imaginar um fato como esse. 
- O que eu preciso fazer pra te convencer,
 Lua. 
- Você tinha dito que era a última coisa que iria me pedir hoje.
 
Ela sorriu docemente, como se tivesse realmente dito aquilo só pra me convencer. Eu conhecia
 Mel. Ela sempre me passava para trás com a sua conversa de “é a última coisa que eu te peço”. 
- OK... Eu... vou.
 
- Eba! Eba! – ela pulou em círculos à minha volta já tomando o caminho para a floresta, pela areia quando a puxei pelo braço, de volta para perto de mim e olhei fixamente em seus olhos.
 
- Prometa que tomará o máximo de cuidado possível,
 Mel. – ela revirou os olhos – Sério, Mel. Prometa. 
- Não preciso prometer nada. Você sabe que eu me cuido direitinho.
 
Mel tomou mais uma vez o caminho para as arvores e eu peguei o seu braço mais uma vez, brava por ela não me dar ouvidos. Ela era muito boa nisso, parar de me ouvir.
 
Geralmente, quando eu dava esses ataques de racionalidade excessiva,
 Mel fazia ouvidos moucos para mim. E eu realmente odiava quando ela fazia isso. 
-
 Mel Fronckowiack. 
- Ok,
 Lua Blanco, eu prometo que tomarei todo e qualquer cuidado possível. Ok? Se quiser eu já passo repelente daqui, para não ser atacada pelos seus tão temidos pernilongos. 
- Estou falando sério,
 Mel. – eu resmunguei. – Merda. 
Ela sorriu me abraçando com força de um jeito que provava o quanto éramos amigas. Sorri de volta e nos separamos enquanto
 Mel tomava outra vez o caminho para as arvores, desta vez sem eu detê-la. 
Mel corria com pressa para o local, como se o tal objeto fosse fugir e saí atrás dela, tendo em vista sempre a fumaça que aparecia no meio da pequena floresta.
 
Mesmo temerosa, segui a minha amiga, até escutar um barulho estranho vindo das arvores, como o de uma porta se abrindo ou qualquer coisa desse tipo.
 
Parei imediatamente com o coração na mão, sentindo algo estranho dentro do meu peito.
 
Como um pressentimento, ou coisa parecida.
 
Não sabia dizer se o pressentimento era bom ou ruim, mas o sentimento estranho ainda apertava meu peito de um jeito estranho.
 
Aconteceria algo e conhecendo
 Mel como conhecia, sabia que ela não se cuidaria como tinha me prometido. 
Mas, por mais estranho que parecesse, meu pressentimento não parecia ter a ver com
 Mel, ou até tinha, bem no fundo, o sentimento forte e aterrorizador que estava engasgando-me dizia que minha vida tomaria um rumo diferente assim que eu entrasse naquele bosque. 
Parei no meio do caminho. Estávamos lidando com algo bem maior. O meu pressentimento era maior do que qualquer um que eu já tivera.
 
A mudança seria maior que qualquer uma que eu já tivera.
 
Que
 Mel tivera. 
Nada nunca mais seria o mesmo depois daquilo. E isso me deixava ainda mais temerosa.
 

                                                                   
Direitos Autoriais: Elle S. 

4 comentários:

  1. AAAAAAAAA que legal essa web, Postaaa Mais

    Fernanda

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  2. quando vão postar de novo? é super legal totalmente diferente de todas as outras webs de diro demais!!! ah vai postar no fim de semanas?

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  3. aaaaaaa eu nao gosto muito de leer mais isso ta ficando muito legao

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