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30/07/2012

"Contato Imediato"

                      

Capitulo 2
                                                   Dois 

Meu primeiro pensamento foi gritar
 Mel, mas ela corria mais rápido do que eu para que eu pudesse alcançá-la e trazê-la de volta para mim e entrarmos no carro para fugir. 
Não me orgulhava em dizer que não era nem um pouco corajosa. E naquele momento o resto dela estava findando. Eu quase desmaiara quando tinha avistado o objeto caindo em minha direção e apenas a possibilidade de me ver cara a cara com ele, tê-lo perto demais de mim, estava tornando tudo pior.
 
Mel notou que eu estava parada e trêmula e lançou um olhar para trás com um olhar perigoso no olhar enquanto perguntava:
 
-
 Lua, você vem ou não vem? 
Eu preferia ter dito "Não, vai você!" e corrido desvairadamente de volta para a minha barraca, onde eu me cobriria até a cabeça e tentaria esquecer tudo o que eu havia visto, todas as luzes e a cena do objeto caindo tão perto.
 
Quando
 Mel me convidara para dormir ao ar livre, ver as estrelas, era só para ver as estrelas. Nenhum plano a mais. A hipótese de ver homenzinhos verdes estava me deixando nervosa demais. Poderia ser que não haveria nada dentro da nave, poderia ser apenas um pedaço de satélite que tinha caído. Mas satélites não eram tão brilhantes. Eu não poderia me enganar por muito tempo. E isso estava deixando Mel impaciente, enquanto ela batia o pé contra a areia fofa esperando por mim com a cara mais furiosa que ela poderia fazer. 
Contrariada pela segunda vez naquela noite e sendo contrariada exatamente pela mesma pessoa, corri pela areia até
 Mel e, juntas, corremos para as árvores, nos localizando pela fumaça esbranquiçada que saia por entre as arvores. 
Enquanto nós andávamos entre as arvores, eu observava tudo ao nosso redor. Minha amiga prestava atenção apenas no ponto fixo onde a fumaça estava saindo. Eu não. Olhava por todas as arvores esperando não encontrar nenhum animal que pudesse nos atacar. E devia confessar, que estava terrivelmente preocupada também de encontrar algum homenzinho verde que nos rendesse pelo caminho. Aquilo seria terrível. E apenas imaginar isso estava me deixando suada. Eu sabia quando estava suando por uma corrida intensa e quando eu estava suando de nervoso e no momento, era puro nervosismo que corria pelas minhas veias me deixando ainda mais aterrorizada.
 
Não foi difícil achar o local onde o sei-lá-o-quê havia caído.
 Mel o encontrou seguindo a fumaça, encontrando uma cratera gigante e redonda onde, em cima dela, jazia um objeto indescritível. 
Eu já vira inúmeras coisas em minha vida, mas nada daquele jeito, nada com aquele material estranho. Enquanto
 Mel andava mais para frente, analisando o perímetro, eu analisava o objeto, me recusando a chamar aquilo de nave. Era enorme, prateado e cheio de botões do lado de fora, além de luzes que no momento estavam apagadas, mas que eu sabia o quanto poderiam brilhar. O material era realmente desconhecido, não era inox, menos ainda alumínio, mas parecia algo entre esses dois materiais, entretanto mais resistente, já que mesmo com a queda impressionante, o objeto aparentava ter a mesma forma, como se a altura da queda não fosse o suficiente para destruir tal matéria prima. Pensei em descrever aquilo como um globo de espelhos gigante, pelo seu formato e tamanho, apesar de ser mais oval que um globo, mas nem era redondo e, com toda a certeza, aquilo era bem mais interessante do que um globo de espelhos. Globos de espelhos não tinham tantas luzes, e com certeza não eram tão quentes. 
O calor emanava da cratera, tornando aquele dia frio de novembro quase tão quente como uma tarde de julho.
 
- Uau! –
 Mel exclamou se aproximando demais da cratera, quase como se quisesse entrar para poder investigar mais de perto. Detive-a com um braço colocando-a para trás de mim, afinal, nunca se sabia o que poderia ter ali dentro e o que o que haveria ali dentro poderia fazer com ela. E, sinceramente, apesar de desejar ir primeiro e ver se era seguro, eu não era uma pessoa corajosa o suficiente para fazer isso. 
- Deixe de ser mole,
 Lua. Não deve ter nada aí dentro. Deve ser apenas uma sonda de inspeção. 
- Isso não parece ser uma sonda. – respondi, ignorando o insulto e dando uma olhada melhor no objeto, o calor ainda irradiava de lá de dentro, fazendo-me afastar mais dois passos da cratera e olhar para o rosto de
 Mel iluminado pelos reflexos do material espelhado da nave, ou qualquer coisa que aquele objeto fosse. 
Mel parecia uma criança em uma loja de brinquedos, ela estava bem prestes a pular de emoção e entrar na cratera para agarrar um pedaço da nave para levar como recordação, como eu bem a conhecia.
 
- Vamos embora, isso pode explodir.
 
- Está louca? Não vou embora daqui enquanto não pegar um pedaço disso para levar para casa. – ela resmungou com um sorriso enquanto tentava entrar mais uma vez no buraco em busca de um pedaço do material. Eu não havia dito que ela faria isso?
 
-
 Mel! - ralhei - Isso não é uma loja de souvenir, ok? 
Ela jogou o cabelo brilhante e escuro para trás como se dissesse que não discutiria aquilo comigo mais e desafiou-me entrando dentro da cratera quente e se aproximando da nave com cuidado, virando para trás e fazendo um gesto com a cabeça como se perguntasse se eu iria segui-la. Eu era covarde demais para entrar naquele buraco. Pé no chão demais para fazer uma loucura como aquela. Olhei ao meu redor, procurando mais vestígios da queda para investigar, dando sempre algumas olhadas para
 Mel de vez em quando para ter certeza de que ela não estava fazendo nenhuma loucura. Coisa que ela era bem passível de fazer. 
- Espere até eu postar isso no meu blog... – escutei ela ir dizendo para si mesma enquanto andava calmamente dando a volta no grande objeto, maior que ela e sendo oculta pela mesma, saindo do meu campo de vista e me deixando mais aterrorizada ainda. Será que ela não tinha noção do perigo, meu Deus? Ela se sentia bem se arriscando daquela maneira? Bom, se ela se sentia bom pra ela, para mim aquilo não era nem mesmo um pouquinho bom. Meu coração já estava na boca de tão forte que batia e eu imaginava milhões de cenas onde um serzinho verde com grandes antenas em pé, pulava de dentro da nave, atacando
 Mel e depois correndo atrás de mim por toda a floresta. Com mais medo ainda, por causa da direção dos meus pensamentos, puxei meu celular do bolso de trás da calça jeans que eu estava vestindo, e dando uma olhada na minha agenda telefônica, me arrependendo em seguida por não ter o número da NASA em minha discagem rápida. Só a pizzaria do Rico, a polícia e Mel, e no momento nenhum deles poderiam me ajudar. 
Os policiais não acreditariam em mim e Rico pensaria que eu estava querendo marcar um encontro, na sua mente estranha e cafona. Talvez
 Mel ajudasse, já que me pegaria quando eu desmaiasse do mais puro medo, o que não estava tão longe de acontecer. 
-
 Lua! 
O grito dela foi desesperado e ecoou nos meus ouvidos, me fazendo pular dentro da cratera, esqucendo todo o medo que eu alardeava até minutos atrás e tendo todas aquelas imagens malucas desaparecendo de minha mente. A preocupação falava mais alto no momento. Eu sempre ficava desesperada com a hipótese de acontecer alguma coisa à minha melhor amiga.Mel significava muito para mim, e apesar de eu estar furiosa por ela não escutar minhas recomendações, a preocupação tomava conta de mim de uma maneira impressionante.
 
Corri pela cratera, margeando a nave quase fervente de tão quente que estava e fiz a mesma curva na qual vi
 Mel desaparecer, tendo toda a minha atenção ao redor da nave, procurando por ela e enfim a achei. Minha amiga estava abaixada a uma distancia segura da nave, encarando algo que eu não saberia dizer o que era. Parecia ser um corpo, ou melhor, dois corpos. Eles estavam jogados no chão quase como se tivessem sido jogados de dentro dela, ou se tivessem se jogado de dentro dela em desespero. Lembrando-me por alguns segundos da tragédia do World Trade Center deixei que minha mente criasse várias imagens do que poderia ter acontecido, entre essas imagens, os dois corpos sendo atirados de dentro da nave fervente, prestes a explodir. O que era impossível, certo? Minha Nossa! Será que a nave atingira alguém? 
Era uma possibilidade. Aqueles dois poderiam estar acampando por perto e foram surpreendidos pela nave, afinal ela quase caira em
 Mel e eu também. Sim, fazia mais sentido para mim que imaginar que eles estivessem dentro da nave. Temerosa por motivos diversos, andei até Mel que acariciava o rosto arranhado de um rapaz, procurando por mais algum ferimento exposto. Minha atenção se prendeu no rapaz e nas mãos de Mel, que o tocavam com cuidado à procura de mais alguma contusão ou coisa assim. 
-
 Lua, por favor, dê uma olhada naquele rapaz ali.- chamou ela, tirando minha atenção de seus movimentos e voltando-a para o rapaz ao lado do que ela estava atendendo. 
Corri para ele de pronto, agachando-me ao seu lado e estiquei uma das mãos com um pouco de temor, tocando o seu pescoço em busca de seus sinais vitais. Sim, ele estava vivo, apenas desacordado. Minha mão ainda estava em seu pescoço, enquanto sentia meu coração bater mais forte e a sensação que me atacara mais cedo, perto das barracas, voltara com força total. Aquele pressentimento conseguira ficar ainda mais forte quando minhas mãos tocaram o homem.
 
Escorreguei meus dedos por seu pescoço, chegando à sua mandíbula, enquanto me deixava examinar o seu rosto. Minha mão livre tocou o seu rosto quente, analisando sua boca linda com seus lábios entreabertos. Nunca, em toda a minha vida, eu vira um homem tão bonito na minha frente. Seus cabelos claros eram um convite para os meus dedos e sua boca rosada, me encantara de um jeito diferente de tudo o que eu já havia sentido. Ergui os dedos para tocá-los, mas retive-me.
 
Olhei para
 Mel que ainda atendia o rapaz com ela e prestei atenção no mesmo. Tão bonito quanto o que estava ao meu lado, mas com traços mais suaves e uma aparência mais suave, apesar de parecer estar mais machucado do que o que eu atendia. Os seus cabelos também soavam convidativos às mãos, castanhos e suaves. 
Eles não eram apenas bonitos, eles tinham algo mais. Charme, ou algo que eu não conseguiria identificar. E eu já conhecera muitos modelos de Cuecas Calvin Klein para dizer isso com aquela certeza toda. Aqueles homens eram bonitos demais para serem simples campistas. Mas não era momento de ficar pensando em beleza de caras desacordados, por mais que ela fosse tão esplêndida. Eu tinha que prestar atenção nos ferimentos dele, e era o que eu fazia no momento seguinte, tocando todo o seu corpo, procurando fraturas e ferimentos mais profundos além dos que já estavam expostos.
 
- Eles não são daqui. - disse
 Mel baixinho para mim, enquanto eu avaliava criticamente quantos pontos seriam precisos no corte que o de cabelos claros tinha no braço, o corte parecia grave e profundo. Sua sobrancelha também exibia um corte que precisaria de pontos urgentes, o sangue que escorria dele já estava perto de seu nariz. Sangue que limpei com a manga de minha camiseta, cuidando para não machucá-lo mais com o toque. Mas, com certeza, o corte do seu braço era o mais preocupante. Ele tinha algumas queimaduras também, mas nada impossível de se tratar. 
Olhei para
 Mel, depois de minha inspeção, como se perguntasse por que ela dizia aquilo e ela apenas apontou para as roupas que os dois vestiam. Coisa que eu não tinha parado para reparar até então. E isso porque eu havia reparado até demais! Mel tinha razão. Eles usavam um suéter preto de gola alta, junto com calças pretas e botas da mesma cor. Até aí, nada de diferente, mas o material denunciava-os. 
A calça parecia ser de couro, mas quando a toquei para verificar isso com mais cuidado percebi que lembrava um jeans misturado com moletom, algo que eu nunca tinha visto antes. A linha que parecia ser lã, presente no suéter, era brilhante e ao tocá-lo, me lembrei do toque da seda, com o seu toque frio e suave. Mas colocando a mão na gola, mais uma vez me lembrei da lã, pelo jeito como o tecido aquecia a minha mão pelo lado de dentro.
 
Nenhum desses tecidos poderia ser misturado, o que me deixou em suspense e mais curiosa ainda. Esses tecidos podiam não se misturar na Terra, mas e em qualquer outro lugar além? Talvez
 Mel soubesse. 
- O que são eles? - perguntei em voz baixa com um pavor incrível de que o tom de minha voz mais alto pudesse acordar os dois homens, acordar quem não se conhecia era tenso demais. E se... Eles fossem perigosos? O medo pior de que eles fossem simplesmente perigosos, seria que eles fossem extraterrestres. Sentia o medo disparar como se fosse um segundo coração, e isso dava um gosto amargo em minha boca. A pergunta não saia de minha cabeça, ecoando sem parar me deixando mais e mais tensa. E se eles fossem extraterrestres?
 
- Não sei, mas temos que tirá-los daqui. Eles estão feridos.
 
Mais uma vez
 Mel dizia uma coisa que nós duas já sabíamos. Realmente tínhamos que tirá-los de lá de dentro, mas eu não sabia como fazer isso e subi-los cratera acima para levá-los às nossas barracas. 
- Por que não chamamos uma ambulância? - minha voz agora um pouco mais alta devido ao pânico que estava aumentando. Tinha medo de que aqueles lindos caras acordassem e pudessem nos fazer mal. E se eles nos matassem enquanto tirávamos eles de dentro do buraco? Meu Deus! E se eles nos abduzissem? Sim, isso seria um pouco irracional, já que a nave deles parecia um pouco esmigalhada à nossa frente. Mas e se eles tivessem, sei lá, uma nave de bolso? Olhei para
 Mel com o coração nas mãos, temendo que eles fizessem algo contra nós, mas ela parecia calma o suficiente, passando a mão pelo rosto do rapaz ao seu lado. 
-
 Mel... – chamei tensa. – Você tem certeza? 
- Está com medo de quê,
 Lua? 
- E se... – minha racionalidade se esvaia com todo o medo que estava em mim. – E se eles forem perigosos?
 
Tentei não usar a palavra extraterrestre ainda. Assustaria
 Mel. Era mais provável que a fascinaria, mas não quis dar sopa ao azar. 
- Pare de imaginar coisas e me ajude a tirar esse cara daqui.
 
Fiz como
 Mel pediu e me obriguei a parar com aquela loucura, ajudando ela a erguer o primeiro cara, o dos cabelos escuros. Segurando as pernas dele, ajudei Mel a levá-lo morro acima, enquanto ela o segurava pelos ombros. Foi um esforço árduo até que conseguimos chegar do lado de cima da cratera. Quando chegamos às arvores novamente, apoiamos um braço deMel no pescoço dele e rodeamos o braço dele à minha cintura, com o mesmo esforço ou talvez menos, conseguimos arrastá-lo por entre às arvores, para perto da areia, deixando-o perto das nossas barracas, onde daríamos a ele um pré atendimento, cuidando dos ferimentos mais expostos que ele estampava. 
Mel e eu não entendíamos muito de medicina, mas de primeiros socorros tínhamos pelo menos uma grande noção.
 Mel sabia até mesmo dar alguns pontos. Era útil quando nos machucávamos em nossos acampamentos. Geralmente eu que nunca fora uma que prestava muita atenção onde andava e geralmente me ralava ao entrar ou sair da barraca. 
Graças a Deus nossa caixa de primeiros socorros tinha remédios o suficiente para ajudar os dois rapazes. Tínhamos linha para fazer alguns pontos que eles precisavam e uma pomada para queimaduras, que com certeza o rapaz de cabelos claros precisaria dela. Talvez tivéssemos algumas ataduras e antibióticos também para os seus cortes, mas não tinha certeza da validade desses últimos. Merthiolate era certeza que tínhamos. Eu sempre precisava de um desses.
 
- Vamos colocá-lo dentro da minha barraca,
 Lua. – pediu Mel. 
Com um pouco mais de esforço, conseguimos colocar o cara dentro da barraca em cima do saco de dormir de
 Mel. Assim que o corpo dele atingiu o saco macio e fino, ele se mostrou mostrando que logo despertaria o que também despertou algo. Meu pânico. De imediato. 
Mel sentou-se ao lado do homem, pegando o kit de primeiros socorros debaixo de sua mochila, já separando algumas coisas para usar no momento.
 
-
 Lua, você vai ter que ir buscar o outro sozinha. - disse minha amiga, enquanto lançava um olhar preocupado para dentro os ferimentos do homem. Ele possuía um corte na sobrancelha bem maior do que o do de cabelos claros e o seu suéter de gola alta estava em terríveis condições, com algumas machas de sangue na altura do peito, onde uma parte rasgada do suéter mostrava um grande corte que ainda sangrava. - Ele acordará em breve e não quero deixá-lo sozinho. Os ferimentos dele parecem mais graves que o do amigo dele. 
Fiquei tentada a discutir com
 Mel, mas não disse nada sabendo que ela não aceitaria os meus argumentos para irmos buscar o segundo homem juntas. Eu tinha quase certeza de que não conseguiria trazer o outro rapaz, sozinha, mas Mel já passava uma pequena gaze com merthiolate em sua sobrancelha. Enquanto virava as costas e seguia correndo novamente para a grande cratera, eu pensava em mil e uma maneiras de tirar o homem de dentro do buraco sem machucá-lo ainda mais. O meu pavor não era apenas machucá-lo. Eu tinha medo de me machucar também. E se ele fosse realmente um alien que estava apenas esperando eu voltar sozinha para me seqüestrar, me colocando na nave dele e me levando daquela galáxia para um lugar que eu nem ao menos pudesse imaginar? Mesmo com medo, corri pelas arvores ate chegar ao buraco quente, pulando nele em seguida e dando a volta na nave para chegar até o rapaz, assim que me agachei ao lado dele, percebi que ele também estava quase acordando. Com muito custo e inúmeras tentativas, consegui colocá-lo sentado, com as costas apoiada numa das paredes da cratera. Com muito mais esforço do que despendera para colocá-lo sentado, consegui colocá-lo de pé, rodeando seu pescoço com um dos braços e colocando um dos seus braços no meu pescoço e o outro na minha cintura. 
Tentei ignorar a sensação que parecia tomar conta de mim por sentir o corpo daquele rapaz, ou fosse lá o que ele fosse, tão perto de mim. Não era uma sensação de medo como a que eu sentia mais cedo, meu corpo parecia forte, mais quente e nada tinha a ver com o calor que irradiava da nave. Era um calor que vinha de dentro de mim. Era uma coisa que eu não conseguia nomear.
 
Respirei fundo para pegar fôlego para subi-lo pela cratera, mas também para tentar apagar a sensação que parecia me enfraquecer.
 
Peguei uma das mãos do rapaz para rodeá-lo mais forte para não deixá-lo cair na subida, quando a mão do homem segurou a minha com força, me fazendo encarar seus olhos.
 
Foi uma das sensações mais intensas da minha vida. Meus olhos se fixaram nos dele me fazendo perder o rumo. Seus olhos eram castanhos, tão castanhos como chocolate. Intensos, mas não doces. Eles me deixavam sem ar, perdida, tensa. Mas não de medo. O seu olhar teve o poder de apagar todo o medo que eu sentia até então. Sua mão passava um calor pelo meu corpo que me deixava ainda mais perturbada, sem chão. Algo difícil de controlar, que tomava a minha respiração e me deixava em choque. E por mais que eu temesse o seu toque tão intenso, eu não conseguia retirar a minha mão da dele. Eu não tinha força o suficiente para nem ao menos pensar.
 
Não consegui retirar minha mão da dele, nem quando ele retirou o seu braço machucado do meu pescoço, mas ainda mantendo um deles ao redor de minha cintura.
 
Pensei que ele estivesse com tanto medo quanto eu ou estivesse esperando que eu explicasse o que eu estava fazendo, afinal, se eu fosse ele, eu também não gostaria de acordar de pé, rodeado por uma mulher que eu nem ao menos conhecia. Ou talvez, rodeado por uma terráquea que ele desprezasse. Eu nem ao menos sabia se ele ainda queria me abduzir, mas no momento, com aquele mix de sensações, eu não poderia dizer se estava com medo disso ou não.
 
Achei certo explicar a ele o que eu estava tentando fazer, e quem eu era também.
 
- Eu sou
 Lua Blanco, eu e minha amiga achamos você e o seu amigo. – ele continuou estático, apenas olhando nos meus olhos como se esperasse mais de minha explicação. Resolvi estender minhas explicações para deixá-lo mais calmo ou qualquer coisa assim - Eu realmente preciso tirar você daqui, não sei se a nave vai explodir ou qualquer coisa que acontece quando uma nave cai. Você precisa ir a um hospital. Seus machucados não parecem letais, mas precisam ser limpos para que não aconteça nada pior, entende? 
Durante toda a minha explanação, o rapaz não foi capaz de tirar os seus olhos dos meus, como se procurasse uma verdade neles que pudesse dar credibilidade às minhas palavras. Ou ainda como se meus olhos estivessem prendendo os dele, tanto como seus olhos intensos e líquidos como chocolate, puxassem os meus.
 
Depois de alguns minutos mais naquele contato visual, ele olhou em volta do perímetro da nave como que procurando por alguma coisa, no caso, alguém.
 
- O...
 
- O seu amigo? – perguntei de pronto, já entendendo o que ele iria perguntar. Se eu acordasse como ele acordara e não visse
 Mel, seria com certeza uma de minhas primeiras perguntas. “Onde a Mel está?” e depois viria um “Ela está bem?” que eram as perguntas mais importantes para mim. Onde eu estava e o que a pessoa pretendia fazer comigo não eram tão importantes quanto a segurança dela. Talvez aquele cara fosse humano para levar as amizades tão a sério. 
- O levamos para as nossas barracas. Vamos cuidar de vocês. Estão muito machucados. Mas não se preocupem, chamaremos uma ambulância para vocês assim que tivermos certeza de que não há nada mais grave.
 
Eu disse enquanto ele parava de procurar, voltando os olhos das arvores acima de nós e da grande nave brilhante e encarando-me mais uma vez. Ocorreu a mim, então, que ele não estivesse entendendo o que eu estava falando. O que não me admirava, já que eu falo rápido demais e geralmente as pessoas têm que me perguntar duas ou mais vezes o que eu acabara de dizer.
 
Era uma coisa corriqueira comigo, sempre que eu ficava estressada demais ou nervosa demais, as palavras simplesmente jorravam de minha boca ou se recusavam a sair. Eu já perdera a conta e quantos primeiros encontros eu já havia arruinado com essa péssima mania de falar demais em momentos inoportunos quando eu ficava muito insegura ou nervosa. Era normal, mas talvez o cara precisasse de mais um tempo para assimilar o que eu acabara de falar. Ele havia desmaiado e ainda estava um pouco atordoado, eu deveria repetir um pouco mais devagar para ver se o cérebro dele poderia me acompanhar dessa vez. Por isso, disse exatamente o que eu havia dito antes, mas agora pausadamente para que ele entendesse.
 
Ele simplesmente fez um gesto positivo com a cabeça de uma maneira que até me pareceu altiva, arrogante, mas que eu desprezei de cara, deveria ser apenas invenção da minha cabeça, que estava ainda em estado de choque e graça com a mão dele que ainda não saíra de minha cintura.
 
Olhando para o grande barranco cratera acima, pedira para que o rapaz me ajudasse a conduzi-lo morro acima. Ele simplesmente tirara a mão de minha cintura, subindo com a maior facilidade o paredão e chegando do lado de cima mais facilmente que eu, que subira logo atrás e com a respiração intacta, como se aquele não tivera sido esforço nenhum para ele.
 
- Eu posso andar sozinho. Não estou inválido.
 
“Filho de uma mãe!” Foi o primeiro pensamento que surgiu em minha mente depois que ele subiu toda a parede do barranco. Depois veio uma raiva intensa. Se ele podia falar minha língua também, por que me fizera repetir tudo pausadamente como uma idiota? E porque não respondera antes que estava bem o suficiente para subir sozinho, eu não precisaria estar com aquela cara de babaca quando ele subiu a cratera como um verdadeiro alpinista. Eu tinha sido tão simpática, ou pelo menos tentado ser, e ele me responde tão grosseiramente. Tão arrogantemente. Merecia um outro “Filho da mãe” apenas por erguer a sobrancelha machucada daquele jeito tão convencido.
 
Ele lançou um olhar irônico para mim enquanto eu respirava profundamente, com uma mão no peito, pelo esforço da subida e deu uma risadinha, como se soubesse que eu o estava chamando de filho da mãe e estivesse contente com isso. O que era praticamente impossível a não ser que ele lesse pensamentos.
 
O rapaz saiu andando na frente com toda a segurança e com ares de arrogância que me fizeram querer acertar o nariz dele com o meu punho, quis alcançá-lo para mostrar o caminho, mas eu podia ser muito vingativa quando estava com ódio e quis deixá-lo ir na frente para que um animal dos que eu temera mais cedo o atacasse. Ou, que no mínimo, ele se perdesse entre as arvores. Pena que elas não eram muitas para que isso acontecesse, seria um bom castigo para a arrogância daquele metido.
 
- Então
 Chay está com vocês? - perguntou ele, sem nem ao menos me olhar para fazer isso, continuando à minha frente com seus passos seguros e rumados para o caminho certo, o das nossas barracas. 
- Do jeito que você diz parece que o capturamos e vamos picá-lo em centenas de pedacinhos pra estudo.
 
Pensei em rir, enquanto imaginava aquele cara à minha frente em milhares de pedacinhos picados por eu mesma, mas não ri alto, controlando a minha raiva, como deveria ser.
 
- Vocês da Terra sempre fazem isso, não duvido que tenham feito mal ao
 Chay. Não ficaria espantado com mais uma barbárie terrestre. 
"Prepotente" Pensara comigo mesma. Só porque ele era um alien gostosão agora ele achava que estava com aquela moral toda? Da estrela de onde ele viera, ele até podia ter alguma moral, mas comigo não. Assim que terminei meus pensamentos, ele olhou para mim com um sorriso típico de pessoa que se acha, de um verdadeiro convencido que até se orgulha como tal. Quase como se ele tivesse ouvido meus pensamentos mais uma vez, ele deu uma olhada em mim de cima a baixo, por inteiro e isso me empertigou ainda mais.
 
Foi quando me dei de com que estava lidando. Aquele cara que andava em minha frente, me dando toda visão de seu traseiro sexy não era nada mais, nada menos que um dos homenzinhos verdes que eu temera a minha vida toda. Um alien. E mesmo sabendo desse fato, eu não ficara com muito medo, como estava antes de ele acordar. No momento eu estava nervosa. Quase furiosa com o julgamento estapafúrdio que ele fazia do meu planeta. Idiota.
 
- Não sei das pessoas que conheceram por aqui, mas a julgar por você imagino que as do seu planeta não devem ser muito melhores.
 
Seus olhos cor de chocolate faiscavam enquanto se virava para mim, me fazendo parar entre as arvores, agora um pouco mais assustada com o que ele poderia fazer, ele ergueu a sobrancelha para responder ao meu insulto com uma voz monocórdia que mostrava que ele também estava tenso, como eu:
 
- E olha que você ainda nem me conhece,
 Lua. 
Ele riu, jogando a cabeça para trás quando viu o meu medo estampado em meus olhos e continuou andando na frente por entre as árvores, me deixando ainda mais com medo.
 
Ele me deixara tremula de medo, de pavor apenas de pensar no que ele poderia fazer comigo. Mas mesmo apavorada, seus olhos cor de chocolate não estavam fixos em mim mais, porém eu ainda podia vê-los em meus pensamentos, sentir toda a sua intensidade e força irradiando.
 
E conforme eu andava de volta às barracas, comecei a pensar com o medo pulsando ainda mais intensamente em mim. O que o tal
 Chay poderia ter feito à Mel? 
Minha amiga não era uma pessoa com grande senso do que poderia ser perigoso ou não e para ela já ter sido atacada, abduzida ou qualquer coisa que aqueles aliens pudessem fazer, não custava nada.
 
Sem tirar
 Mel do pensamento, segui o alien até chegarmos às barracas, durante todo o pequeno caminho, ele seguindo com seus passos arrogantes e indiferentes a mim e eu rezando. 
Para que não fosse abduzida barra morta barra mutilada barra qualquer coisa que aqueles aliens pudessem fazer. E rezando para que estivesse tudo bem com minha melhor amiga. Rezando para que
 Mel estivesse bem.  
                                                                                
                                                                                                            Direitos Autoriais: Elle S.
Meus amores conforme eu disse arrumei o adaptada antes tava errado! Bjs deixem comentários!

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