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01/08/2012

"Contato Imediato"

                                                                 Capitulo 4
                                  
Quatro 

Eu estava mesmerizada com a onda de sensações que ainda me assolavam mesmo estando longe de
 Arthur. Eu não queria sentir aquela avalanche de sensações, mas mesmo assim parecia que isso não era uma coisa que dependesse muito de mim. Eu tentava fazer minha mente voar para outros lugares, como o monte de trabalho que eu teria na redação do jornal naquele fim de ano. 
Minha mãe costumava dizer muito uma coisa para eu e meu irmão todas as vezes que estávamos com algum problema, ou tínhamos feito alguma coisa errada e íamos chorar na barra de sua saia. Ela sempre nos mandava tirar uma lição valiosa do que acabara de acontecer. E o que eu poderia tirar de todo esse contato imediato que eu e
 Mel tivéramos? Com certeza a primeira lição que eu podia tirar com tudo aquilo era que ETs não eram verdes. Eles poderiam muito bem ser gostosos e ter um poder de atração e sensualidade maior do que esperávamos. Mais uma lição? Os olhos de ETs são perigosos, não olhe para eles por muito tempo ou ficará louca achando que uma sensação bem estranha percorra o seu corpo. 
Olhei para
 Mel, tentando saber o que ela aprendera com todo o nosso contato, mas não consegui ver nada nos olhos dela, que estavam fixos na estrada enquanto Freddie Mercury gritava e gemia em nossos ouvidos, enchendo o carro com sua potente voz fazendo a minha felicidade por alguns momentos. Desde que entráramos na autoestrada, Mel praticamente não parara de falar por um singelo minuto, enumerando vários momentos “supostamente” preferidos e sempre com um ou dois, ou cento e cinquenta, comentários fofos e delicados a respeito deChay. 
Para a minha suprema felicidade, Radio Gaga era uma das preferidas de
 Mel, e ela usou sua boca para um fim diferente do que falar sem parar na minha orelha, agora ela cantava a todo volume o refrão, sentindo que era verdadeiramente o próprio Freddie encarnado. 
No refrão,
 Mel pareceu realmente se empolgar e deixei minha cabeça ir mais além, por mais uma vez. As ondas noturnas se movimentavam no mar mais adiante e a luz da luz iluminava as ondas deixando o espetáculo mais lindo que eu já tinha visto. Era um sinal. Tinha que ser. 
Era um sinal de que tudo estava terminando bem, não era?
 
De que eu estava bem, depois de ter passado por aquele turbilhão de emoções e de que tudo ficaria melhor ainda quando eu pudesse ver as luzes da civilização brilhando nos meus olhos. Apesar de achar que aquele mar imenso iluminado pela lua uma cena realmente digna de tirar o fôlego, no meu coração, as luzes artificiais e sempre brilhantes da cidade sempre teriam um lugar mais especial que as vistas naturais.
 
A lua pareceu brilhar mais intensa, mudando o rumo dos meus pensamentos, pensando agora na segurança de
 Arthur e Chay em sua volta para casa. Apesar de não dar razão a Mel no momento, agora eu pensava nos curativos deles e se eles seriam capazes de trocá-los durante a viagem. E a tal ARE? Essa era o que deixava a minha cabeça em polvorosa, com pânico de que ela pegasse os meus aliens. Na verdade, não meus. Por mais que eu estivesse morrendo de medo de Arthur e Chay e sua nave de bolso que alucinava a minha imaginação com cenas aterrorizantes de abdução, eu tinha mais medo ainda que acontecesse algo de mal aos dois aliens bonitões. 
Deixei minha cabeça tumultuada cair no encosto do banco e fechei os olhos, cansada por toda aquela noite maluca que eu tinha vivido. Uma de minhas músicas favoritas tocava no radio agora, mostrando que a estação em que
 Mel colocara estava tocando apenas clássicos. Aerosmith tocava alto enquanto Dream On invadia os meus pensamentos me fazendo cantar a letra que eu sabia de cor, sem muito esforço. As palavras fluíam de meus lábios enquanto os olhos de Arthur dançavam diante de meus olhos fechados. Aquelas íris castanhas não saíam de minha cabeça, e inconscientemente toquei a minha mão, sentindo nela, ainda, o calor que sentira mais cedo quando a mão de Arthur a apertara com força. 
Não era nada. Eu repetia a mim mesma a cada dez segundos que aquilo não era nada. Quem sabe apenas uma reação psicológica e alienígena ao meu contato imediato de sei lá quantos graus. Cantei o refrão mais alto para afastar todos os outros pensamentos de minha cabeça e deixar nela apenas a letra da música que pedia para sonharmos com tudo.
 
Não, eu já estava sonhando demais desde que eu conhecera aqueles dois aliens.
 
Não poderia dizer que não percebi quando a música acabou, mas não ligara muito quando no lugar dela começou I’ll Be The One, que já era terrível na voz dos Backstreet Boys, e conseguira ficar ainda mais terrível com
 Mel cantando-a e fazendo os backing vocals ao mesmo tempo. Eram nesses momentos que eu me orgulhava de Mel. Mas a música estava muito torturante, por isso resolvi fazê-la parar de cantar e falar. 
No momento, era mais preferível ouvi-la falar por vinte minutos ininterruptos que ouvi-la cantar Backstreet Boys.
 
- De quantos graus você acha que foi o nosso contato?
 
Mel parou de prestar atenção na estrada e olhou para mim, como se quisesse se certificar de que eu estava realmente perguntando aquilo. E sim, eu realmente estava, mais para que ela parasse de falar do que para que se eu realmente quisesse saber. Não importava muito saber disso se eu não contaria a história para ninguém.
 
- Acho que terceiro grau, não sei. Nunca estudei essas coisas de graus. – disse ela voltando a atenção para o carro, mas depois de uns segundos, virou-se para mim com um sorriso enorme. – Ainda. A partir de hoje a coisa mudou de figura.
 
Ri com ela e tentei entender porque ela parecia mais contente a cada minuto. Aquela felicidade toda me pareceria descabível.
 
Conhecêramos aliens, e daí? Podia até mesmo soltar uma de minhas frases favoritas e dizer “Grande Coisa!”. Ninguém acreditaria na gente mesmo, de que adiantava ficar tão empolgada por ter tido um contato imediato de não importa quantos graus? Ninguém acreditaria em
 Mel e eu mesmo! Eu seria muito idiota se chegasse na redação do jornal segunda feira e fizesse a mesma cara que Hannah Muller faz depois de um fim de semana de festas high society e esperar todos me rodearem esperando pela minha inacreditável história de fim de semana. E dessa vez seria inacreditável mesmo. Meu testemunho de como eu conhecera um alien estaria fadado a ser uma vergonha no momento em que alguém me perguntasse como ele era e eu fosse dar a minha descrição, que já teria ensaiado algumas vezes na frente do espelho no domingo. “Sabem aqueles caras da Calvin Klein que aparecem de cueca nos outdoors? Então, só que melhores. Mais bonitos, sabem? Com uns olhos cor de chocolate de matar. Vocês precisavam ver...” e eu nem precisaria continuar, porque todos ririam da minha cara e espalhariam por toda Nova York que Lua Blanco estava ficando louca. O que não seria tão ruim se espantasse os otários que ainda achavam que eu estava louca por um marido. O problema seria só se esse boato se espalhasse além do território nova iorquino, ou eu estaria com sérios problemas com a ala masculina dos Estados Unidos. E não teria nem ao menos umas aventuras ocasionais, se achassem que eu estava louca. 
Mel poderia contar o que quisesse para qualquer um que conhecera os extraterrestres sensuais. Ninguém levava
 Mel muito a sério com esse papo de estrelas e ufologia, e no trabalho dela as pessoas eram exatamente como ela, em relação a astrologia e astronomia e por isso, ela poderia contar a todos os funcionários e clientela de sua loja de produtos exotéricos que havia tido um contato imediato. 
Por muitas vezes me perguntei por que
 Mel trabalhava naquela loja há tantos anos. Era um desperdício de tempo, pelo menos para mim. 
Mel era formada em Arquitetura e Design pela Cornell, assim como eu era formada em Jornalismo pela mesma faculdade. Ambas tínhamos o talento certo para o que escolhêramos para cursar. Mas ao invés de desenvolver o seu talento, como eu fizera, ela escolhera ficar buscando estrelas e juntar o dinheiro de seu salário em empregos alternativos para pagar os seus cursos de astronomia.
 
Sorri de leve ao imaginar
 Mel contando às pessoas a sua experiência dessa noite. Era algo natural, sentar-se diante de Mel e escutar as suas histórias, por mais malucas e inacreditáveis que fossem, por alguns segundos, você até mesmo acreditava nela. Ela simplesmente fala e você se vê viajando nas palavras dela e concordando com tudo o que ela diz, mesmo que não faça sentido nenhum para você. Isso explica de uma forma clara porque eu frequentava todo e qualquer evento relacionado ao espaço sideral. 
Olhei no relógio que mostrava que já eram quase duas da manhã, enquanto escutava
 Mel falar uma das primeiras coisas sérias da noite. 
- Vamos parar neste posto para abastecer, ok? Estou quase na reserva. – ela disse já estacionando e pegando a bolsa. – E digo isso do meu estômago também.
 
Eu ri enquanto assistia ela entregar a chave de seu charmoso carro para um homem na faixa de 40 anos que se ofereceu para abastecer por ela. Ela correu para a loja de conveniência enquanto eu continuava no mesmo lugar, apenas sem coragem de levantar, enquanto assistia
 Mel correr de volta para o carro, agradecendo o rapaz e guardando o cartão de crédito em sua carteira cheia de estrelinhas. 
Nos despedimos do frentista quando ele entregou a chave e
 Mel ligou o carro ao mesmo tempo que colocava vários tubinho de cheetos dentro da boca. O cheiro de queijo encheu o carro e eu ri do jeito que ela comia. Desde pequenas Mel sempre fora alucinada por Cheetos. O seu salgadinho preferido. 
Ela dirigia e comia ao mesmo tempo, me fazendo agradecer a Deus por só a música que saia do rádio ser o som dentro do carro e não nenhuma cantoria ou falação de
 Mel. 
As luzes de Nova York começaram a se divisar e me arrumei no banco, contente por vislumbrar o começo de minha volta à civilização. Não via a hora de chegar ao meu apartamento, tomar um bom banho para tirar a areia de mim e deitar na minha cama, dormindo por tempo o suficiente para esquecer que eu havia encontrado ETs.
 
Mel já tinha terminado de comer, e como já era de se esperar, começou a falar.
 
- Sabe,
 Lua. Vai ter um encontro de iniciantes a astrônomos em dezembro e eu achei que seria legal nós... 
Ela virou o rosto para mim, para poder fazer mais um pedido para que eu a acompanhasse para aqueles martírios idiotas, quando olhei para frente e gritei fazendo-a colocar o pé no freio com toda a força possível, olhando para o mesmo lugar que eu, ambas sem o que falar, apenas olhando para frente como duas bobas com o queixo caído. Eu estava muito tonta para falar, e consegui ficar ainda pior quando os olhos de
 Arthur encontraram os meus com firmeza, mesmo através do vidro parcialmente escuro do carro eu conseguia sentir o calor que apenas aquelas íris castanhas eram capazes de me fazer sentir. 
Meu peito subia e descia com dificuldade pela respiração lenta e pela falta de fôlego que me assolara com o susto.
 Chay e Arthur estavam à nossa frente. 
Parecia até mesmo uma cena de um dos meus pesadelos, mas ao olhar para
 Mel, que sorria contente ao olhar para fora, vi que não era um pesadelo. 
As mãos de
 Arthur e Chay apoiadas no capô do carro enquanto eles nos olhavam com firmeza eram reais. Muito reais. 
Meu coração estava prestes a sair pela boca, enquanto meus olhos voltavam a encarar os de
 Arthur, com medo e admiração misturados no meu olhar. Mais medo que o resto. Ele parecia perigoso com aquela expressão desgostosa que ele expressava. Parecia bravo com alguma coisa e me alegrei por saber que não era comigo. Ele era o tipo de pessoa que rezamos para que não fique bravo conosco. O tipo de pessoa perigosa demais para lidar. 
Céus, o meu tipo de cara.
 
O que eu estava dizendo? Não tinha nada a ver.
 Arthur não era o meu tipo de homem. Era apenas mais uma reação de meu corpo à sua presença alienígena. Apenas isso. 
- Precisamos de uma carona,
 Mel. – Chay disse olhando para ela, com nervosismo, assim como Arthur, mas de um modo mais branco. 
- Para... Para onde?
 
- Para longe da nave. O mais rápido possível.
 
Assim que
 Arthur respondeu, Mel destravou as portas traseiras e os dois correram para dentro do carro, acomodando-se apressados e pedindo para Mel acelerar o máximo que pudesse. 
Olhei para
 Mel, duvidosa e vi ela colocar o carro em movimento e acelerar, aumentando a velocidade de 80 para 120 Km/h, sem pestanejar por nenhum segundo. 
No radio, mais uma música começava e ouvi
 Mel começar a cantá-la a todo volume sem nem ao menos se importar com os dois no banco de trás, como se estivéssemos sozinhas. 
Bem, era isso eu pensaria se não visse as olhadas de
 Mel pelo retrovisor. A música era suave e envolvente e falava sobre não deixar alguém partir, eu nunca a tinha ouvido, mas adorei-a no mesmo instante. Deitei minha cabeça no encosto e minha mão formigou exatamente onde Arthur havia tocado mais cedo, mais uma vez. Me fazendo tocar o local e fechar os olhos. Eu me conhecia. 
Sabia que se eu não mantivesse os olhos fechados, era muito provável que eu olhasse para
 Arthur pelo retrovisor, exatamente como Mel fazia com Chay. Mas era aí que estava minha diferença com Mel. Eu era mais controlada. Sempre fora. 
Tudo bem, eu não era tão controlada. Mas conseguia me controlar por mais tempo. E meu tempo terminara, pois não resistira mais a tentação e olhei pelo espelho retrovisor encarandoArthur e pegando-o encarando a mim também, com seus olhos chocolates lindamente voltados para mim e um sorriso incrível em seus lábios. O tipo de sorriso de quem paga milhares de dólares mensais em clareamento a laser. O que é impossível. Não deveria existir clareamento a laser de onde quer que ele viera.
 
- Onde querem que eu deixe vocês? –
 Mel perguntou com atenção fixa na estrada, por alguns minutos deixando o retrovisor livre para meu jogo de olhares com Arthur. 
- Wyoming.
 
O meu corpo foi arremessado para frente enquanto
 Mel freava o carro de uma vez, quase me matando de susto. Ser melhor amiga de Mel Fronckowiack poderia ser uma tarefa perigosa muitas vezes. Deveria existir um plano de saúde específico para melhores amigas de Mel Fronckowiack? Não? Deveria. 
- Vocês realmente são de outro planeta! – ela quase gritou virando o corpo para trás de uma vez. – Como assim, Wyoming? Estão loucos? Isso é quase do outro lado do país, sabia?
 
- E isso é longe?
 
Chay também poderia ser bem perigoso fazendo perguntas idiotas com aquele jeito fofo que impedia quem quer que fosse de rebater com uma tirada sarcástica.
 
Mel não teve forças para resistir a
 Chay, ficando calada enquanto focava seus olhos nos dele como se estivesse hipnotizada, a tensão em seus ombros sumindo lentamente até ficar invisível e sorrindo para Chay que fizera o mesmo, ambos esquecendo que até minutos antes discutiam sobre a distância gritante entre Nova York e Wyoming. O sorriso de Mel aumentou ainda mais e sua mão se colocou nos cabelos, empurrando-os para trás quase como... Quase como se Mel estivesse flertando. O que era impossível. Mel não flertaria com um ET. Pelo menos eu esperava que não, mas não se pode ter certeza de nada quando se lida com Mel. Ela deu um sorriso radiante e eu arregalei os olhos. Sim, era possível. Ela estava flertando. 
- É bem longe. Não podemos levá-los até lá. Ambas temos trabalho na segunda-feira e não conseguiríamos fazer uma viagem de carro até Wyoming em apenas um dia. Em três até conseguiríamos, sem muitas paradas. – após minha sensata explicação feita quando percebi que
 Mel não responderia nada enquanto os olhos castanhos de Chay continuassem fixos nos dela. 
Backstreet Boys esguelavam algo sobre o sentido de ficar sozinho enquanto o silencio se instalava no carro.
 
- E o que faremos? –
 Arthur perguntou perdendo por alguns segundos o seu jeito terrivelmente metido e revelando uma preocupação que me fez o meu corpo reagir estranhamente, como se a preocupação que estava nele ecoasse em mim. – Não podemos ficar com a nave e não temos como chegar a Wyoming. A ARE pode nos pegar a qualquer momento, vulneráveis desta forma. 
Pela expressão de
 Chay, que voltara, finalmente, o olhar para Arthur, ele com certeza pensava a mesma coisa. Mel também tirou o olhar deles e encarou-me com compaixão pela situação dos dois aliens que praticamente adotáramos e apreensiva. 
Eu estava na mesma situação. Meu coração se apertava por não ter nenhuma solução coerente para aquele dilema em que eles se encontravam. Eu queria saber o que era a ARE, mas já imaginava que era algo quase como o MIB ou parecido. Que pegavam os ETs e os estudavam exaustivamente, mutilando e esperando para ver o que acontecia em seguida. Apenas pensar nisso já arrepiou-me inteira e me fez temer ainda mais por
 Arthur e Chay. 
- Bem, eu tenho uma solução.
 
Eu abri minha boca olhando para
 Mel com o maior temor. Ela não era conhecida por ter as melhores soluções para um problema, por isso me obriguei a respirar fundo enquanto perguntava-lhe qual a genial idéia. 
- Podemos esconder
 Arthur e Chay conosco. 
Se ela não estivesse sorrindo tanto, eu poderia ter xingado à
 Mel. Ela parecia ter achado a resposta perfeita, mas para mim isso não parecia tão perfeito. 
- Como assim? – perguntou
 Arthur interessado. 
Antes que eu pudesse chamar
 Mel de canto para que pudéssemos conversar melhor sobre isso antes de ela sair dando soluções a torto e a direito, ela explicou aos dois: 
- É bem simples. Nós escondemos vocês em nossas casas, cada uma fica com um de vocês, e colocamos umas roupas terrestres em vocês, inventamos uma desculpa qualquer e vocês ficam conosco.
 
Eu queria matar
 Mel e colocar um epitáfio bem esclarecedor no tumulo dela. Algo como “Por ser uma linguaruda estrelar”. Ela tinha minhocas na cabeça no lugar de neurônios? Só podia ser isso para ela poder sequer cogitar hospedarmos dois aliens, por mais gostosos que fossem, em nossas casas. Eram aliens! 
- Como o feriado de ação de graças é na sexta, poderíamos aproveitar para levá-los até Wyoming. O que acham?
 
- Por mim, tudo bem. Mas devemos ser bem cautelosos para que a ARE nem desconfie que estamos ainda por aqui.
 
Chay concordara efusivamente.
 Arthur dera de ombros como se não houvesse outra opção. Coisa que estava quase rachando a minha cabeça atrás de uma. Deveria haver uma segunda opção. Eu não teria que passar uma semana com Arthur ou Chay. E pela cara de Mel, com certeza eu teria que passar uma semana com Arthur, aguentando a sua loucura de alien metido.
Todos me encaravam no momento como se esperassem a minha resposta para aquilo. Não. Eu não queria passar uma semana com
 Arthur. Não tinha coragem o suficiente para tal. Passar uma semana com um alien era algo que ninguém em sã consciência diria sim. Tudo bem que Mel estava quase pulando com a probabilidade de isso acontecer, mas Mel não era uma pessoa que vivesse sempre em sã consciência. Muito menos nesse momento. 
Mas como eu rejeitaria isso sendo educada. Por isso inclinei a cabeça, pensativa, tentando pensar em um jeito elegante e educado de dizer não e acabar com aquela loucura toda.
 
Eu pensei em dizer que não tinha quartos extras no meu apartamento. Era válido. Mas
 Mel sabia que era mentira. Meu apartamento era pequeno, mas o meu sofá era um dos mais confortáveis que alguém poderia ver. Então era mais que obvio que se eu usasse essa desculpa, Mel se lembraria do sofá. 
Pensei em dizer que eu ficaria de plantão no jornal durante todo aquele período, mas era bem capaz de minha melhor amiga pedir que eu levasse
 Arthur comigo. E essa seria a última coisa que eu faria. 
A expressão “levar bolo em festa” valeria muito bem se eu levasse
 Arthur para o jornal. As mulheres da redação pareciam estar sempre ovulando e se vissem um homem como Arthur, pouco se importariam se ele era ou não desse planeta. Elas atacavam sem dó. E gostoso como Arthur era, eu apostava que até mesmo as mulheres da diagramação estariam caindo matando no minuto em que Arthur atravessasse a porta do jornal. 
Minhas desculpas estavam muito ruins, por isso inclinei ainda mais a cabeça para tentar pensar em algo que fosse totalmente irrefutável. Mas
 Mel agiu mais rápido abrindo aquela grande boca. 
- Se a
 Lua inclinou a cabeça desse jeito, isso é um sim. Podem crer. 
Quais são mesmo as leis para assassinato no estado de Nova York? Era bom que eu me lembrasse delas enquanto esganava minha melhor amiga. Que inferno! Eu não tinha concordado. Mas quando ela ligou o carro mais uma vez, manobrando e saindo do meio as estrada, batendo palminhas toda contente, fiquei com as palavras de negação presas na garganta, vendo ela dirigir mais para o lado direito da estrada.
 
Me joguei no banco como uma adolescente rebelde e mudei a estação do rádio, ouvindo uma banda com guitarras afinadas preencher o silencio com uma música que me era desconhecida, mas que dizia muito para mim no momento.
 
Por sorte,
 Mel também não conhecia a tal música e parecia muito ocupada fazendo planos enquanto dirigia, mantendo o carro no silencio e apenas a voz suave e rouca do vocalista dizendo coisas sobre esquecer tudo o que se sabia e dar uma chance ao futuro. 
A bateria da música acalmou as batidas revoltadas do meu coração, me fazendo levar em consideração esquecer tudo o que eu acreditava e dar uma chance aos extraterrestres no banco de trás. Eu precisava de pensamento positivo, pensar em
 Arthur e Chay apenas como pessoas que precisavam de ajuda no momento, vindos Sabe lá de onde. Talvez pensar como primos do Tenessee, quem sabe? 
Mas era um pouco impossível pensar em
 Arthur e Chay como os primos do Tenessee de dentes tortos e óculos fundo de garrafa. 
Recostei-me no banco, mais furiosa ainda enquanto a música agia dentro do meu ser, me deixando leve. Teria que me lembrar de comprar um CD daquela banda assim que voltássemos para Nova York. E lembrar, também, de escutá-lo o dia inteiro enquanto estivesse com
 Arthur. Seria a única chance de me manter relaxada. Não sabia o que tinha na voz rouca daquele vocalista que me lembrava o Springsteen, meu grande ídolo, mas sabia que era ela que eu iria usar para me manter sã ao lado de Arthur. 
Apenas ao mentalizar o nome dele, minha mão já começou o seu formigamento estranho. Deus, por que eu tinha que reagir daquele jeito àquele homem? Ergui meus olhos para o retrovisor e mais uma vez me vi presa naquela imensidão castanha. Aqueles olhos chocolates operavam uma mágica que me mesmerizava de uma maneira estranhamente boa.
 
Mel parecia mais contente a cada instante e cogitei dar um soco nela para que ela ficasse quieta. Maldita
 Mel que sempre tinha razão. 
Mil vezes malditos essas suas premonições idiotas que sempre se realizavam. Essas suas intuições babacas que já tinham dito que era só o começo.
 
Eu mesma sentia que era apenas o começo. E era por isso que eu estava me odiando tanto por reagir daquela forma idiota à
 Arthur sem nem ao menos conhecê-lo. 
Era só o começo. Se eu conhecia apenas aquela faceta metida e arrogante de
 Arthur e trocaramos apenas duas ou três frases, sempre muito rascantes, imagine quando ficássemos no mesmo apartamento. 
Tinha medo apenas de pensar.
 
E eu não me chamava mais
 Lua Blanco, se aquela história ainda não daria muito pano pra manga, como costumava dizer a minha mãe. 
Não apenas para mim, mas para
 Mel também. Se ela achava que eu não tinha percebido suas trocas de olhares com Chay no banco de trás e seus sorrisinhos tolos quando ele comentava alguma coisa com ela, sobre coisas totalmente sem importância, ela estava muito enganada. 
E como jornalista, eu sabia que o começo era a parte mais difícil de qualquer história, superada apenas pelo final.
 
E o que se pode esperar de uma historia com dois protagonistas ETs e duas terráqueas que estavam lentamente sucumbindo à atração desses tais alienígenas?
 
Tudo bem que eu não estava tão sucumbida assim. Eu só estava reagindo daquele jeito porque fazia anos que eu não via um cara tão gostoso na minha frente. Pensava até que a última vez que eu vira um cara tão gostoso fora quando o jornal me enviara para cobrir um desfile de moda e eu vira de perto alguns modelos de roupa intima. E isso já acontecera há uns três anos.
 
E esse era o estranho.
 Arthur nem ao menos estava de roupa intima para estar fazendo aquele estrago no meu autocontrole. 
Se ele continuasse com aqueles olhos chocolates fixos nos meus, eu poderia até mesmo esquecer que era uma pessoa controlada.
 
Exatamente por isso desviei os olhos do retrovisor e os fixei nas faixas da estrada que passavam por mim com rapidez, me deixando tonta, mas não tão tonta como
 Arthur. 
Eu levara anos construindo aquele controle impecável e nem pensar que eu deixaria que ele se esvaísse apenas porque eu havia conhecido o cara mais sensual e atraente que eu poderia conhecer em muitos anos.
 
Qual seria o final dessa história?
 
Era isso que me preocupava. Eu sempre lia as duas últimas páginas de um livro para saber o final da história. Eu nunca gostara de não saber o que eu iria encontrar no final.
 
Quando eu e
 Mel nos matriculamos na faculdade, eu perguntei antes mesmo de frequentar a primeira aula quais seriam as aulas que teria no último ano e como era a formatura. Se eu não soubesse o final da historia, o final de tudo, eu não gostava de brincar. 
Eu odiava jogos exatamente por isso. Nunca se sabia quem ganharia ou perderia no fim. Eu poderia estar com sorte e apostar no fim de jogo certo, ou simplesmente poderia estar completamente errada e perder duas vezes.
 
Com
 Arthur eu não tinha como ler as duas últimas páginas. Não tinha como perguntar que matérias teriam no último ano. 
Lidar com ele seria mais como um jogo, onde eu não saberia se ganharia e ficaria com ele por uma semana mantendo sempre o meu controle e depois de passada essa excitação inicial ela simplesmente passaria e ele não significaria nada mais que um extraterrestre que ficava comigo até eu ter tempo de levá-lo para Wyoming.
 
Ou poderia perder.
 
Poderia sucumbir de vez e aquela excitação não passar. Poderia me ver presa naquele mar de chocolate e nunca mais ser capaz de sair dele. Poderia perder a minha cabeça. Poderia ser corrompida por aquela arrogância e nem ao menos me importar com ela.
 
E o que mais me preocupava não era não saber se podia ganhar ou perder.
 
Era a maldita intuição de que se o começo já era tão estranho e tão maluco daquela forma, o final podia ser bem pior.
 
Bem mais confuso, bem mais estranho, bem mais maluco.
 
E mais imprevisível.
 
E eu odiava não poder ter o controle e prever as coisas antes que elas acontecessem.
 


                                                                                                                 Direitos Autoriais: Elle S.

12 comentários:

  1. Essa web esta simplesmente demais
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    1. Posta mais eu to amando essa web please !!!!!!

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  2. PERFEITA MAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIS

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  3. posta mais essa web está perfeita!

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  4. posta mais por favor de mais a web !!!! posta que eu quero ver a lua dormendo com arthur que fofo

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  5. Estou amando essa web.Posta Mais

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  6. Posta mais pf! Estou amando esta web!

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  7. POSTA MAIS POR FAVOR JÁ TO COMEÇANDO A FICAR LUCY DE TANTO QUE EU QUERO ESTE CAPITULO.POR FAVOR POSTA MAIS!

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