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04/08/2012

"Contato Imediato"

                                                                      Capitulo 5
               



Cinco 

Eu não sabia que
 Mel era capaz de dirigir a mais de 120 por hora, mas ela provou isso quando, em menos de dez minutos, chegamos à Big Aple lindda e iluminada.
Eu amava a minha cidade com todo o meu coração. Adorava as luzes faiscantes, o fato de que a cidade nunca dormia, a mistura de tantas etnias onde nas ruas eu poderia ver uma lavanderia de imigrantes chineses ao lado de uma loja de esfihas de um árabe.
 
Como eu e
 Mel não éramos nada orgulhosas, nos viramos para trás estudando os aliens no banco traseiro para vermos se eles estavam impressionados com a quantidade de luzes brilhantes que a nossa cidade mostrava. Mas ao contrário do que esperávamos eles pareceram mais incomodados com as luzes que verdadeiramente impressionados.
Mesmo amanhecendo, Nova York conseguia ser iluminada. As cores vinham de todos os lados deixando a cidade ainda mais bonita. Os festeiros voltavam para a casa se apoiando e segurando os sapatos nas mãos, mostrando o quanto as noites de sábado poderiam ser agitadas na cidade que nunca dorme. Os mais esportivos já começavam as suas corridas matinais, me deixando com preguiça apenas de vê-los.
 
E para provar que Nova York era Nova York, enfrentamos o nosso primeiro congestionamento minutos depois de entrarmos na cidade. Eu gostava daquilo. Gostava do cheiro da cidade, uma mistura de tantas coisas que a cada minuto algo diferente chegava ao seu olfato.
O congestionamento continuava monstruoso e agora o tema de Friends tocava no rádio me animando um pouco. The Rembrants enchia o carro e eu não pude evitar cantar junto enquanto o carro continuava parado atrás de muitos outros, esperando o nosso momento para pegar a saída para Village.
- Bem, - começou
 Mel virando-se para trás enquanto eu ainda olhava para os carros à nossa frente cantando que estaria lá para quem quer que fosse, sem me preocupar com o quanto eu era desafinada. – Temos que nos separar agora. O de vocês que for ficar com a Lua ficará no Greenwich Village, é um bairro bem legal, não precisam temer. E o que ficará comigo ficará no Brooklyn, não se preocupem, a minha vizinhança não é tão ruim como mostravam naquele seriado do Chris Rock, ok?
Mel gostava de dizer que eu era uma tapada, mas acho que as vezes ela não se olhava no espelho. Será que ela não percebera que se os aliens nem ao menos sabiam onde ficava Wyoming, como eles saberiam da reputação do Brooklyn?
Continuei cantando para não dizer nada a ela e ser mal educada na frente dos nossos convidados. Se é que eu tinha convidado alguém.
- E então, como vai ser?
- Eu posso ficar com
 Lua. – disse Arthur como se pouco se importasse. 
Meu coração disparou e mordi minha língua quase a arrancando a dentadas para que eu não dissesse nada sobre isso. Eu não esperava por aquilo, eu realmente achava que ele iria ir para o Brooklyn com
 Mel, era mais a cara dele.
Mais perigoso, mais misterioso e mais atraente aos desavisados.
Eu conseguiria controlar a minha mente se eu olhasse nos olhos de
 Chay por uma semana, não nos de Arthur.
- Seu pé de breque! – disse
 Mel com a cabeça para fora da janela gritando com o dono de um sedã preto que não queria andar, fazendo com que o homem colocasse o dedo para fora, fazendo um gesto feio para ela. – O que houve?
- Nada demais,
 Arthur disse que vai ficar com a Lua por esses dias. Então espero que não se importe de eu ficar com você, Mel.
Eu quis apertar
 Chay por falar daquele jeito tão fofo. Ele falava o nome dela do mesmo jeito que o falecido pai dela falava. O Sr. Fronckowiack era filho de franceses e dera o nome de sua avó para a única filha e apenas ele sabia pronunciar o nome de Mel daquela forma tão elegante, que ele dizia que era a forma certa de pronunciar.
- Perfeito.
O sorriso de
 Mel era enorme, talvez ela tenha pensado a mesma coisa que eu, lembrando do pai e contente por mais alguém no mundo alem de sua mãe saber falar o seu nome daquele jeito tão lindo.
- Isso é bom porque Ryan é do tamanho de
 Arthur, então acho que as roupas dele servirão nele. Não se preocupe pois Ryan sempre teve bom gosto, a prova disso é a Lua, não é Lua?
Assenti com a cabeça e olhei para o corpo de
 Arthur, tentando desesperadamente olhar de um modo profissional como uma simples vendedora olharia para saber qual o tamanho dele e se ele vestiria o mesmo numero que Ryan, mas não consegui pensar se as roupas velhas que meu irmão Ryan deixara no meu armário eram do numero de Arthur. Seu peito amplo chamou a minha atenção, seguido dos feixes de músculos que eram simplesmente um convite para as palmas da minha mão. Foquei-me mais uma vez na tarefa de ver se as roupas serviriam. Talvez elas ficassem um pouco apertadas nos braços. Ryan não tinha todos aqueles músculos, tão deliciosamente esculpidos como Arthur o tinha.
- Humm... Por que não descem aqui,
 Lua? – Mel tirou-me de meu transe momentâneo, me obrigando a olhar para ela que estava apoiada no volante esperando a boa vontade do transito tão imprevisível de Nova York. – Fica mais perto para vocês pegar um trem e irem para casa do que eu conseguir manobrar e fazer o retorno para Village. Pode estar cedo, mas a MacDougal deve estar um inferno, já. Se aqui está assim, não quero nem imaginar como deve estar na MacDougal. Por isso eu...
Tirei logo o meu cinto de segurança, abrindo a porta para sair o mais rápido possível e querendo fugir da fala ininterrupta de
 Mel. Ela entendeu que eu já havia ouvido o suficiente e destravou o porta malas para que eu tirasse a minha mochila de lá. Não percebi que ela já destravara as portas traseitas também até que olhei para Arthur que estava ao meu lado tirando a bolsa de minhas mãos, a colocando nos ombros.
Tentei puxá-la de suas mãos e disse entre os dentes que eu não precisava que ele a levasse para mim, com mais um puxão, dessa vez mais rude que quase tirou meus pés do chão para puxar a mochila de seu ombro, que estava quase quinze centímetros acima de minha cabeça.
- Dizem que é o que homens educados fazem no seu mundo. – a voz dele era cheia de desdém, como se eu fosse uma idiota e as regras de boa educação do “meu mundo” mais idiotas ainda.
- Bem dito. Mas tem dois erros na sua frase.
Ele me encarou confuso enquanto eu puxava a mochila de suas mãos e a colocava no meu ombro com raiva.
- Você não é um homem. Menos ainda educado.
Depois que a mochila estava fora de perigo nos meus braços e ele estampava uma expressão indignada, procurando um insulto maior do que eu lhe dissera, fui até a janela da frente e beijei o rosto de
 Mel prometendo que ligaria assim que chegasse em casa. 
Ela prometeu o mesmo, sabendo o quanto eu era preocupada com o fato de ela morar no Brooklyn. Brooklyn me dava muito medo às vezes, por isso eu tomava todo cuidado possível quando ia visitar
 Mel. E assim que eu colocava os pés lá, meu medo se tornava em empolgação com as boates legais que existiam por lá.
Olhei para
 Chay, me despedindo com um aceno, que ele respondeu rapidamente para continuar olhando fascinado para os botões do rádio morrendo de vontade de tocá-los. Ele dividia o seu olhar entre os botões coloridos do autorrádio de Mel e para a própria Mel, não menos fascinado.
Depois das promessas de ligações futuras, eu me virei para ir embora, escutando
 Mel me chamar, fazendo-me virar a cabeça para ela.
- Seja legal com o
 Arthur. – ela disse com um sorriso radiante, depois fez um sinal para mim que me aproximar do carro, o que fiz, escutando um dos maiores absurdos de Mel. E isso porque em nossos anos de amizade, eu escutei muita besteira vinda de Mel. – Pode deixar que eu também serei bem legal com o Chay. Só serei má se ele pedir. Você sabe, alguns preferem quando eu sou malvada e...
- Tchau,
 Mel. Vá com Deus.
Me despedi, dando as costas para ela e quase correndo para a calçada, escutando ao longe as gargalhadas dela. Eu não achara aquilo nada engraçado.
Atravessei a rua em direção ao SoHo, pouco me importando se
 Arthur estava me seguindo ou não. Eu não obedeceria Mel enquanto não tomasse um bom café. Eu não conseguia ser legal nem comigo mesma sem cafeína no sangue.
Ser legal com
 Arthur exigiria muito mais canecas do que o usual.
Café era algo que me despertava para o mundo. Sem ele eu poderia ser o que as pessoas na redação chamam de “mal comida”. Que eram simplesmente aquelas pessoas que vivem mal humoradas e xingam o mundo por estarem com a vida sexual em atraso. O medo de ser chamada de “mal comida” era o que me fazia tomar vários litros de café diário. Isso me garantia um bom humor que não os permitia se perguntar como andaria a minha vida sexual. Que era um grande problema simplesmente porque ela não andava. Parecia mais se arrastar com um daqueles andadores de idosos do que literalmente andar.
Eram quase cinco e o sol já começava a despontar de um lado da cidade. Era melhor eu começar o meu dia como tinha que ser. Com uma grande e funda caneca de café. Café preto e quente. De preferência extraforte se eu realmente fosse bancar a babá do alien por todo o domingo.
Nem em sonhos eu cuidaria dele por toda a semana. Faria com ele como um bebe. Quando eu estivesse em casa, tudo certo, eu ficaria pajeando ele, mas quando eu precisasse trabalhar, eu simplesmente iria levá-lo para ficar com
 Mel. Não fora ela que tivera a brilhante idéia de cuidarmos de aliens que nunca tínhamos visto antes? Então ela que arcasse com as conseqüências.
Pensei em passar numa cafeteria em estilo italiano no caminho para casa, que eu sempre freqüentava. Adoraria um bom expresso completo da Cafeteria do Ginno.
 
Mas quando olhei para o lado e vi
 Arthur com aquelas roupas, decidi que era melhor não me atrever ir muito longe, já que quando chegamos ao Washington Square Park, as pessoas olhavam para nós com estranheza, e decidi que deveríamos chegar em casa o mais rápido possível para ele trocar aquelas roupas.
Mas não era só para ele que as pessoas estavam olhando estranho. Eu estava toda descabelada, com as roupas desmazeladas e com uma grande mancha de fuligem no meu rosto. Quase tomei um susto quando vi meu reflexo na vitrine de uma joalheria.
 Arthur parou ao meu lado, ainda em silencio, desde que eu dissera que ele não era homem, e eu vi que estávamos fazendo realmente, um par assombroso. Ele com aquelas roupas estranhas e cintilantes e o enorme curativo na sobrancelha, estava quase mais assustador que eu.
Graças a Deus, do Washington Park até o meu prédio não era muito longe. Apenas mais um ou dois grupos de olhadas e finalmente pude cumprimentar Jesus, o porteiro latino de meu prédio.
 Arthur fez um meneio de cabeça educado que serviu como cumprimento e assim como eu já sabia que ele iria fazer, Jesus perguntou o que nos tinha acontecido para estarmos daquela forma.
- Foi assalto, señorita
 Blanco?
- Não, Jesus. Eu e
 Mel fomos acampar com nossos... humm... Amigos – eu nunca tinha aprendido a mentir bem, e naquele momento estava provando isso vigorosamente. – E tivemos um acidente com a barraca, mas nada demais.
- Que Bueno. Fico contente por estar bíen.
- Gracias.
 
Agradeci no idioma dele, sabendo o quanto ele ficava contente quando era respondido em espanhol e já caminhei em direção às escadas com
 Arthur em meu encalço. Eu já tinha desistido de acionar o elevador há muito tempo, já sabendo que ele nunca funcionava e que eu precisava de muita paciência com ele, decidira há alguns anos que as escadas seriam a minha solução.
Bem, na verdade só decidi isso porque morava no segundo andar e o lance de escadas não era muito alto, se eu morasse no terceiro ou quarto, então eu realmente encararia o elevador com todo o resquício de paciência que me sobrava depois de dias de cão no trabalho.
Quando vi o numero 31 na porta, respirei aliviada. Era uma sensação que eu sempre tinha quando chegava em casa. A sensação de que tudo terminava, mas dessa vez fora diferente. Quando eu abri a porta e deixei que
 Arthur entrasse primeiro senti algo estranho. Algo que eu não saberia explicar, mesmo que quisesse.
Joguei a mochila no sofá, pouco me importando se ela caíra no chão como normalmente fazia ou não. Eu precisava de café. Mas não fui tão mal educada com a minha “visita” extraterrestre e murmurei um “fique à vontade” como eu sei que minha mãe mandaria eu fazer. Ou como a boa educação manda. Afinal ele poderia ser um ET mal educado, mas isso não significava que eu seria também.
Assim que cheguei à cozinha, liguei a cafeteira elétrica, contente por vê-la já com a água. Fiz um barulho aliviado por ter café quente e pronto em alguns minutos e já preparei a minha caneca tamanho família para poder beber um copo digno de café. Apoiei-me no balcão enquanto escutava o barulho característico e tão familiar para mim da cafeteira trabalhando e me dei ao luxo de observar
 Arthur por alguns minutos. Ele olhava para a estante, com as duas mãos para trás, como se controlasse um impulso qualquer de tocar as imagens e os aparelhos que tinham em cima dela.
Haviam várias fotos minhas em cima da estante, e era para elas que a atenção de
 Arthur estava voltada naquele momento. Fotos da infância, do colégio, da formatura, com minha família e em quase todas elas Mel estava presente. As vezes com um dente faltando e vestida de fantasma como nas fotos de infância, as vezes com um grande sistema solar segurado em conjunto comigo.
Sorri ao lembrar como
 Mel estava presente em todos os momentos de minha vida, lembrei-me especialmente do colegial, quando participávamos do grupo de astronomia e pensávamos que ETs era apenas invenção do Spielberg. Minha viagem mental foi interrompida por Arthur que me chamou, fazendo um comentário qualquer sobre a minha casa. Foquei minha atenção nele e pedi que repetisse o que havia dito, o que ele fez de pronto.
- Sua casa parece com você. – disse olhando para as minhas queridas cortinas arroxeadas e minhas almofadas com capa florida, escolhidas com tanto cuidado para deixarem a casa mais feliz.
Pela cara que
 Arthur fazia, decidi que era melhor não perguntar porquê ele pensava aquilo. Era bem melhor levar aquilo como um elogio, ou como um comentário bom. Eu não discutiria comArthur até que bebesse o meu café. Era como tomar vacina contra febre amarela antes de visitar um país infestado pela doença. Não que eu estivesse comparando Arthur com alguma doença, mas se fossemos pensar em como ele era chato, eu compararia ele mais com uma dor de dente ou uma cólica bem dada do que como uma doença como febre amarela.
Mas ao que parecia, ele sim estava com vontade de discutir.
- Ela é tão... Fofinha. – fazendo uma careta ao pronunciar a palavra “fofinha” ele conseguiu despertar a minha raiva, me fazendo olhar em volta reparando em todos os pontos da minha casa. Ela parecia comigo mesmo. Mas interiormente. Era uma mistura de tudo o que eu gostava, quadros com aquarelas em algumas paredes, cores sempre claras em tudo e algumas rendas e babados aqui e ali, apenas para mostrar a mim mesma o quanto eu era romântica. Para não me deixar esquecer de que apesar de controlada e fazer de tudo para afastar os homens, eu sempre seria uma romântica.
Olhei para ele superiormente, como que provando que o insulto não me atingia e joguei o cabelo, voltando-me para a cafeteira que fizera uns ruídos avisando-me que o café já estava pronto. Servi minha caneca com bastante café e nem me preocupei em colocar açúcar, apoiei-me no balcão vendo-o sentar-se com cuidado no meu sofá como se fosse um alçapão pronto para sugá-lo.
Não falamos nada. Talvez ele estivesse decepcionado pelo insulto não ter me atingido e prestei atenção na minha caneca, deixando que minha cabeça viajasse para o trabalho e calculando as horas de viagem para Wyoming. Em média dois dias, sem paradas. Mas conhecendo
 Mel, ela adoraria parar em alguns lugares, então eu estimava três dias de viagem. O feriado e o fim de semana. Sim, daria tempo. O único problema era agüentar Arthur por um mês. E pelas suas palavras seguintes, não duvidava que seria uma das tarefas mais difíceis de minha vida.
- Eu posso não ser um terráqueo,
 Lua, mas ainda preciso de comida para viver, ok?
- Desculpa, não tenho ração extraterrestre em casa, nem tempo de ir a Marte comprar. Bem, te matar de fome me parece um bom plano.
Sarcasmo sempre era a minha arma quando eu estava desconfortável demais, e naquele momento era exatamente o caso. Eu não poderia estar mais desconfortável com aquele alien gostosa sentado displicentemente no meu sofá enquanto me assistia beber meu café. Só para enfezá-lo mais ainda, enchi a caneca mais um pouco, quase transbordando o liquido.
- Você não me conhece mesmo,
 Lua Blanco. – ele disse levantando-se e aproximando-se lentamente o seu corpo do balcão e tomando minha caneca de minhas mãos, bebendo todo o conteúdo forte e quente de um só gole, me fazendo encará-lo impressionada, enquanto ele colocava a caneca em minhas mãos, de volta, apoiando-se ao balcão mais displicentemente possível. – É, até que vocês têm umas coisas bem apetitosas na Terra.
Obriguei meu corpo a não pensar naquilo como uma indireta, já que ele olhava o meu corpo e não a caneca em minhas mãos. O seu olhar, mesmo desdenhoso, estava aquecendo-me internamente, me deixando quase em febre.
O olhar dele subiu de meu corpo para meus olhos, fixando-se neles me deixando ainda mais perturbada.
- Eu... Hum... – disse me afastando do balcão e deixando a caneca por cima dela, procurando me afastar do campo de visão de
 Arthur o mais rápido possível. – Vou buscar umas roupas do Ryan para você. – Er... Espere aqui.
Ele deu um sorriso sarcástico, parecendo contente em me ver naquela situação tão descontrolada e fechei a porta do quarto com força desnecessária, me apoiando na mesma e colocando a cabeça encostada nela, respirando pausadamente, lentamente e com vagarosidade para ver se daquela forma conseguia ter o meu controle de volta.
 
Quando o meu coração já voltara a bater no ritmo normal, abri uma gaveta isolada do meu guarda roupa onde deixava as roupas de Ryan. Meu irmão era um caso sério com comida. Ele era uma daquelas pessoas que não conseguem comer nada sem se sujar, nem que fosse um simples sanduíche com catchup ou sorvete. Certo que as manchas mais decorrentes eram as de manteiga de amendoim, mas ele sempre conseguia sujar a calça ou a camisa com o que estava comendo.
Como era um guloso, Ryan sempre deixava uma peça ou duas de roupas em minha casa para os seus lanchinhos rápidos quando vinha me visitar.
Escolhi uma camisa xadrez, uma camiseta branca e uma calça jeans desbotada que estavam jogadas desarrumadas na gaveta. Elas pareciam ser as maiores peças e eu estava preocupada com o tamanho de
 Arthur e Ryan não serem tão parecidos.
Achei os tênis de Ryan que estavam no fundo de meu armário mostrando o quanto Ryan conseguia ser folgado em suas visitinhas. O estilo despojado do tênis combinava com as roupas em minhas mãos, mas mesmo que não combinassem seria o que
 Arthur iria vestir. Eu não tinha outra coisa e a menos que ele quisesse ficar pelado, ele teria que vestir aquilo. Não, eu não deixaria Arthur ficar pelado. Se de roupas ele já era um desafio à minha sanidade, pelado eu não seria capaz nem de respirar.
Levei as roupas para a cozinha e as coloquei em cima do balcão para que ele se trocasse. Ele ergueu uma sobrancelha de um jeito irônico, me deixando impaciente.
- Vou vestir isso mesmo?
- Quer vestir o quê? Um traje de astronauta? Um pijama de navezinhas espaciais? – empurrei ainda mais na direção dele as peças que estavam no balcão, já sem nenhuma paciência, o que me fazia falar as coisas sem pensar. – Quer vestir, veste. Não quer, fique pelado.
- E esse “fique pelado” é composto de que trajes?
Ele me olhava realmente curioso, enquanto eu engolia em seco. Nas aulas de primeiro socorros eu aprendera que ataques cardíacos tinham níveis. Se
 Arthur ficasse nu em minha frente eu teria um ataque nível oito, no mínimo. Olhei para ele sem conter a imaginação que me fazia vê-lo nu em pêlos. Por isso me obriguei a concentrar-me em alguma parte de seu corpo que nada tivesse a ver com sexualidade. Meu olhar parou em suas orelhas, contente por ninguém ter orelhas sexies. Era algo que ninguém, nem mesmo alguém com tantos atrativos sexuais como Arthur, poderia ter.
- É isso ou nada. – expliquei.
- Ok. Vestirei isso. Só espero que eu não tenha nenhuma alergia com esses tecidos. Nem ao menos sei quem é esse tal de Ryan e o que ele fez com essas roupas...
Entrei na frente dele com impetuosidade, saindo de trás de meu escudo, vulgo balcão de mármore, encarando-o brava demais por ter dito aquelas palavras. Não gostava nem um pouco quando mexiam com meu irmão. Eu já perdera as contas de quantas vezes eu brigara na escola por causa dele. Apesar de Ryan ser o mais velho, eu sempre entrara em brigas quando o assunto era ele. Ryan era a única pessoa que conseguia fazer com que eu perdesse o controle e mostrar a minha raiva que eu lutava para guardar.
- Você vai vestir isso nem que eu tenha que eu tenha que vestir em você, entendeu? – ele ergueu a sobrancelha mais uma vez, desafiador. Mas dessa vez eu estava com raiva demais para me imaginar colocando aquelas roupas nele. – Isso é tecido, como qualquer outro. E é mais fácil você – disse aprontando para o peito dele – ter alguma doença que meu irmão.
- Então Ryan é seu irmão?
Ao contrário do olhar sarcástico que eu pensei que ele faria,
 Arthur apenas me olhou confuso, me deixando confusa e mais impaciente do que eu já estava.
- Claro! O que pensou que ele era? Meu noivo?
Ele balançou a cabeça, meio tenso, enquanto eu ria da cara dele.
- Coisa parecida. Não sei como chamam seus companheiros aqui na Terra.
- Companheiros? – Eu havia perdido a raiva e não conseguia entender aonde ele queria chegar.
 Arthur aproximava-se olhando nos meus olhos com suas Iris tão intensas e brilhantes que me lembravam chocolate. 
Eu ficava completamente perdida naquele olhar. Ele me sondava de uma maneira tão desavergonhada que parecia que o seu objetivo era realmente me fazer perder o controle. De uma maneira deliberada. Perder o controle não pela raiva, pelo desejo.
 
Seus olhos ficaram em segundo plano para mim naquele momento. Sim, seus olhos eram esplendidos, mas agora sua boca de lábios tão sensuais, tão beijáveis era o que atraia os meus olhos e me fazia salivar de vontade de ter aqueles lábios nos meus.
 
Aqueles lábios que tanto estavam me afetando se abriram e eu senti um calor maluco me percorrer de alto a baixo, quase como se uma onda de desejo estivesse me banhando. Era inexplicável.
O seu nariz arrebitado que dava aquele rosto ares de ainda mais arrogância também chamaram a minha atenção. O seu rosto era marcante. Os cabelos que caiam pela testa fez meus dedos coçarem de vontade de tocá-los. Aquelas mechas não pareciam ser verdadeiras. Aquela cor diferente era tão intensa que eu não me lembrava de ter visto nada parecido antes.
- Sei que não tem um companheiro,
 Lua, e isso é tudo o que eu precisava saber.
- E você nem me conhece,
 Arthur. – disse a ele as palavras que ele tinha usado contra mim na floresta, fazendo questão de usar a mesma entonação e a mesma arrogância que ele usara no momento.
- Aí que você se engana,
 Lua Blanco. Eu te conheço melhor do que pensa, porque eu sei tudo o que passa dentro da sua cabeça. – imediatamente senti uma pressão estranha na cabeça como se uma mão tivesse sido colocada em cima dela, acariciando os meus cabelos e escorregando em direção ao meu rosto. – Sei ler as expressões de seu rosto. – A mão invisível chegou ao meu colo, fazendo a volta pelos seios e parando na cintura, trilhando um caminho de lava por onde ela passou. – Sua linguagem corporal não me é desconhecida. Eu te conheço, Lua. 
E pegando as roupas de cima do balcão e saiu na direção do banheiro sem eu nem ao menos precisar indicar o caminho para ele. Assim que a porta do banheiro se fechou, corri para a torneira da pia e molhei minha mão, colocando-a na nuca, para me esfriar. Eu olhei em volta tentando provar a mim mesma que aquilo não era mais que uma alucinação.
Eu estava cansada, minha mente estava respondendo a presença daquele cara tão gostoso e o sono começava a enviar comandos estranhos para o meu cérebro. Era isso. Não podia ser mais que isso. Como aquela mão poderia me acariciar sendo eu vê-la.
 Arthur não era capaz de fazer aquilo com a mente, era? Não, claro que não.
Os olhos dele me deixaram confusa, me deixaram quente demais.
Abri a geladeira ávida por água gelada e peguei uma garrafa bebendo quase seu conteúdo todo de uma vez só. Encostei-me no balcão, nervosa demais para parar e pé sozinha. Se me pedissem para soletrar o meu nome naquele momento, eu não saberia fazer isso.
Boas horas de sono, um bom banho e conseguiria tirar
 Arthur de minha cabeça. A não ser que a farmácia entregasse soro do esquecimento a domicilio, se não eu estava perdida.
Meus olhos se fecharam, fazendo meu corpo relaxar e percebi que as horas de sono deveriam vir primeiro que tudo. Olhei na direção do banheiro, esperando
 Arthur sair de lá, mas não ouvi nenhum barulho que sinalizasse que ele já estava saindo de lá.
Minhas pernas bambearam, mesmo eu estando escorada contra o balcão e meus olhos se fecharam. O café não fora o suficiente para me manter acordada, eu estava mesmo com sono.
Andei trançando as pernas em direção ao sofá que estava mais perto que minha cama e me joguei no de dois lugares sem ter a preocupação de tirar meus tênis sujos de areia ou de me deitar no sofá maior para evitar uma dor nas costas.
Conforto e limpeza eram coisas que estavam de minha mente no momento. Eu só queria dormir.
Queria relaxar e entrar no mundo dos sonhos o mais rápido possível, o que, de acordo com o meu cansaço, não demoraria muito.
 
Deitei com as costas para cima, do jeito que eu adorava me deitar, apoiando o rosto no travesseiro, ou no encosto do sofá, como era o caso no momento e senti o meu corpo relaxar por inteiro.
Logo senti mão relaxantes tocarem meus ombros e minhas costas como em uma daquelas massagens nas quais eu pagava os olhos da cara e não resolviam muita coisa.
- Estou vestido,
 Lua. – ouvi a voz de Arthur na minha orelha, me arrepiando por inteira. Era realmente bom que ele estivesse vestido, porque falando no meu ouvido naquele tom rouco e baixo e massageando as minhas costas, se ele estivesse nu, seria um prato cheio e tentador para uma moça solteira e na abstinência como eu. – Quer que eu te leve para cama?
- Se você realmente soubesse o que essa expressão significa aqui na Terra não me ofereceria.
Eu até riria da minha piada infame se eu não estivesse cansada e com tanto sono para fazer mais que arrepiar sob os toques dele e responder com a voz mais sonolenta possível às suas perguntas.
Fechei os olhos mais uma vez e senti meu corpo ser virado e percebi que
 Arthur me pegava no colo, caminhando comigo para o meu quarto, deitando-me em minha cama.
- Não. – protestei fraca, tentando, inutilmente, não me aconchegar na cama – Estou suja, com cheiro de mar e tem areia em...
- Apenas durma.
- Mas você...
- Estarei bem aqui quando você acordar. – ele disse enquanto tirava meus tênis e cobria-me com a minha colcha de fuxicos coloridos feita pela minha mãe. Sorri para ele e senti sua mão em meu rosto. – Durma. Sonhe com as estrelas.
Eu realmente dormi. E sonhei. Mas não foram estrelas que apareceram em meus sonhos. Foram íris chocolates maravilhosas que dominaram os meus sonhos. Assim como o dono delas. E suas mãos, e seus lábios e... ele por inteiro.



                                                                                                                 Direitos Autoriais: Elle S.
Deixem comentários se estão gostando.. Quem sabe posto ainda hoje mais?!

10 comentários:

  1. Posta mais siim amo quando tem post dessa web .... Vai postar mais ??

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  2. Ele por inteiro com vestes Srta.Blanco? Eu to amando essa web, é uma sacanagem deixar minha pessoa curiosa ):

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  3. nossa que imaginacao de lua to adorando a web posta mais por favor ++++++++++++++++++

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  4. MAAAAAAAAAAAAAAIS Brubs você queria mandar a Amanda pra cadeia por deixar a Gente curiosa então Você vai fazer companhia a Elaa KKKKKKKKKK" eu te Maando pra lá viuu se eu Ter um Ataque fulminante do Coração CULPA sua AAAH :*

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  5. Posta mais pf! Sua web é maravilhosa,estou amando mto.

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