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11/08/2012

"Contato Imediato"

                                           Capitulo 11
                         

Onze 

Mel já havia dormido depois de tantas guloseimas que havia comido.
 Chay já estava meio que babando no vidro da janela ao meu lado, de um jeito que seria nojento se ele não fosse tão fofo. Dei mais um gole em meu refrigerante de cola, mais do que necessitada dele para continuar prestando atenção na estrada. Eu já estava cansada dela. Não aguentava mais ver estrada. Estava atravessando Ohio no máximo da velocidade permitida e estava até com os olhos doendo de só ver estrada e placas de segurança e boas vindas passarem como um borrão e ficarem para trás. O momento de pararmos estava proximo, afinal, meus chocolates estavam acabando, a gasolina estava na reserva, ou até um pouco mais além e os meus olhos já estavam se fechando. Eu estava acabada. Literalmente. 
E pensar no beijo de
 Arthur estava tornando tudo ainda pior. Minha mente insistia em me dar vários boletins de lembrança do quanto aquele beijo fora bom e entorpecente. E podia jurar que estava entorpecida apenas com as recordações. Além do restinho de chocolate que estava no painel à minha frente, o rádio ligado em um volume baixo, ajudava a me distrair e continuar acordada. Ou pelo menos a ficar menos delirante. Olhei para trás para ver se Mel estava em condições de pegar o volante para eu descansar um pouco, mas ela não estava nada confortável, dormindo toda torta. Era fato que teríamos que parar em algum hotel. Necessário, mas não algo que eu quisesse. Não tinha tempo para desperdiçar. Tinha que levarArthur de volta para o planeta dele o mais rápido possível. Eu não poderia correr o risco de ser beijada novamente. Eu não seria capaz de resistir às emoções daquela próxima vez. E a última coisa que eu queria era me atracar com algum alien. Mesmo que este fosse o delicioso e maravilhoso Arthur. 
O rádio estava tocando várias baladas e músicas melosas para ajudar os casais a se pegarem melhor de madrugada. Ou ajudar os insones com dor de cotovelo. No meu caso, os insones. A voz de uma mulher invadiu o carro de uma maneira quase hipnótica. Sua voz era suave e o volume baixo deixava a música ainda mais perfeita. Ela cantava sobre nunca deixar alguém e implorava para que o cara a deixasse ser sua mulher.
 
Eu tentei não olhar pelo retrovisor quando a letra da música entrou por meus ouvidos e reverberou em meu coração. A música dizia tanto para mim. Esperei que
 Arthur estivesse dormindo, ou ao menos cochilando como estava momentos antes, mas ao contrário do que eu pensava seus olhos estavam abertos e ele olhava para o teto do carro, batendo as mãos no joelho ao ritmo da música suave que estava envolvendo-nos. 
Voltei minha atenção para frente, ainda ouvindo a mulher implorar e chorar ao seu homem, quando senti uma vontade feroz de virar a cabeça para trás. Como se algo me mandasse encarar
 Arthur. 
Como não era nenhuma motorista imprudente, ergui os olhos para o retrovisor e os meus olhos se fixaram nos dele por alguns segundos que pareceram até horas. Suas orbes castanhas me deixavam em transe, um transe tão bom que por momentos, até senti meu corpo ficar mais quente, apenas com o nosso contato visual. Mas dessa vez não era como todas as outras vezes. Eu sentia algo estranho acontecer comigo.
 
Os nossos olhos estavam fixos um no outro, mas tive que lutar para não fechar os meus. Afinal, naquele momento eu sentia uma coisa alucinante. Sentia lábios invisíveis em meu pescoço, beijando e sugando, enquanto mãos fortes e firmes se perdiam por todo o meu corpo, deixando-o mais quente a cada toque, assim como deixava a minha respiração mais e mais ofegante.
Eu devia prestar atenção na estrada. Eu era uma motorista incrível e me orgulhava demais disso, mas no momento eu estava pouco me lixando para estrada e volante. Meus olhos não conseguiam se voltar para a pista à minha frente. Tudo o que meus olhos sabiam encarar eram os de
 Arthur , e eu não estava achando isso nem um pouco ruim. 
Volver meus olhos dos dele estava quase para uma missão impossível. Eu arfei mais profundamente quando os lábios que avançavam pelo meu corpo, viraram um pouco a direção, chegando ao meu colo, enquanto as mãos invisíveis acariciavam a minha cintura, passando rapidamente pelo meu colo, depois apertando a minha coxa com força em seguida. Sem tirar os olhos dos de
 Arthur , inclinei meu corpo contra o banco quente do carro e abri a boca querendo gemer ou gritar do mais puro êxtase, mas eu estava louca demais para sequer pensar em uma frase para dizer. Nem mesmo a palavra demais conseguia sair de minha boca, apenas gemidos que eu nem ao menos pensava em conter. 
Arqueei-me ainda mais no banco, sem perder as orbes chocolates de vista, sequer por um momento. Eu tinha certeza que era
 Arthur que estava fazendo aquilo comigo. Não tinha prova alguma, a não ser os seus olhos presos nos meus e o seu sorriso sedutor, como se apreciasse cada arqueio do meu corpo, cada gemido incontido. Ele estava apreciando aquele momento quase o mesmo tanto que eu apreciava aquelas mãos invisíveis, que estavam me enlouquecendo tão deliciosamente. Era quase como se me deixar naquele estado fosse uma missão paraArthur. E eu tinha o maior prazer em dizer que ele estava cumprindo a sua missão com todo o afinco possível. Eu estava completamente descontrolada. 
Nem nos meus sonhos mais reais eu sentira aquelas sensações tão intensas. E eu tivera sonhos muito quentes com Johnny Depp de vez em quando. Mas nem no dia em que eu sonhara que Johnny me agarrava no elevador me fazendo gritar horrores, eu sentira meu corpo tão misturado em sensações. Eu necessitava de mais e em caráter de urgência. Eu queria
 Arthur fazendo aquilo de verdade, já que eu tinha certeza de que era ele que provocava aquelas reações em mim. Não sabia como, mas tinha certeza de que era ele. 
A mão que apertava a minha coxa subiu lentamente, deslizando-se pelas minhas pernas até o centro delas, me fazendo gemer um pouco mais alto, enquanto a boca invisível subia para a minha orelha. Meu ponto fraco. A mão estava perigosamente perto, enquanto a que estava em minha cintura apertava com um pouco mais de firmeza, me deixando mais perdida. Meu corpo foi de encontro ao banco, querendo parar com aquelas sensações, mas parecia que isso apenas as tornavam mais fortes e enlouquecedoras. Meu corpo flamejava e eu já nem sabia mais que música tocava no rádio, para onde o carro estava indo ou qual era o meu nome. A mão ousada estava perto demais de onde eu queria que ela estivesse, assim como a boca em minha orelha estava perto demais de me fazer explodir de excitação.
 
Aquilo tinha que parar. Eu precisava parar com aquilo antes que fosse tarde demais. Tirei os meus olhos dos dele, jogando a cabeça para o lado de uma vez, quebrando definitivamente o nosso contato visual que era perturbador demais para me deixar continuar. Eu não era nenhuma cachorra de rua para ficar me roçando em um banco de couro, enquanto imaginava mãos e bocas quentes e deliciosas me tocando intimamente. Isso era errado. Espalmei as mãos contra o volante, balançando a cabeça para me obrigar a voltar toda a minha atenção para a estrada.
 
Eu ficara minutos delirando com as carícias imaginarias, era impossível que o carro continuasse no mesmo caminho, como se alguém estivesse dirigindo por mim enquanto eu estava alucinada com as sensações imaginadas.
 
Disfarçadamente, virei o rosto para trás, para ver o que
 Arthur estava fazendo e ele estava encostado à janela como se estivesse cochilando e nem ao menos tivesse presenciado o que havia acabado de acontecer. 
Eu estava claramente estafada daquela estrada. Isso para não dizer a verdade. Eu estava mesmo era louca.
 
A placa da cidade de Hamilton apareceu no meu campo de visão mostrando-me que faltavam apenas dois quilômetros para que a alcançássemos e eu respirei fundo quando em seguida aquelas costumeiras placas com o anuncio da aproximação de hospitais e hotéis chamaram a minha atenção.
 
Precisávamos de uma parada, mais do que nunca. Aquilo podia ser coisa da minha cabeça, o que com certeza fora, o que significava que eu precisava mesmo parar para descansar um pouco. Ou um muito, no caso.
 
Entrei no desvio para Hamilton e como sempre, o cheiro e as cores da cidade grande me deixaram mais calma. Sentir o cheiro da civilização me deixava muito bem, tirava meu mal humor. E eu esperava que no momento aquilo me ajudasse a ficar sã.
 
Vaguei um pouco pelas ruas largas e sem muita gente, por estarmos bem perto do amanhecer, procurando por um hotel não muito caro, mas também nem tão pulguento para que pudéssemos descansar. Não demorou muito e achei um do jeito que eu queria perto do centro da cidade, estacionando o carro bem em frente a ele e escutando os resmungos de
 Mel quando o carro parou de uma vez. Chay que limpara o lado do rosto, meio envergonhado, virou-se para mim como se perguntasse por que havíamos parado e os olhos de Mel, que eu sentia em minha nuca, provavelmente deveriam estar indagando a mesma coisa. 
- Precisamos descansar um pouco. Estou exausta e quase tive alucinações.
 
Sim, eu estava bancando mais uma vez a Rainha do Eufemismo. Eu tinha tido a alucinação da minha vida, mas nem sob tortura extrema eu contaria isso para eles naquele momento. Na verdade eu até mesmo me recusava a contar a
 Mel que arranjaria mil e um motivos para eu estar tendo aquelas alucinações, e entre esses mil e um motivos estaria o certo. Eu desejavaArthur. 
Aquele alien maldito era o culpado por tudo. Se ele não tivesse me dado aquele beijo ultra excitante, eu com certeza não teria pensado nada daquilo. Eu estava acostumada com a solidão, o que tornava mais fácil lidar com aqueles sonhos quentes, mas
 Arthur e seu beijo quente tornaram tudo mais complicado de se lidar. 
Todos concordaram comigo, mais ainda quando desceram do carro e estalaram as juntas doloridas por estarem há muito tempo dentro do carro. Eu, mais do que ninguém, precisava de um bom banho e de algumas horas de sono.
 
O dia fora cheio demais para mim. Um dos mais tumultuados de toda a minha vida. E eu dava graças a deus por o dia estar acabando. Ou começando, melhor dizendo.
 
Apertei o botão ao lado do volante para abrir o porta malas e me encaminhei para lá para pegar as duas mochilas com nossas roupas.
 
Não percebi que
 Arthur estava ao meu lado até ele perguntar, com os olhos fixos em meu colo, agora revelado, já que eu tirara o cachecol enquanto dirigia com o aquecedor ligado. 
- Alucinações,
 Lua? – a sua voz era suave e inocente, mas eu não me deixaria enganar por ele tão facilmente. Coloquei uma das mochilas no ombro, bati com mais força que o necessário a porta do porta malas e fiz um sinal de positivo para Mel que me avisava que estava indo para o Hotel nos registrar, enquanto eu procurava o estacionamento do mesmo e pegava as bagagens. Não dei atenção alguma a Arthur, que ao contrário do que eu desejava, deu ainda mais corda para que ele continuasse a me enforcar. 
- Essas coisas são perigosas. Você poderia ter nos matado na estrada. Mais cuidado da próxima vez, querida.
 
Finalmente parei encarando-o furiosa, com a porta do carro aberta e as mochilas uma em cada ombro. Nem cavalheiro para pegá-las ele era. Mais uma prova do quão idiota ele era. Céus, por que eu ainda o desejava? Ergui a mão pronta para mostrar um dedo para ele, mas abaixei a mão em seguida, temerosa. Melhor não dar ainda mais atenção para as idiotices dele.
 
Coloquei as mochilas no teto do carro enquanto tirava o lixo de latinhas e pacotes de biscoitos e chocolates de dentro do carro. Mais uma vez não percebi o quanto
 Arthur estava perto até levantar os olhos e vê-lo ao meu lado, pegando as mochilas do teto do carro e colocando-as em seu ombro forte, deixando um último recado para mim, finalizado com a sua risada odiosa e zombeteira. 
- Cuidado com o que imagina,
 Lua Blanco. 
Porque pode conseguir.
 
Completei o velho ditado que minha mãe costumava dizer para mim e fiquei tentada a bater com a cabeça na lataria do carro de
 Mel, mas não o fiz ao ver as primeiras pessoas já saindo para as suas corridas matinais. Eu tinha que me controlar melhor. Tinha que aprender uma maneira eficaz de lidar com Arthur ou com certeza ficaria louca no processo. Isso é, se eu já não o estivesse. 
Eu não queria nem ao menos pensar no quanto meu corpo estava quente apenas de pensar em suas palavras. Eu devia mesmo ter cuidado com o que eu imaginava. Com o que eu desejava e com qualquer tipo de reação que eu pudesse ter perto de
 Arthur. Eu não podia pensar em nada que tivesse a ver com ele. Nada. 
Balancei a cabeça mais uma vez, jogando os cabelos para o lado, e dei a volta pelo hotel, finalmente achando o estacionamento, que mesmo eu sendo hóspede do local, me extorquiu uma quantia bem gordinha. Minutos depois, quando entrei no hotel procurando pelos outros, tive o braço puxado de uma vez por
 Mel que já lançou um olhar para os garotos avisando-os que estaríamos no quarto e que eles deveriam ir para o salão de refeições separar uma mesa para nós dois que desceríamos logo. 
Chay deu de ombros e puxou
 Arthur consigo para o local onde estava indicado ser o salão de refeições. Mel deu uma das mochilas para mim e coloquei-a no ombro, imitando-a, e subimos para os dois quartos que ela havia reservado. 
- Eu quero o 546. – eu disse quando o elevador parou no quinto andar, fazendo-a olhar para mim sem entender por alguns minutos e quando balancei as chaves, ela finalmente se tocou que eu estava falando do quarto.
 
- Ah. Tudo bem. Eu ia pedir para ficar com o 547 mesmo.
 
Ela saiu andando na minha frente, e dessa vez fui eu quem demorou alguns instantes para entender o que estava acontecendo.
 
- Como assim,
 Mel? Não vamos dividir um quarto? 
Mel deu uma gargalhada que me fez recuar um passo, confusa.
 
- Está louca,
 Lua? Eu estou louca para dar uns amassos selvagens no Chay. Minhas costas doem e eu quero colocá-las no lugar do melhor jeito possível. 
Balancei a cabeça, sem ter o que falar para ela e quando achei que as bobagens de
 Mel haviam acabado, ela me saia com mais. 
- Não é a toa que eu pedi os quartos com cama de casal, não é? A mulher enrolou um pouco por causa dos documentos deles e tal, mas depois que o
 Arthur chegou e sorriu para ela, ela entregou os documentos rapidinho. – ela olhou para a minha cara meio pálida pelo susto que ela acabara de me dar e completou. – Eu também faria tudo o que Arthur pedisse se aquele gatinho sorrisse para mim e... 
O monólogo de
 Mel não tinha muita importância para mim naquele momento. As palavras que ela dissera momentos antes ainda estavam rodando em minha cabeça como um carrossel maligno. E não era do sorriso de Arthur que eu estava falando. 
Como assim “cama de casal”? Eu não poderia dividir uma cama de casal com
 Arthur. Era demais para o meu autocontrole, já bem debilitado nos últimos dias. 
Eu poderia fazer muitas coisas com ele. Eu poderia matá-lo. Sim, ele me deixava furiosa a esse ponto. Ou poderia transar com ele loucamente. E se formos levar em consideração as minhas alucinações, com certeza era bem provável que acabássemos rolando feito dois selvagens naquele colchão king size.
 
- Cama de casal,
 Mel? 
- É. – disse ela como se não fosse nada. – E não sei por que essa cara assustada. Quando ele te pegou de jeito lá no posto de gasolina a sua cara não estava nada assustada.
 
Meu queijo caiu vários centímetros, e eu encarei-a entre traída e indignada. Então aquela vaca havia visto tudo e estava apenas esperando o momento de jogar aquilo na minha cara? Isso era safadeza demais até para
 Mel. 
- Você viu? – o meu tom era mais que acusatório.
 
- Claro que vi. Aquele foi o beijo mais quente que eu já vi. – ela riu, e abriu a porta do quarto 547, entrando nele e jogando uma das mochilas em cima da cama e se jogando em seguida. – Cara, saía faísca de vocês dois. Sério. Ele... Uau! Parece ser bem quente. O jeito que ele pegava você e o jeito que ele...
 
Sentei-me na cama pesadamente, sem nenhuma ação quando as lembranças despertadas por
 Mel voltaram para mim com força total. Quente. Palavra mais que exata para descrever o nosso beijo. Na verdade, quente descreveria qualquer forma de contato entre nós. Nossas discussões eram quentes, nossos olhares eram quentes. Nossos beijos eram quase inflamáveis. E tinha certeza de que quando fizéssemos amor, o quarto estaria em chamas, que consumiriam o teto assim como a paixão nos consumiria. 
Mais dois ou três dias com
 Arthur e eu me tornaria uma piromaníaca. 
- Espero reproduzir pelo menos metade desse fogo depois do café. Vou comer bastante pra ter energia porque o
 Chay... Aquele tem energia, amiga. Céus, ele sabe o que fazer com... Ei! Por que essa cara de quem vai rir? 
Olhei séria para
 Mel tentando desesperadamente segurar a risada mas ela já me pegara. Então não tive outra escolha a não ser rir um monte da cara dela. Ela parecia uma adolescente boba, deitada de barriga para cima na cama, abraçada a um travesseiro e me contando os detalhes de seu relacionamento com Chay. 
E sendo amiga de
 Mel há muitos e muitos anos, eu já vira aquela cena várias e várias vezes. Mas em nenhuma dessas outras vezes, ela pareceu tão feliz quanto agora. E a risada se tornou um sorriso terno 
- Eu não preciso saber dessas coisas,
 Mel. – disse, brincando e jogando um travesseiro nela que ela me jogou de volta. E de repente ela se sentou na cama, com os tornozelos cruzados e pegou minhas mãos, me fazendo ficar de frente para ela. 
- Agora é sério,
 Lua. Como eu farei quando ele entrar na nave mãe? Eu me apaixonei. Eu... Não consigo imaginar minha vida sem ele. 
Céus, se ela me não me dissesse, eu nunca teria reparado. Sim, estava mais do que na cara, mas aquele não era um momento para ficar sendo sarcástica.
 
- Eu não... Eu não... Sei viver sem ele,
 Lua. 
Eu já esperava que ela começasse a chorar, então aproximei-me dela e deixei que as suas lágrimas banhassem meu ombro. Ela se apertou a mim, debulhando-se em lágrimas e se perguntando se conseguiria viver sem
 Chay. E o que eu poderia lhe responder, quando eu mesma não sabia o que seria de mim quando Arthur entrasse naquela nave mãe e apagasse de mim todas as lembranças. 
- Nós vamos esquecê-los.
 
- Não se engane - ela fungou. – Você sabe que mesmo que eles apaguem toda e qualquer lembrança deles de nossas memórias, nós ainda teremos o calor em nossas memórias físicas. Eles não se apagarão de nossos corações.
 
E eu odiei admitir que ela estava certa, na verdade mais que certa. Eu sabia que meu corpo nunca mais responderia ao calor de outra pessoa como respondia ao de
 Arthur. 
- Hey. Não vamos pensar nisso agora, certo? Vamos deixar para lidar com isso quando o momento chegar. – ela sorriu triste. – Levante-se e vamos comer alguma coisa. Estou com fome de outra coisa sem ser chocolates e refrigerante de cola. –
 Mel continuou de cabeça baixa, e eu apertei a mão dela que ainda estava entre as minhas. – Vamos viver apenas o hoje. 
- Está dizendo por mim ou por você,
 Lua? 
Olhei para ela, mais uma vez me sentindo traída. Ela me conhecia melhor do que qualquer pessoa mesmo. Mas eu estava falando dela. Provavelmente dela. Ou não? Apressei-a puxando-a pelo pé, que se levantou rindo e logo estávamos fazendo brincadeirinhas uma com a outra dentro do elevador. Quando chegamos ao salão de refeições, parei na porta, tensa ao verArthur tão lindo à luz do sol que iluminava a mesa reservada para nós.
 
Eu não gostaria nem de pensar no que poderia estar motivando aquela reação tão bestial em meu corpo. Não gostava de pensar que eu poderia estar... Não. Eu não poderia estar.
 
Logo estávamos sentadas na mesa, onde eu não dirigi atenção a nada a não ser o grande bule de café ao meu lado, que eu esvaziei em questão de minutos sem maiores dificuldades. Eu havia sentido uma falta louca de café nas últimas horas. Era capaz até mesmo de fazer alguma campanha em prol de algumas Starbucks nas paradas da estrada. Comi apenas alguns pedaços das panquecas em meu prato e finalmente lancei algumas olhadas para
 Arthur, que tinha o seu próprio bule, me admirei realmente por ele não estar bebendo diretamente dele, e notei que ele comia com todo o apetite possível seus ovos e lingüiças, não deixando restar muita coisa dentro do prato. 
Não tinha nem mesmo acabado o café que estava em minha xícara, quando me levantei e avisei que subiria para o quarto, alegando cansaço.
 
Cansaço era um dos motivos também, mas não o principal. No momento eu tinha um plano. Subiria rápido para o quarto e tomaria um banho bem depressa, para que quando
 Arthur subisse ao quarto, o que demoraria um pouco, levando em conta o quanto ele estava comendo e repetindo, eu já deveria estar dormindo, o que não permitiria que a minha mente me fizesse sucumbir a ele. E eu sabia que sucumbiria mais cedo ou mais tarde. E pedia a Deus com todas as minhas forças para que fosse mais tarde. 
Mas quando cheguei ao quarto e tirei todas as minhas roupas quentes, literalmente correndo para o banheiro, em parte pelo plano e em parte pelo frio, percebi que meu banho não seria tão rápido quando eu pensava que fosse.
 
A água quente em meus músculos fazia com que eu relaxasse e aproveitasse a massagem deliciosa que a água fazia em minhas costas.
 
Ergui a cabeça para a água deliciosa, e a massagem fez maravilhas em meu rosto. Os meus cabelos longos não deveriam estar sendo molhados, pelo frio que fazia lá fora, era capaz de eu pegar alguma gripe se não os secasse devidamente depois, e era claro que o hotel não tinha um secador de cabelos. Mas eu não pensei muito nisso quando a água acariciou meu couro cabeludo, me deixando leve e relaxada. E me fazendo terminar o banho apenas dez minutos depois.
 
Saí do banheiro enrolada na toalha me sentindo terrivelmente revigorada e com os dedos até enrugados de tanto tempo debaixo do chuveiro. Assim que entrei no quarto, minha mente cansada não conseguiu visualizar nada mais que a grande cama macia de lençóis brancos que estava na minha frente.
 
Não pensei duas vezes e me joguei nela, sem nem tirar a toalha molhada. Espreguicei-me sem me importar com mais nada. Era tão raro eu passar alguns minutos sem preocupação, como eu estava agora.
 Arthur não estava na minha mente pela primeira vez desde que eu o conhecera. Espreguicei-me mais um pouco, deixando que a toalha escorregasse pelo meu corpo, sem ligar e me levantei de uma vez quando ouvi uma risada sedutora vinda do outro lado do quarto. 
Sentei-me na beirada da cama e puxei a toalha para cobrir melhor o meu corpo, mas não muito. Por que aquelas drogas de toalhas de hotel tinham que ser tão pequenas. Não conseguia cobrir o colo e as coxas ao mesmo tempo e isso era um prato cheio para
 Arthur se divertir ainda mais com os seus sorrisinhos sarcásticos. 
Coloquei uma mecha do cabelo úmido para trás e ergui os olhos para ele, encontrando-o parado, escorado na porta, com um sorriso tentador demais para que eu pudesse pensar em evitar. O meu corpo clamava por ele, meus olhos estavam me traindo miseravelmente, procurando os dele como se eu quisesse me perder em seus olhos, afogar-me naquela piscina de chocolate mais uma vez.
 
- Er... O Banheiro está desocupado. – anunciei timidamente.
 
- Não estou preocupado com isso neste momento.
 
Arthur se aproximava da cama, me deixando em suspense. Eu desejava desesperadamente repetir aquele beijo e ir muito mais além. Ter tudo do que ele poderia me dar. E pedir mais. E mais.
 
- Com... – limpei a garganta para tentar continuar sem minha voz falhar mais uma vez. – Com que... Você está preocupado?
 
Eu estava me arrastando na cama, indo cada vez mais para perto da cabeceira e estava já com as costas encostada nela, tentando me afastar de
 Arthur, que também se sentara na cama e estava seguindo a minha trilha de lençóis desarrumados e vinha cada vez mais para perto de mim. Quanto mais ele se aproximava, mais eu dava adeus ao meu autocontrole. Não valia a pena eu ficar me controlando. Não quando eu queria desesperadamente me jogar contra Arthur e me aproveitar tanto de seus lábios. 
- Estou preocupado com suas alucinações. Não é nada bom ter essas coisas por aqui, não é?
 
Ele estava perto demais. Quente demais. Sedutor demais.
 
- Eu posso lidar com elas.
 
- Jura? – ele inclinou-se sobre mim. – Não quer a minha ajuda? – Afastei-me mais ainda, batendo a cabeça desajeitamente contra a madeira da cabeceira, e isso pareceu chamar a sanidade de volta à minha mente. – Posso ajudá-la com o maior prazer.
 
- Não. Obrigada. Posso lidar com elas, eu já disse.
 
A boca dele estava a centímetros da minha e quando eu pensei que ele finalmente fosse me beijar, ele apenas sussurrou:
 
- Se você tem certeza, então deixarei que lide com elas.
 
E saiu para o banheiro, fechando a porta e me deixando sentada na cama, aninhada contra a cabeceira da mesma sem saber o que dizer. Estática. Ele me deixara no limiar entre o desejo e agora conseguira me deixar completamente na frustração. E não tinha coisa que me deixasse mais furiosa que estar frustrada.
 
Arthur devia ter algum curso de provocação na escola alienígena. Era a única resposta que eu tinha para explicar o quanto ele era perito em me deixar tremula de desejo e ao mesmo tempo arrepiada de fúria, ou vice e versa.
 
Levantando-me, olhei pela pequena abertura na janela do quarto, o dia amanhecer de vez e decidi que tinha que terminar com aquilo o mais rápido possível. E a única maneira de fazer isso, seria despachando ele para o planeta de onde ele viera.
 
Longe de mim. E inacreditavelmente, apenas pensar em tê-lo longe de mim, me doeu mais do que eu podia imaginar.
 

 

                                                                                                            
                                                                                                             Direitos Autoriais: Elle S.

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