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04/08/2012

"Contato Imediato"

Capitulo 6


Seis 

Espreguicei-me relaxando na cama me perguntando há quantos anos eu não dormira tão gostosamente quanto dormira naquelas últimas horas. Geralmente, mesmo quando eu me dava ao luxo de dormir bastante, sempre acordava de mau humor e com dor em um ou outro lugar, mais ou menos como a tia Sara, aquela velha maluca que sempre tinha dor nas juntas.
Mas dessa vez não, eu estava com o sono em dia e relaxadamente desperta.
 
Talvez fosse porque em muitos anos, essa fora a primeira vez que meus sonhos não foram com prazos curtos e contas a pagar ou qualquer coisa chata e aborrecida que me deixavam preocupada durante o dia. Talvez fosse porque meus sonhos foram deliciosamente divertidos e sensuais, e quando eu disse isso, eu realmente disse sensual. Sensual até demais, com direito a suor e respiração ofegante ao acordar. Ou porque eu simplesmente sabia que o personagem deles, pela primeira vez em meses, era real. Afinal, eu já perdera a conta de quantas vezes eu sonhara que Johnny Depp fazia investidas noturnas no meu quarto e me possuía loucamente. Sim, Johnny era real, mas minhas chances para com ele estavam em um em dois milhões, sendo assim ele passava imediatamente para a categoria de fantasia sexual irreal.
Fazendo numero na mesma lista que já continha um bom numero de celebridades do cinema e da TV.
 
Era o meu jeito de lidar com a minha vida amorosa inexistente, sonhando fantasias com astros de Hollywood achando que um dia eles poderiam ser meu príncipe encantado. E não mais um panaca em minha vida, como Luke, meu último ex-namorado que além de ser um otário de marca maior, me fizera desacreditar no amor de vez com suas mentiras. Desde que termináramos, eu não ficara com mais ninguém. E já fazia três anos que isso acontecera. As mulheres da redação já faziam até bolão para saber quando eu “tiraria as teias de aranha” como elas mesmas diziam. Algumas semanas atrás Emma perdera feio quando dissera que eu não aguentaria muito tempo mais e acabaria dando uns amassos na sala de Xerox com Ewan, um dos repórteres do jornal que tinha um estilo bem almofadinha.
Eu não estava tão desesperada assim, também. O meu orgulho próprio era maior que meus apetites sexuais.
 
Eu não era uma maníaca também. Só digamos que depois de um tempo, a falta de sexo começa a subir à cabeça, e como todas as mulheres nova iorquinas têm esse problema, ficam falando uma da outra para ver se diminuem a sua própria “teia de aranha”. Eu não corria atrás de um marido como a maioria de minhas colegas da redação faziam, e além do mais tentavam fazer por mim. Arranjavam-me milhares de encontro às escuras e grupos de encontro que além de decepcionantes, eram humilhantes. Tão ou mais que os pares que elas me arranjavam sem nem ao menos me consultar.
Sonhar coisas picantes com
 Arthur era mais que compreensivo na minha situação. Arthur era bonito demais, e eu estava mais do que carente. Esses dois fatos juntos estavam pesando no meu inconsciente me fazendo sonhar tão nitidamente que eu estava tendo a noite da minha vida nos braços de Arthur. 
Se o desempenho de
 Arthur fosse metade do que eu sonhara, eu tinha até medo de imaginar como seria a realidade. Na verdade, medo não é a palavra adequada para usarmos em relação a isso. Conhecia muitas outras que se encaixariam muito melhor como desejo, ânsia e algumas mais.
O que me relaxava era o fato de que fora apenas um sonho. Apenas isso.
Arthur era um mal educado, arrogante e metido a besta.
 
E eu não conseguia tolerar essas características nem mesmo nos meus amigos, quem dirá em um extraterrestre vindo sabe-se lá de onde.
Meu corpo estava deliciosamente relaxado quando levantei me espreguiçando e dando uma olhada no relógio, percebendo que já eram 18h. Peguei uma troca de roupa qualquer de meu armário e segui para o banheiro de minha suíte pensando sobre os motivos que me fizeram sonhar com
 Arthur e porque o sonho fora tão intenso. Nem quando eu sonhara que me agarrava com John Mayer, as coisas ficaram quentes daquela forma. E olhe que o sonho com o John era um dos mais quentes da lista de sonhos picantes. Sim, eu tinha uma lista com os melhores, também.
Enquanto lavava o cabelo, repetia a mim mesma a cada dez segundo que aquilo fora simplesmente mais um sonho, certo que ele era o topo da lista dos melhores, mas eu não podia me esquecer de que fora apenas minha imaginação. Eu não poderia sair de toalha para o corredor e simplesmente deixar cair na frente dele. Não. Isso era errado. Minha mente fantasiosa demais ultrapassava os limites possíveis e já me criava mais imagens de como seria se eu realmente fizesse isso e usasse o truque da toalha caída. Em minha cabeça, já se passava um filme onde
 Arthur vinha até mim e agarrava-me pela cintura, tomando meus lábios e...
Não. Errado. Duplamente errado. Primeiro porque
 Arthur era um idiota, e eu já prometera a mim mesma que não me relacionaria com idiotas nunca mais. (Agradecimentos a Luke por me tornar essa megera.) E em segundo porque ele era um extraterrestre. Ele poderia ficar com aquelas indiretas, que eu nem tinha certeza se eram indiretas ou não, mas era, ainda assim, um extraterrestre.
Arthur não era para mim. Para qualquer alien gostosinha sim, entretanto não para mim. Eu era uma mulher da Terra, decidida a não manter mais relacionamentos e não acreditar mais em homens, mesmo se eles tenham vindo de outra galáxia.
 Arthur não era para mim e ponto final.
Fechei o chuveiro decidindo que era desse modo que eu levaria as coisas, vendo
 Arthur apenas como um alien que eu teria que tomar conta até o dia de ação de graças. Nada que eu não pudesse lidar. 
E eu já tinha até mesmo um plano para me ajudar. Era apenas pensar em
 Arthur como um ser verde que me atacaria, me assassinando. Não pensar nele como o alien que me seduziria e me faria ter o orgasmo de minha vida no sofá de três lugares enquanto eu gritava em êxtase. Não. Mente pensando errado de novo.
Não era assim que deveria ser.
“Seres verdes. Seres verdes. Seres verdes.” Esse seria o meu novo mantra que eu repetiria cada vez que aqueles olhos chocolates fixassem-se nos meus. E repetiria também toda vez que minha mente pensasse nele como mais que um hospede indesejado, mas que ainda assim eu trataria com educação. Assim como em todo momento em que eu ficasse embasbacada com seu corpo, seu cabelo tão lindo ou com sua boca.
Sendo assim, eu repetiria o meu mantra a cada seis minutos até sexta feira. Seria exaustivo, mas era a única maneira de me manter sã.
Respirei fundo com a mão na maçaneta e quando me senti pronta, abri a porta do quarto saindo de dentro dele e encontrando
 Arthur com os dois pés em cima de minha mesa de centro e zapeando os canais da minha televisão sem pressa alguma. Apertando todos os botões ao mesmo tempo como se aquela fosse uma diversão muito boa. 
Não liguei muito para ele, apesar de estar furiosa por seus pés estarem em minha mesa de centro até que vi a jarra de suco feita de cristal que eu ganhara de minha mãe precariamente equilibrada em sua perna, onde ele pegava a jarra e dava longo s goles a cada cinco canais zapeados.
- Ei. - cumprimentei me aproximando do sofá e contendo minha mão que queria dar um tapa nas pernas dele para que ele tirasse os pés da minha cara mesinha. Contatos físicos estavam proibidos em meu relacionamento com
 Arthur.
- Ei. - cumprimentou ele de volta. - Isso é muito bom. Tive que aprender a fazer mais sozinho enquanto você dormia. - disse levantando a jarra para mim - Não está saboroso como seu, mas ainda assim está bom.
Arthur empurrou a jarra na frente dos meus olhos para que eu desse um gole no café, e fiz o que ele pediu quase vomitando em seguida com o gosto horrível. Aquilo estava pavoroso. Com certeza ele usara todo o meu pó de café. Estava tão grosso que estava quase pastoso. O fato de estar sem açúcar tornava bem pior o ato de engolir o café, coisa que eu nem me atrevi a fazer.
 
- Meu Deus! Como está conseguindo tomar isso? Céus!
- Gosto de coisas fortes. Só não está saboroso. - ele deu mais um gole na jarra, estalando a língua em seguida. - Nem está tão ruim,
 Lua, só não está saboroso.
- Isso se chama açúcar. Você coloca junto com o café. E não precisa de tanto pó.
- Lembrarei-me disso em uma próxima vez, mas espero que esteja acordada para fazer o meu café. Não gosto de me desgastar nessas tarefas menores.
Não seria tão difícil manter minha mente fora de assuntos sexuais,
 Arthur conseguia me fazer perder a paciência e querer arrancar sua cabeça mais vezes do que eu desejava me agarrar a ele. Mas mesmo com raiva mortal, eu precisava me controlar. Respirei fundo mais uma vez e disse apenas:
- Eu sou humana, preciso dormir. Se quiser algo, faça você mesmo. Não sou sua empregadinha que faz tudo o que você quer na hora que você quer. Você não está em férias no meu planeta, ô ser superior.
- Não, não estou mesmo em férias. Infortunadamente tendo que ser pajeado por uma terráquea enquanto tenho que esperar a vontade dela de me levar até um fim de mundo chamado Wyoming para que eu possa voltar a minha vida de sanidade.
- Sanidade? Quer falar sobre sanidade? - perguntei parando em frente a televisão e tapando a visão dele, que até então só tinha tirado os olhos dela para me oferecer o café e nada mais. Nem ao menos para falar que estava me suportando no meu planeta ele tirara os olhos da TV. - Pois bem. Insano é cair no meu planeta e ainda querer dar uma de gostoso para cima de mim, que estou tentando ser legal e educada com você, por mais que você seja arrogante e mimado.
- Ah. Vocês chamam isso de “ser legal” por aqui? - ele deu de ombros cheio de arrogância, daquele jeito que me fazia querer ser uma gafanhoto fêmea e arrancar a cabeça dele depois de... Você sabe. - Não me admira vocês serem tão atrasados.
Minha raiva já estava atingindo níveis alarmantes e com certeza se tivéssemos alguma daquelas tarjetas com cores, avisando o nível do perigo, a minha já estaria na metade entre o laranja e o vermelho. Mais vinte minutos com
 Arthur e estaria no preto.
- Quer falar do meu planeta, alien?
- Quero tantas coisas que você nem imagina,
 Lua. Consegue imaginar?
- Não, não consigo. - disse me virando para a tela e ficando de costas para ele. Eu até conseguia imaginar algumas coisas, mas elas deviam ser apenas invenção de minha cabeça, assim como era invenção aquele calor em minhas costas, como se alguém estivesse me abraçando por trás. - Pessoas com ego como o seu querem muitas coisas que não podem ter.
 
Eu tentava me enganar, dizendo a mim mesma, ou quem sabe já dando um aviso para ele também que ele não poderia me ter. Essa enganação me distrairia enquanto eu tentava me recordar das palavras do mantra que haviam se perdido em algum canto de minha mente. Senti
 Arthur se levantar e me virei novamente para ele, que parou à minha frente. Meus pulsos estavam fechados, prontos para o ataque, como se dizia. Arthur era o único que conseguia me fazer perder o controle de minha raiva. Geralmente eu controlava melhor e evitava respostas mal educadas e atos violentos, mas ele despertava isso em mim. Algo como os instintos mais primitivos dentro de mim, quebrando barreiras e tudo o mais.
Ele se aproximou mais um passo e eu fiquei ainda mais tensa. Ele sabia o efeito que tinha sobre mim, era mais que claro que
 Arthur agia de propósito, sabendo exatamente como lidar comigo. Sabendo como me fazer perder o controle, derrubar minhas defesas.
- Isso não tem a ver com ego,
 Lua. Você também quer muitas coisas, eu quero muitas coisas, tantas coisas que você nem sequer pode imaginar. E querer e ter não são nada quando se deseja ardentemente. - ele deu uma volta ao meu redor enquanto dizia aquilo em uma voz rouca que somente me acendeu mais, dessa vez não de raiva, certamente. A voz dele entrou em minha mente me fazendo prestar atenção no seu sotaque diferente, quase como russo ou qualquer língua eslava mas mais sensual, mais atraente.
- E o que você quer?
- Seus sonhos. - ele me fez ficar vermelha quando a minha mente enviou-me lembranças do que eu havia sonhado mais cedo. As imagens deixaram tudo ainda mais quente e me obriguei a focar o rosto dele. - Quero tudo o que você quer. Nada mais nada menos.
- Eu não quero nada.
 
- Errado. - ele parou atrás de mim, a respiração dele batia em minha nuca e senti que ele não estava nem a cinquenta centímetros distante de mim, o que me fazia sentir o seu calor com mais intensidade, quase me inflamando. - Queremos a mesma coisa,
 Lua. Certas coisas são as mesmas em todas as galáxias, em todos os planetas, para todas as pessoas.
- Mas cada planeta tem suas regras. - eu repeti o mantra quase em voz alta. Obrigando-me a me manter no lugar para que ele não pensasse que eu tinha medo dele, o que de certa forma tinha, não mais por ele se tornar verde, mas por ele ver o que realmente ia dentro de mim. - No meu planeta respeitamos o desejo do próximo, que apenas tenta ser legal e não fazer sei lá o que você imagina.
- De novo essa historia de “ser legal”? - ele bufou.
- Sim. Quero fazer você ver que, apesar de tudo, eu ainda estou tentando ser legal com você.
- Seria mais legal se você derrubasse essas defesas. - a voz dele estava mais sensual e mais rouca do que antes. Minha pele estava arrepiada e não gostava nem de imaginar como ela ficaria quando estivesse sob o seu toque, apesar de ter uma vaga noção. – Mas vou, como você mesma disse, respeitar o seu desejo. Eu sei esperar.
- Espere para sempre,
 Arthur.
Céus! Como ele conseguia ser tão arrogante daquela maneira? Eu deveria socar a cara dele, mas a respiração que ainda se fazia sentir em meu pescoço me deixava sem forças, sequer para me mexer.
- Nós dois sabemos que não demorará tanto tempo. - a voz dele estava bem perto de meu ouvido, me deixando louca a ponto de sentir meus membros virando gelatina. - Estamos falando de dois dias e não de dois anos-luz.
Minha boca se abriu automaticamente em suspense ao ouvi-lo falar tão facilmente que teríamos um ao outro em breve, que por pouco não escuto o telefone tocar, de tão entorpecida que eu estava. Eu ainda não conseguira me mexer e ele se afastou, percebendo que era a sua presença que me deixava tão imobilizada, e isso foi como se um escudo invisível deixasse de me cercar, me permitindo respirar de novo e, graças a Deus, lembrar o mantra por completo. O telefone tocou mais uma vez terminando de vez com o meu torpor e me fazendo caminhar para o balcão da cozinha, onde repousava a extensão do telefone sem fio.
Com os olhos fixos em
 Arthur do outro lado da sala, que voltara a prestar atenção na televisão, eu atendi o telefone da forma usual.
- Ei, sou eu,
 Mel. - disse minha amiga toda contente no telefone. - Você assistiu à televisão nos últimos cinco minutos?
- Não, eu estava dormindo.
Ela riu do outro lado, enquanto eu continuava parada, encarando
 Arthur de longe e sem saber de que ela ria.
- Esqueci que você é uma dorminhoca. Poxa,
 Lua, com um alien desses na sua casa, você ainda dorme? É, na verdade, se pensarmos bem, você está certa. Eu também pensaria em dormir. Com ele. - eu bati na testa achando a brincadeirinha dela muito impertinente pelo que eu vivera nos últimos segundos com toda aquela tensão sexual. - Você dormiu com ele?
- Não!
 Mel, que pergunta!
Meu rosto ficou vermelho imediatamente e
 Arthur riu de mim como se pudesse ouvir a nossa conversa, o que é claro que não poderia. Eu não estava falando tão alto, e por mais que Mel sempre gritasse ao telefone, não dava para escutá-la do outro lado da sala. Mas mesmo assim, me virei, apoiada no balcão e continuei prestando atenção nas besteiras que Mel dizia.
- Tudo bem, foi só uma pergunta. - ela riu um pouco daquele jeito tão dela e depois ficou séria. - Já descobriram a nave. Passou no noticiário. Dizem que é uma sonda que caiu na Terra e asseguraram que é da NASA, mas nós já sabemos a verdade.
Fiquei tensa de imediato, apertando o telefone com mais força contra o rosto.
- Existe a possibilidade de alguém investigar a gente?
- Pelo visto, não. Disseram que a NASA vai recolher o resto da “sonda” para verificar as causas da queda. Não deixaremos nenhum rastro que possa levar até nós, certo?
Respirei fundo repassando todas as coisas que fizemos na praia e realmente não havia nada que nos ligasse a nave ou a aliens.
- Certo.
Eu estava preocupada por antecipação. Senti os olhos de
 Arthur sobre mim e imediatamente meu coração já começou a bater mais forte. 
- Cuide bem de
 Chay. Tentarei fazer o máximo possível para ocultar Arthur. Ele está com as roupas do meu irmão e o vendo como alguém de fora, não desconfiaria que ele é de outro mundo.
- Ah eu desconfiaria, viu! -
 Mel riu, me fazendo rir também apenas de ouvir a risada dela. - Gatos desse jeito só podem ser de outro planeta. - rimos juntas mais uma vez. - Lua, tenho que ir. Chay viu uma propaganda do McDonalds e quer um BigMac agora. - despedi-me dela e antes que eu pudesse desligar, ela me chamou mais uma vez. - Lua, você sempre foi melhor em biologia do que eu, não é?
Na verdade, essa era uma das poucas matérias em que eu conseguia ser melhor que ela. Além de literatura e redação. Nas matérias exatas, em especial em física,
 Mel sempre fora mil vezes melhor que eu.
- Mais ou menos. Não lembro muita coisa.
- Mas você se lembra como são bebês meio humanos e meio extraterrestres?
Pronto! Ela conseguira passar dos limites. E eu que achava que
 Mel não poderia fazer mais besteira. Ou falar.
- Céus,
 Mel! Por que está me perguntando isso? É impossível! - disse a ela pronta para uma daquelas broncas de oito minutos que eu costumava dar-lhe, mas da maneira como Arthur estava sentado tão despojado em cima do meu sofá, as pernas em cima da minha mesa de centro, mais uma vez, não tinha moral nenhuma para brigar com minha amiga. Eu também queria saber muito se o contato corporal extraterrestre era melhor que o terráqueo.
- A que descobrir primeiro, conta para a outra. E depois dessa propaganda de preservativos na Tv, colega, eu te contarei em apenas algumas horas.
Ri de
 Mel e desliguei o telefone, voltando para a sala, sentando-me do outro lado da sala no sofá distante do que Arthur estava sentado. Não podíamos. Era errado. Errado demais.
- Quer comer alguma coisa?
A pergunta foi feita por mim de forma educada. Não estava com fome, mas talvez ele estivesse. Evitei de qualquer forma olhar para ele. A camisa do meu irmão ficara muito bem nele. Se eu o achara sedutor com aquela gola alta preta, com certeza mudara de idéia naquele instante. A responsável pelo setor de moda do jornal costumava dizer que xadrez era tendência, e eu tinha que concordar com ela. A camisa ficara um pouco apertada nos braços, por isso ele havia dobrado as mangas, mostrando o curativo, mas mais que isso. Mostrando seus braços fortes que poderiam terminar com todo o meu autocontrole se eu olhasse para eles por tempo demais.
- Sim. O que quer comer?
Continuei olhando para o chão e para os meus chinelos de pano. Não conseguia pensar em qualquer prato para sugerir-lhe. Minha cabeça tinha pensamentos pecaminosos demais para que eu pudesse pensar em outra coisa. Culpa de
 Mel e de seu BigMac.
- O que acha de uma pizza?
- Adoraria, se eu soubesse o que é.
Ele dissera aquelas palavras com toda aquela arrogância linda e particular dele.
- Eu peço e você come. Se não gostar, come outra coisa.
Céus! Eu estava realmente com a mente muito deturpada para falar uma coisa daquelas. E com certeza
 Arthur percebeu o duplo sentido de minhas palavras, se não por elas mesmas, pela vermelhidão que tomou conta de meu rosto.
-
 Lua, não vamos apressar isso. Ainda é domingo. Temos até sexta feira. Deixe-me preparar o caminho primeiro. Acender a fogueira. - Arthur se levantou olhando sensualmente para mim e não tive como não olhar para ele, fazendo os seus olhos chocolates prenderam toda a atenção que eu poderia ter, fazendo-me mergulhar neles mais uma vez. - Eu quero que me implore, quero que grite o que quer. E só então te darei.
- Eu não quero nada. - respondi mal criada.
- Mentira. - ele parou a minha frente e tocou meu rosto com uma leveza impressionante. - Sabemos que é mentira. Sabemos exatamente o que você quer, porque queremos a mesma coisa.
Abri a boca para responder algo e senti os dedos de
 Arthur em minhas têmporas. Os seus dois dedos indicadores tocavam cada uma de minhas têmporas, suavizando as batidas do meu coração de uma maneira única. 
- Não adianta mentir quando eu sei de tudo.
 
Afastei-me de uma vez, quase o derrubando com meu ato impetuoso. Minha cabeça girava numa órbita enlouquecida e minha pele estava prestes a derreter de tão ardente. E eu sabia que seria pior no momento em que os toques fossem para valer.
Ele estava me seduzindo na cara dura e eu não conseguia fazer mais que devolver algumas respostas infantis a ele. Eu precisava ser mais determinada. Precisava estabelecer limites ali. E o primeiro deles seria a quantidade de vezes que eu repetiria meu mantra. Mil, no mínimo.
- Não pode ter tanta certeza disso,
 Arthur. Meu planeta, minha casa, minhas regras. Vai ser do jeito que eu quiser que seja. E como eu não quero, então não será.
Disse mais uma de minhas respostas dignas de uma criança de oito anos, ou menos, dando as costas para ele e pegando o telefone e ligando para a pizzaria, meu terceiro número na discagem rápida e escutando Rico começar seus galanteios que eu cortei logo, pedindo uma pizza grande de mussarela. Ficar brava me deixava com fome, e além do mais, eu tinha um convidado para aquela noite.
 Arthur riu para mim e balançou a cabeça, enquanto dava mais um grande gole na jarra de café e apoiava os pés na mesa de centro vagarosamente, como se soubesse o quanto aquele fato me irritava.
Ele estava fazendo de tudo para me fazer perder a cabeça. E o pior, de todas as formas possíveis. Parecia que o importante para ele era me enlouquecer, fosse de ódio ou de prazer, o que importava era me fazer sucumbir a ele, me entregar aos sentimentos. E se até sexta feira eu não enlouquecesse, então nunca mais enlouqueceria. Por faltas de tentativas é que não seria, e
 Arthur deixava isso bem claro.
Fiquei exatamente no mesmo lugar até escutar a campainha tocar anunciando a chegada da nossa pizza. Eu não fiquei nem ao menos fora da cozinha para não entrar no mesmo perímetro que
 Arthur. Minha mente estava decidida a me pregar peças todo momento e por isso mesmo que eu continuaria longe. Meu mantra não era tão eficiente quanto eu pensava, e quando a presença de Arthur se irradiava sobre mim, era muito fácil esquecê-lo.
A campainha tocou, me fazendo pegar algumas notas de dentro da gaveta do armário. Eu sempre deixava ali o dinheiro do mercado e do delivery para facilitar a minha via. Corri para a porta, com o dinheiro contado nas mãos e quase bati com a cabeça na parede quando vi que Rico viera entregar a minha pizza. Como dono da pizzaria, ele nunca se dava ao trabalho de fazer o papel de entregador, mas como eu era algum tipo de musa inspiradora do tal, ele vinha entregar a minha pizza em pessoa, em mais uma tentativa de sedução, que se formos comparar à de
 Arthur, estava mais para tentativa de decepção.
- Olá,
 Lua. Como você está bonita hoje! Meu Deus, a cada entrega você parece mais incrível.
Fechei os olhos, já pensando na melhor maneira de pegar a pizza e bater a porta na cara de Rico. Ele era um dos meus mais odiados admiradores, juntamente com o cara da Starbucks que amava tocar minha mão ao me entregar os muffins do meu chefe, que eu sempre buscava todas as manhãs. Assim como o cara da gráfica do jornal, que sempre arrumava um pretexto para ir até a minha sala me cumprimentar e me fazer um elogio qualquer, nem que fosse o meu cotovelo que era, como ele mesmo dizia, atraente e sensual. Quando eu disse que era carente, não comentei que era carente porque queria, pois na verdade, eu tinha vários desses admiradores. Mas nenhum que me fizesse perder a cabeça. Como... Como aquele cara que estava sentado no meu sofá.
 
Céus, por que eu sempre queria o que eu não podia ter? Por que eu não poderia desejar alguém mais acessível, sei lá, Rico, por exemplo?
- Olá, Rico. - disse entregando o dinheiro a ele.
Rico guardou o dinheiro na pochete, contente. Sim, pochete, ele conseguia ser tão brega assim. E seus cabelos lambidos com brilhantina, afinal eu tinha certeza de que aquilo não era gel, no maior estilo John Travolta em Grease, faziam tudo ainda pior. Era exatamente por isso que eu não poderia desejar caras acessíveis, eles conseguiam fazer com que eu enojasse a espécie masculina. E o que quer que fosse que eles passavam no cabelo.
- Mas conte-me, como anda tudo no trabalho?
- Bem, obrigada. - estendi a mão para pegar a pizza, mas ele continuou apoiado nela, conversando nem ao menos parecendo perceber que eu não estava com a mínima vontade de conversar. Ou de ficar olhando para o kit “mamãe, eu ainda estou nos anos 70” composto de brilhantina e pochete.
- E quando vai me dar a honra de te levar para jantar?
Céus! Ele definitivamente não se cansa de fazer essa pergunta. Um dia tentei pedir a pizza de sabor diferente, apesar de meu preferido ser mussarela, apenas para ver se mudaria a pergunta. Grande engano. Ele me convidara para sair, descaradamente. Minhas desculpas estavam ficando cada vez mais furadas, mas mesmo assim ele ainda se dava ao esforço de continuar convidando. Eu tinha esperança de vencê-lo pelo cansaço. Mas ao que parecia, minha estratégia não parecia estar sendo bem sucedida.
Estava prestes a gemer um “De novo, Rico?”, mas em voz alta desta vez, quando
 Arthur apareceu do meu lado, sem a camisa de baixo e apenas com aquela camisa xadrez aberta para cobrir, ou tentar parcialmente fazer isso, aquele peito sedutor. Os tênis também não estavam mais em seus pés e naquele momento, ele passava um de seus braços ao meu redor, me deixando momentaneamente sem saber o que fazer. Eu não tinha nenhum fetiche por pés, mas poderia passar a ter se ficasse olhando para os de Arthur. Eles eram grandes e bonitos, por isso fiz questão de apagar da minha mente o que as mulheres do jornal costumavam dizer sobre a equivalência do pé com partes mais interessantes do corpo masculino.
- Ah! O entregador? Valeu pela pizza, amigão! - disse
 Arthur como se fosse um terráqueo normal agradecendo ao entregador e pegando a pizza dos braços de Rico, que estava sem ação e olhava para Arthur como se tivesse sido apunhalado. Qual é? Ele não estava pensando que eu iria casar com ele, não é?
- Você... Você...
- Eu? -
 Arthur perguntou apontando para o próprio peito com um sorriso que eu poderia chamar de falso. - Eu sou o companheiro da Lua.
Cogitei seriamente a hipótese de chamar uma ambulância para acudir Rico, que estava prestes a ter um ataque cardíaco, mas que se recuperou com dificuldade olhando para
 Arthur com incredulidade.
- Companheiro? Companheiro como? Está dividindo o apartamento com ela?
Os olhos arregalados de Rico passaram por todo o corpo de
 Arthur e depois olhou para si mesmo como se estivesse comparando as chances de Arthur comigo. Era óbvio que entre Arthur com aquela camisa xadrez aberta e a pochete estranha de Rico, a minha escolha era clara. E não era a pochete, vamos deixar bem especificado.
- Estou dividindo a cama, a casa, a vida. Em breve dividirei meu sobrenome com ela também.
Rico arregalou ainda mais os olhos, me fazendo temer por alguns instantes que ele tivesse realmente um ataque cardíaco. O que não era impossível, considerando a vermelhidão do rosto dele e a falha de sua respiração. Eu não estava em melhores condições, apesar de exteriormente parecer muito bem, internamente eu estava com as palavras de
 Arthur reverberando dentro de mim, como se ecoasse dentro do vazio. Dividir o sobrenome com ele, além da cama e da vida era difícil de lidar, mesmo sendo apenas uma mentirinha, eu ficara tensa demais, já que não pudera impedir minha mente de imaginar isso.
- Eu não esperava por isso. - ele disse segurando o pranto com dificuldade. Céus, ele não choraria na minha frente, choraria? Seria muita breguice até para ele, o Rei da Pochete. Mas ele levantou a cabeça, parecendo mais controlado e disse com uma dor que me comoveu - Seja feliz,
 Lua. Para sempre. 
E com essas palavras ditas em um tom muito magoado, Rico se virou chorando alto pelo corredor, finalmente liberando as lágrimas. Estiquei o pescoço para fora, olhando para Rico que começara a correr até o elevador.
- Por que fez isso? - quase gritei com
 Arthur, me sentindo furiosa. Eu podia não ceder aos avanços de Rico, achar ele ridículo e brega, mas isso não significava que gostaria de ferir os sentimentos dele. Há anos Rico tentava sair comigo e eu sempre era educada, respondia que não podia, que tinha outros compromissos e mais um milhão de desculpas muito idiotas, mas mesmo assim resolvia tudo por mim mesma. - Eu poderia ter resolvido sozinha.
- Não, não poderia. - ele disse voltando ao sofá, se jogando em frente a televisão e abrindo a pizza no seu colo. - Você não tinha idéia do que ele estava pensando.
- E você sabia, não é? - fui irônica batendo o pé esperando por sua resposta, apoiada na porta já fechada.
- Sabia, e exatamente por isso fui te salvar.
Como ele conseguia ser tão presunçoso? Era alguma coisa que deveria vir de fábrica do planeta dele, já que ele não abandonava a soberba um segundo sequer.
- Não preciso que me salvem!
- Não é o que toda mulher da Terra quer? - ele ergueu as sobrancelhas naquele jeito arrogante. - Vocês não querem um homem forte e bonito para ser o príncipe encantado de vocês e salvá-las para o tal “felizes para sempre”?
- Eu não quero um príncipe. Eu estou bem assim. - disse brava. Eu não gostava que tocassem nesse assunto de “felizes para sempre”, apesar de querer passar a imagem de que não acreditava nisso nem por um segundo, não era assim que as coisas funcionavam, na realidade. Eu acreditava, esse era o maior segredo que eu guardava. Tirando o fato de que apesar de ter sido magoada e traída várias vezes, eu ainda esperava que houvesse nesse mundo um príncipe encantado para mim. Mesmo sabendo que se ele não aparecera ainda, é porque ele realmente não existia.
- Que mentira!
 
Avancei na direção dele, furiosa por estarmos tocando naquele assunto e também por ser chamada de mentirosa, e ele se ergueu, pegando-me pelo pulso, puxando-me para perto dele. Eu abaixei a cabeça, ficando tensa, e ele ergueu meu rosto me segurando pelo queixo, me fazendo olhar nos olhos dele.
- Eu não parti o coração do seu Rico. Apenas mostrei para ele que você merece e pode ter muito mais. Pode ter a mim.
Eu sabia que depois de algumas palavras lindas ele voltaria com sua idiotice arrogante.
- Mas eu não quero.
Arthur me puxou ainda mais contra o seu peito e nossos narizes quase se encontraram, me deixando prever um beijo, que ficou apenas na minha imaginação.
- É o que veremos. - ele respondeu voltando para o sofá em seguida.
 
Meio tensa, saí da sala e fui para o meu quarto ligar para
 Mel e saber se ela estava tão perdida quanto eu. Na verdade, eu não estava perdida, ficaria perdida se aquela semana não passasse muito rápido, porque eu me conhecia.
E bem o suficiente para saber que eu não conseguiria resistir por muito tempo.
 


                                                                                                                 Direitos Autoriais: Elle S.

17 comentários:

  1. AAAAAAAAAAAAAAA vai postar amanhã né Bruna ? Por favooooooooooor !

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  2. Maravilhosa esta web,posta mais por favor!

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  3. fiquei ate esse hora esperando vc postar posta logo pfpfpfpf ta que num da pq ta tarde mas posta depois

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  4. +++++++++++++ por favor posta mais to adorando essa novela :)

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  5. Essa web está ótima , parabéns !

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  6. POSTA MAIS CARA EU TO TENDO UM ATAQUE CARDIACO IMAGINANDO ESSA CENA!! RSRS +++++++++++

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  7. posta entrei denovo pra ver se vc tinha postado posta ++++++++++++++++++++++ to curiosa para saber a continuação

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  8. posta logo ainda estou aqui esperando to tentando imaginar o que vai acontecer nos proximos capitulos
    posta rapido antes que vc mate os fãs de curiosidade

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  9. AAAAAA morrendo em 1,2,3....

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  10. maneraço que cenas sao essas em? to anciosa pelo proximo capitulo

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  11. Meu Deus eu vou ter que me esforçar muito para aguentar até amanhã para mais um capitulo.Uma das melhores webs que já li.Posta Mais pf *-*

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  12. Posta maiss e maisssssssssssssssssss
    Adoro sua webbbbbbbbbbb
    Ahhhhh faz logo o Arthur beijar ela?
    Vc vai contar detalhes da primeira vez deles?

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  13. posta mais ta incrivel.Ai meu Deus que lindo posta mais.Perfect

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  14. Maissssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

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  15. Posta mais por favor.Não me deixa nesta curiosidade! Estou amando sua web!

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