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08/08/2012

"Contato Imediato"

       Capitulo 9
             

Nove

Liguei para
 Mel de dentro do metrô, mais tarde quando estava indo para casa, finalmente, depois de ter resolvido todos os pormenores financeiros da viagem e ela estava alvoroçada, como sempre era, mas dessa vez com um motivo concreto. A funcionária do turno da tarde do Mundo Exotérico, loja onde Mel trabalhava avisara-lhe que a ARE estivera na loja atrás dela.
- Eles passaram aqui na redação, também. Temos que levá-la para Wyoming o mais rápido possível. – contei enquanto atravessava os montes de pessoas nas escadas rolantes.
- Eu... Eu... Concordo.
- O que houve,
 Mel? - perguntei quando ouvi a sua voz ficar num tom estranho.
Ela era conhecida por ter sempre a voz muito alegre, mas dessa vez ela estava num tom tão dolorido que me deixou tensa.
- Não posso deixá-lo partir. Não posso.
O choro de
 Mel permaneceu na linha por alguns instantes enquanto eu não sabia o que dizer. Ela não podia estar apaixonada. Não tão rápido. Mas estava. Era tão natural para ela que sempre se apegava mais rápido às pessoas. Mas eu não queria pensar na paixão dela, eu deveria ser prática.
- Onde você está?
- No Village. Estamos no seu apartamento. Como eles já falaram com você, não creio que eles venham até aqui.
- Certo. isso faz sentido. - disse enquanto andava até um último lugar vazio no fundo do vagão. - Fiquem aí, não saiam nem se a Madonna parar no portão e fizer uma apresentação ao vivo de Like a Virgin. Pegue uma mochila no meu armário e junte roupas do Ryan e algumas minhas. Acho que podemos dividir algumas peças, não quero arriscar pedindo-lhe para passar na sua casa, ou passar eu mesma. Creio que eles estejam vigiando a sua casa. Entendeu?
- Tudo bem,
 Lua. 
- Fiquem seguros. E
 Mel...
- O quê? - ela disse chorosa, partindo meu coração de amiga.
Sempre fora difícil para mim ouvir ou ver
 Mel chorar. Era como se eu não fosse forte o suficiente para protegê-la, coisa que eu fazia de tudo para fazer bem.
- Vai ficar tudo bem. Acredite em mim.
- Eu acredito. - respondeu. - Venha logo para casa, quero ir para Wyoming o mais rápido possível.
E eu sabia o porquê. Quanto mais rápido nos despedíssemos deles, menos quebrado, nossos corações ficariam.
O que eu estava falando! Sem chance!
 Arthur não quebraria meu coração, não existia essa possibilidade, e mesmo que ela existisse, eu não deixaria que ele fizesse isso. Eu estava blindada. Eu aprendia com meus erros e aprendera com os meus ex-namorados panacas e idiotas, e era mais que claro que Arthur era desse tipo. E eu já estava cansada de homens assim. Mel entregara o seu coração a Chay , mas eu resistiria o máximo possível e não deixaria que ele ficasse em minha cabeça tempo o suficiente para trilhar um caminho direto ao meu coração. Nem mesmo buscar um atalho. Eu não entregaria meu coração e ponto final. 
Saí do terminal e o céu já estava quase completamente escurecido com as nuvens grandes e já carregadas de neve. Do terminal à minha casa não era um caminho muito longo, e a minha pressa para chegar logo em casa e preparar tudo para a minha viagem urgente, fez com que eu atravessasse as ruas até minha casa numa velocidade recorde que só era alcançada quando eu estava realmente atrasada para o trabalho. O que acontecia sempre uma vez por semana.
Estava quase alcançando o muro do meu prédio quando fui brutalmente agarrada por trás e jogada contra o muro. Quis gritar, mas uma grande mão com um cheiro não desconhecido para mim chegou à minha boca, me fazendo querer vomitar e gritar ao mesmo tempo.
O pavor estava gelando o sangue em minha veia e tornava tudo mais assustador. Minha cabeça doía por ter batido contra a parede e senti o enjôo ficar mais forte.
 
- Não posso suportar essa traição,
 Lua. Você não tinha esse direito! – a voz de Rico era furiosa em minha orelha e suas mãos puxavam meus cabelos quase arrancando-os. 
Tentei me libertar de suas mãos iradas, mas ele jogou-me novamente contra a parede de tijolos do prédio vizinho, enquanto eu o encarava com os olhos arregalados de surpresa e medo. Rico não podia estar fazendo aquilo comigo. Ele era um bom homem.
 
Mas a sua expressão desmentia meus pensamentos. A sua cara estava completamente vermelha e a sua pochete estava machucando a minha cintura, já que estava pressionada contra ela. Os seus olhos brilhavam de raiva e mais uma vez, ele puxou o meu cabelo quase arrancando os fios com a sua força e aproximou meu rosto do dele.
- Diz que você vai ficar comigo,
 Lua. – ele gritou em meu rosto. – Aquele homem não é pra você. Você sabe que não é! Eu sou. Eu sou seu homem, Lua. Eu.
Tentei desvencilhar-me dele, mas não consegui. Rico além de mais forte, estava motivado pela raiva e eu sabia que ele não me soltaria. Ele lambeu meu rosto da forma mais nojenta como um cachorro marcando o seu território sobre mim e eu tentei gritar novamente, mas a sua mão em minha boca ainda não me deixava fazê-lo.
O pânico aumentava a cada segundo. Tentei pedir para que ele me soltasse. Tentei gritar, mas não conseguia fazer nada disso.
 
- Diga,
 Lua. Diga que me quer.
Eu não diria nem mesmo se pudesse dizer isso. Rico poderia ter alguma chance comigo, quem sabe, quando abandonasse a pochete, a brilhantina e o look anos 80. Mas ele demonstrara que não era nada mais nada menos do que apenas mais um dos idiotas e panacas que sempre se interessavam por mim. Eu já havia desistido de São Valentim. Não, ele só podia estar empenhando todo o seu talento em arruinar toda e qualquer possibilidade de vida amorosa que eu pudesse ter.
Mas naquele momento, o medo estava mais forte que qualquer pensamento sarcástico e irônico. Eu não sabia do que Rico era capaz, mas já começava a ter uma idéia de que não poderia ser algo bom quando senti, mais uma vez, os tijolos ferirem minhas costas e meu cabelo ser quase arrancado novamente, enquanto eu sentia uma dos dos infernos na cabeça que já batera inúmeras vezes contra o muro. Agora, além da dor e da raiva, vinha um terceiro sentimento. O nojo.
 
A boca de Rico beijava o meu pescoço com força, deixando marcas doloridas, externa e internamente. Ele parecia querer me fundir contra a parede, me prensando mais ainda a ela, me deixando mais machucada, a minha cabeça latejava tanto que estava tornando tudo mais irreal e estranho. Como se aquilo fosse apenas um dos piores pesadelos que eu já havia tido. Mas eu sabia que não era um pesadelo. Era real. O nojo pulsava em meu corpo, me mostrando o quanto de verdade toda aquela situação tinha. Com a boca dele sobre a minha, sua mão que até agora a tampava pode ter acesso contra o meu corpo, sem pudor algum, passando a mão por todo ele. Meus cabelos puxados com toda a força possível, faziam com que a dor nela fosse milhares de vezes pior.
Eu precisava de Socorro, mas não tinha como gritar por ele, pois a mão ou a boca de Rico sempre abafavam meus gemidos e pedidos por ajuda.
Estava prestes a rezar quando, de repente, o corpo de Rico saiu da minha frente de uma vez e fui puxada contra os braços de uma segunda pessoa. Dessa vez não fora como quando Rico me puxara para seus braços. Dessa vez eu me sentira protegida, acolhida por aqueles braços fortes e protetores. Eu não conhecia o dono deles, mas tinha a plena consciência de que não queria sair de lá nem por um instante.
No exato momento em que aqueles braços rodearam-me, toda a dor que eu sentia ficara em um segundo plano, deixando com que uma calma e calor passassem para o meu corpo.
- Ela é minha! Minha, seu idiota! Ela nunca ficará com você.
 Lua me ama. Ela é minha, você já deveria saber.
- Saia daqui, Rico. – a voz de
 Arthur era tão calma quando o seu abraço, mas pude perceber o tom ameaçador de suas palavras, e garanto, pelo passo recuado que Rico deu, que ele também percebera o mesmo. – Saia ou eu não responderei pelos meus atos e darei a surra que você merece. Fique longe de Lua ou não tem idéia do que eu posso te fazer.
- Não me importa o que você pode fazer ou não.
 Lua é minha.
E de uma vez, Rico partiu para cima de
 Arthur que soltou-me e deu um soco mais que potente no nariz dele, derrubando-o no chão. Afastei-me da briga, ficando numa quina do muro contra uma parede e quis me fundir a ela, abraçando-me e tentando desesperadamente não começar a chorar pelo choque do que eu havia acabado de passar.
Arthur chutava Rico com força, fazendo o homem se contorcer de dor e cuspir sangue na guia. Depois que achou que a surra era suficiente,
 Arthur veio até o meu cantinho e abraçou-me com mais força, fazendo com que as lagrimas que eu estava represando, saíssem a cântaros, derrubando-se na camisa dele.
Enterrei meu rosto em seu peito amplo e fui reconfortada pelos seus braços fortes que me abraçavam com ternura e suas mãos, que faziam um cafuné suave em meus cabelos doloridos, acalmando tudo em meu interior e deixando que apenas as lágrimas dissessem o quanto aquele dia fora duro para mim e o quando a tensão daqueles últimos momentos fora grande.
- Shh, acalme-se. Eu estou com você.
 
As lágrimas ficaram mais fortes e enterrei bem mais profundamente meu rosto em seu peito. Eu sentia meu coração palpitar com força após as palavras dele.
 Arthur me salvara. Apesar de eu achá-lo o cara mais panaca e idiota da face da Terra, ou do Universo, ele provara exatamente o contrário, salvando-me sabe-se lá do que poderia acontecer, caso ele não chegasse a tempo.
Minhas pernas estavam como gelatina de hospital, moles e sem vida, devido ao pânico que eu sentia, por isso me debrucei ainda mais em
 Arthur , que entendeu o que acontecia e me amparou com delicadeza. 
- Vem, vamos para casa. – com um gesto acolhedor, ele se abraçou mais a mim e me conduziu ao meu prédio, não tirando seus braços do meu redor nem quando entramos no elevador, enquanto eu dava graças por Jesus, o porteiro não estar no local. Ele era um amor de pessoa, mas gostava de perguntar demais sobre a vida dos moradores e eu com certeza não estava na melhor dos meus dias para lhe dar uma resposta educada. E eu não queria ser grossa com Jesus.
O meu corpo inteiro tremia enquanto o elevador parava no terceiro andar estranhamente, já que ele quase nunca funcionava. Minha cabeça ainda doía e rodava enquanto eu pensava sem parar no que poderia acontecer se
 Arthur não tivesse chegado e me resgatado. Eu estava tensa ainda, sentindo dores nas costas e na cabeça onde eu havia batido contra a parede e estava muito nervosa, mas graças a Deus eu não estava mais chorando que era a coisa que eu menos gostava de fazer. 
Ainda mais na frente de
 Arthur .
Eu estava bem abalada. A dor não era apenas física e a interior era o que me fazia chacoalhar-me convulsivamente na direção de
 Arthur , que entendia e não falava nada, apenas me abraçando com mais força contra si, acalmando-me como nunca ninguém conseguira antes. 
Ele me abraçou mais uma vez antes de abrirmos a porta. E sussurrou algo no meu ouvido que eu não entendi direito o que era. Parecia russo, mas eu não entendia russo e nem nenhuma língua além de inglês e espanhol, e já me achava uma vitoriosa por entender essas duas.
“Mra T” alguma coisa, o que ele me dissera, mas eu não sabia o que era. E eu estava abalada demais para pensar em algum tradutor online para entender. E tradutor online nenhum deveria ter uma língua alienígena.
Arthur abriu a porta e assim que
 Mel, que estava passando em direção à cozinha, viu o meu estado, imediatamente me tomou dos braços de Arthur , de onde saí com muito esforço, tanto da parte dele, quando da minha. Parecia que nossos corpos haviam achado o encaixe magnético perfeito e nunca mais se separariam, mas Mel cuidou disso, me levando para a cozinha, onde poderíamos conversar mais a vontade.
Assim que meu corpo e o de
 Arthur se separaram e eu rumei para a cozinha, meu corpo começou a tremer imediatamente, como que sentindo falta do calor de Arthur que era única coisa que fazia com que o choque de toda aquela sensação não fosse tão intenso.
-
 Lua! Meu Deus! O que aconteceu?
Ela tentava manter a voz baixa para que eles não nos escutassem na sala, mas a preocupação não deixava que a voz dela ficasse baixa, do jeito que ela queria que ficasse. Encarei-a séria e vi seus olhos inchados de tanto choro, o que me fez esquecer todo o tormento que eu havia passado mais cedo e obrigou-me a preocupar-me com
 Mel. Eu sabia exatamente o motivo de tantas lágrimas. Virei a cabeça na direção da sala e vi Arthur e Chay sentados lado a lado, se encarando seriamente como se conversassem, mas sem mexerem os lábios momento algum. Depois de alguns instantes naquela conversa silenciosa, ambos abaixaram a cabeça aparentando sentimentos novos e conflitantes. Chay aparentava um pesar estranho que fizera seu rosto se contorcer. Arthur tinha uma expressão de dor, como se algo dito naquela conversa o magoasse tão profundamente que a dor era quase física.
-
 Lua! – Mel chamou minha atenção, fazendo-me olhá-la com os olhos cheios de preocupação e culpa por não estar prestando atenção nela.
- Desculpe-me. Eu... Eu ainda estou um pouco abalada. – mais uma vez ela perguntou o que houvera e eu respondi de pronto. – Rico tentou abusar de mim. Ele me pegou do nada e ficou gritando coisas como eu ser dele, que ele me amava e passando a mão no meu corpo e... E... Eu não conseguia gritar. –
 Mel abraçou-me com força, fazendo, mais uma vez com que as lágrimas caíssem com força e rapidez pelo meu rosto, deixando com que toda a minha tensão fosse liberada através das lágrimas. – Então Arthur chegou e eu não gosto nem ao menos de pensar no que poderia ter acontecido se ele não houvesse chego.
Ela afastou-se por alguns instantes, agora segurando minhas mãos nas suas, como se para que eu soubesse que ela nunca me deixaria sozinha e lançou um olhar na direção da sala, depois franziu a testa de um jeito tipicamente dela que eu costumava ver muito quando ela estava estudando para alguma prova difícil e conseguia, sempre surpreendentemente conseguindo guardar as respostas por mais tempo do que eu.
 
- Eu estava arrumando suas mochilas, enquanto os garotos assistiam TV, quando de repente ouvi a porta bater, vim para a sala e
 Chay disse que Arthur tinha saído. No momento não entendi, mas agora a saída brusca dele, faz todo o sentido. Ele estava indo salvar você. Só não sei como ele sabia como você estava em perigo.
Nem eu. Inconscientemente, meus olhos se fixaram em
 Arthur e ele levantou seus olhos chocolates para mim, me deixando instantaneamente sem respiração.
- Eu sabia que aquele Rei da Cafonice não era uma boa pessoa. Alguém que usa brilhantina e pochete só pode ser um criminoso. Da moda, em especial.
Por mais tensa e confusa que eu ainda estivesse, não tinha como não rir ao lado de
 Mel. Ela conseguia aliviar todas as minhas emoções ruins apenas estando ao meu lado. Eu sabia que ela estava tentando apenas quebrar o clima ruim com aquela piadinha completamente sem graça, ela queria apenas me animar um pouquinho. E amei-a bem mais por isso. E eu já amavaMel mais do que qualquer um poderia.
Ainda segurando minha mão, ela pediu para que eu fosse tomar um banho quente e sabendo que eu não teria forças para me levantar sozinha, me empurrou na direção do carro de uma maneira bem engraçada, o que me fez dar uma risada alta quando chegamos à porta do quarto quase batendo em algumas paredes.
- Por que não dorme um pouco? Vai fazer você se sentir melhor.
- Não posso dormir. Temos que ir para a estrada assim que eu sair do banho. Quanto mais rápido sairmos daqui, mais rápido acabaremos com isso.
- Mas,
 Lua...
- Não,
 Mel. Vamos sair ainda hoje e chegaremos com folga de tempo a Wyoming. Meu plano está bem arquitetado e não quero adiamentos. – eu disse com a voz firme, o que surpreendeu a mim mesma. Eu não estava tão firme quanto aparentava, por dentro.
Mel inclinou a cabeça, pensando se valia a pena discordar comigo, mas apenas me deu um beijo na testa e saiu do quarto, fechando a porta com cuidado.
Caminhei para o banheiro da minha suíte, observando as mochilas preparadas por
 Mel todas em cima da cama, ao todo duas. E eu tinha certeza de que ali dentro realmente teria tudo o que precisaríamos naquela viagem, até um pouco mais também.
Peguei algumas roupas quentes que ela não tinha incluído nas malas, de dentro do armário, prevendo que a viagem seria fria, já que Nova York era fria, mas Wyoming naquela época do ano conseguia ser ainda pior. As estradas também deviam estar apavorantes de tão geladas. Eu estava calculando quanto de frio encararíamos em cada parada quando um barulho à porta chamou a minha atenção. Virei-me com cuidado e vi
 Arthur parado, encostado ao batente com uma expressão estranha, como se estivesse me analisando e não gostando do resultado de sua analise. A dor que eu pensara ver em seus olhos naquela hora, ainda estava presente. 
O meu coração estava batendo forte, apenas em vê-lo ali parado, dentro do meu quarto, como eu sonhara mais cedo. Ele deu um passo à frente, e este passo pareceu estar sincronizado com o meu coração que bateu mais forte ainda.
 
- Eu vim ver se está tudo bem.
A minha garganta estava seca, o meu coração que batia rápido demais não estava me ajudando a articular frases que fizessem sentido então resolvi apelar para os monossílabos até a minha voz se recuperar.
- Sim. – a visão dele no meu quarto não estava ajudando em nada. – Eu... Agradeço muito por você estar lá. Eu agradecerei até o resto dos meus dias.
Eu estava verdadeiramente grata, e fiquei contente ao ver ele abaixar a cabeça parecendo envergonhado. Outra reação que passou depressa, logo o seu olhar duro retornou e ele pareceu buscar um jeito de dizer o que o estava torturando daquela maneira.
 Arthur abriu a boca, com os olhos chocolates fixos em mim e depois deu aquele sorriso arrogante, que por mais que eu detestasse admitir, mexia comigo de uma forma sobrenatural. Tão sobrenatural quanto a nossa conexão física, aquele jeito tão dele de mexer comigo.
- E no fim, eu estava certo. - ele arqueou a sobrancelha esquerda, com um sorriso de escárnio. - Você precisava de um príncipe para salvá-la. Ou seja, eu sou o seu príncipe encantado, ou seja lá como vocês terráqueas sonhadoras o chamam.
Fuzilei-o com o olhar e quis dar um soco naquela cara tão perfeita e linda dele por ser tão presunçoso e arrogante. Para não dizer um palavrão daqueles, mordi a minha língua, controlando a pulso a raiva que eu estava daquele... Idiota. Era sempre assim com ele? Um gesto gentil e quinze demonstrações de quão filho de uma vaca ele podia ser? E daí se eu era uma terráquea que ainda desejava um príncipe encantado, apesar de saber que ele não mora em Nova York e em nenhuma das cidades do condado que eu já visitei? Provavelmente nem em todo o território americano deveria existir um homem que fosse o meu príncipe encantado. Se toda panela tinha a sua tampa, eu com certeza era algum tipo de frigideira sem tampa e cabo.
- Já agradeci, certo? Já viu que eu estou bem, certo? Então pronto. Pode sair do meu quarto, grande príncipe salvador de donzelas em perigo da galáxia. Você está impregnando o meu quarto com essa sua arrogância de alien e eu não quero gastar dinheiro com desorizadores para ETs. OK, pode ir agora, príncipe.
Acho que acertei o alvo, pois
 Arthur saiu do meu quarto batendo a porta e dizendo algo que eu não entendera, mas soara como "Príncipe não, ainda." ou qualquer coisa assim. Eu não quis dar mais atenção a ele. Eu já tinha dado o suficiente por um dia, e ele simplesmente me dera mais uma prova de que ele era apenas um alien idiota.
Sim, eu não negaria que ficara toda encantada quando
 Arthur me salvara, mas ele mesmo fizera questão de quebrar aquele encanto.
Tirei a roupa e entrei no banheiro com a cabeça fervilhando de questões sobre esses comportamentos estranhos dele e dez minutos depois eu já saia do quarto vestida e com as duas mochilas no ombro, preparada para partir.
 
Quanto menos tempo eu demorasse, mais rápido eu me veria de
 Arthur , e isso era quase um presente de Natal para mim. 
Arthur estava jogado em um dos sofás, como sempre, com os pés na minha mesinha de centro, já bem agasalhado com um dos casacos de inverno de Ryan e parecendo lindo como um daqueles modelos da Calvin Klein.
 Mel e Chay dividiam o sofá restante, bem abraçadinhos e sussurrando coisas no ouvido um do outro.
Resolvi assistir o casal de longe e vi
 Chay sussurrar algo no ouvido dela, que sorriu contente e deitou a cabeça no peito dele enquanto ele sorria de volta com aqueles olhos chocolates brilhando de contentamento e amor.
Era a primeira vez que eu via olhos chocolates transbordarem tanto amor e por segundos sem fim, invejei
 Mel.
Resolvi assistir o casal de longe e vi ele sussurrar algo no ouvido dela, que sorriu contente e deitou a cabeça no peito dele enquanto ele sorria de volta com aqueles olhos chocolates brilhantes.
Era a primeira vez que eu via olhos chocolates transbordarem tanto amor e por segundos sem fim, invejei
 Mel por ter encontrado o seu príncipe encantado.
Arthur parecia ser tão diferente de
 Chay que as vezes duvidava que eles pudessem ter vindo do mesmo planeta. Com certeza Arthur viera de algum lugar bem escroto da galáxia, para ser filho de uma mãe daquele jeito. Se existisse alguma fossa no planeta deles, eu apostava que era de lá que ele teria saído.
- Ei,
 Lua chegou, já podemos ir. - anunciou Arthur olhando para mim e se levantando, já rumando na direção da porta, como se estivesse louco para partir de volta para de onde ele viera.Mel olhou em meus olhos, com suas íris brilhando, perigosamente à beira do choro, mostrando que a última coisa que ela queria, era que eles voltassem.
Chay , todo gentil pegou uma das mochilas de meu ombro e levou-a para mim, enquanto uma de suas mãos apertava firmemente a mão de
 Mel, que volta e meia sorria para ele, sem esconder por um segundo que estava apaixonada.
Eu nunca acreditara em almas gêmeas, mas vendo
 Mel e Chay , eu passara a acreditar, aqueles dois nasceram tão distantes, e mesmo assim, nasceram um para o outro. E eu achava isso fascinante.
Quando ela brincava que a alma gêmea dela estava em outra galáxia, ela não estava apenas brincando com algo impossível. Ela achara a alma gêmea dela, e me partia o coração saber que agora que ela havia encontrado a sua felicidade, ela teria que deixá-lo partir.
Era como um velho ditado dizia: “Se ama algo, deixa-a, se tiver de ser, ela volta para você.” Eu brincava que esse ditado era uma perca de tempo, mas ao olhar para
 Mel e Chay , eu esperei que ele fosse verdadeiro. Mesmo se ele fosse embora, eu desejava ardentemente que ele voltasse para Mel, ela merecia ser feliz ao lado dele. E eu, mais do que ninguém, prezava a felicidade da minha amiga.
Depois de colocarmos as mochilas no banco de trás e eu e
 Arthur nos acomodarmos no banco traseiro deixando o máximo de espaço possível, considerando que o carro de Mel era pequeno, entre nós, enquanto Mel e Chay dividiam os assentos da frente, finalmente resolvi olhar em volta, ainda tensa com o que havia acontecido naquele local mais cedo. Meu olhar se fixou no muro onde Rico havia me jogado e meu corpo estremeceu de medo, mesmo sabendo que ele não poderia fazer nada contra mim naquele momento. O medo ainda estava lá, e eu não me lembrava de ficar tão apavorada em toda a minha vida quanto ficara quando Rico me pegara. Mas já havia passado, eu tinha que me acalmar.
Respirei fundo tentando ficar completamente calma, mas isso era quase imposivel, as cenas vinham em minha mente me deixando não mais com medo, dessa vez era a amargura que vinha com as imagens. Me deixando ainda mais inquieta, senti minhas mãos soarem frias e sequei as palmas suadas de medo no assento do carro, me surpreendendo quando a mão firme e grande de
 Arthur ficou em cima da minha, como se quisesse me reconfortar e soubesse exatamente o que eu estava pensando. O que era muito estranho. Arthur smepre parecia saber o que eu estava pensando, como se lesse meus pensamentos e tivesse uma ligação direta com eles. 
- Acabou agora. - ele disse, acalmando-me apenas com a sua voz profunda e tornando a calma ainda maior com a junção entre as suas mãos e a sua voz.
- Eu sei. Graças a você.
Sussurrei de volta, sem olhar para seus olhos, envergonhada por ter agradecido mais uma vez, mesmo depois de tudo o que ele me dissera. Eu não podia olhar em seus olhos sabendo o tipo de reações adversas que eu tinha quando olhava para aquela profundeza cor de chocolate.
Minha atenção se fixou em um carro parado do outro lado da rua com um casal dentro dele. De longe eu não conseguia ver quem era, mas podia divisar que eram um homem e uma mulher, pelas silhuetas, nada mais que isso, afinal eu não era alguém que enxergasse bem no escuro, nem no claro, na verdade. O tempo todo eles encaravam o nosso carro, como se estivessem nos vigiando e só depois de vários minutos, quando
 Mel já alcançara a estrada foi que parei para me perguntar se estávamos sendo vigiados.
Olhei para trás meio assustada e me tranqüilizei quando não vi nenhum carro nos seguindo. Mas não devia relaxar de todo, a CIA deveria saber de alguma coisa, mesmo sem os resultados das analises das pegadas, e eu já queria estar bem longe quando eles recebessem esse resultado.
 
A Cia não era idiota, era claro que eles sabiam que havia alguém ajudando os extraterrestres, mesmo que eles fossem seres superiores, com mais inteligência, como eles proclamavam, especialmente
 Arthur , mas eles não conseguiriam se mover sozinhos no planeta sem conhecer tudo antes. Mesmo conhecendo. Eu mesma sabia o quanto a Terra poderia ser perigosa, o estado de Nova York mais ainda por sinal.
Um ET não duraria dois dias em Nova York sem nave e sem ninguém por ele.
Eu tinha receio até mesmo de pensar no que poderia acontecer quando chegassem os resultados daqueles exames. Eles saberiam que eu havia mentido, não me encontrariam e era aí que as coisas começariam a pegar fogo, como diria
 Mel.
Eu queria estar bem longe quando isso acontecesse. Não queria encarar Izzy e Noah de novo e por mais que eu odiasse dizer isso em voz alta, nem correr o risco de perder
 Chay e Arthur . E eu não precisava enganar a mim mesma o quanto eu tinha medo de perder Arthur , o quanto que eu apertei a sua mão, provou isso. 


                                                                                                             Direitos Autoriais: Elle S.

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