Capitulo 17
Quinta-feira, dia 5 de Novembro, 11:36, matando a quinta aula.
Guys:
Aquilo já estava virando perseguição. Agora, além de tirar a roupa na minha frente - e me deixar completamente surpreso e de barraca armada, diga-se de passagem -, ela estava roubando meus lugares favoritos!?
Mas claro que tudo aquilo era minha culpa… Onde eu estava com a cabeça para pedir sua ajuda? Ela provavelmente era uma daquelas stalkers que só sossegavam quando tinham o que queriam. E o que Lua queria era o meu lindo pescocinho na sua estante.
Não que eu me importasse em morar na sua instante, observando-a trocar de roupas todos os dias depois do banho.
Meu Deus, eu disse mesmo isso?
Mas então olhei direito para ela. Seu cabelo mais claro estava preso num coque desfiado, e sua calça do uniforme estava um pouco menos larga do que o normal. Seus olhos estavam limpos, exceto por uma fina camada de lápis preto na parte inferior, e ela havia passado um gloss rosa claro nos lábios. Estava muito bonita… Daquele tipo de garota que você vê na rua e pensa: “Nossa, se eu fosse me casar um dia seria com essa menina…”, muito diferente da menina que ela era há dois dias atrás, que você veria na rua e pensaria “E lá se vai outra garota que vai ficar para titia!”. Ela ainda não sorria, claro, mas, de qualquer jeito, eu não esperava que a transformação fosse completa no primeiro dia.
Lembrei-me da noite anterior, quando ela cantou The Clash ao meu lado do carro. Eu nunca sentira tanta compaixão por alguém como por Lua naquele momento…
Mas, espera aí, eu estava mesmo pensando em Lua como um garoto apaixonado?
- O que vocês estão fazendo aqui? – perguntei, tentando não olhar para ela. O que era irônico, porque nós estudávamos juntos desde o primeiro ano do ensino médio e meus olhos sempre passavam despercebidos por Lua, e agora que eu queria, não conseguia pensar em olhá-la sem contrair todos os meus músculos.
- Perguntamos o mesmo! – ela rosnou, soltando faíscas. – Esse é o nosso lugar!
- Odeio te decepcionar, Lu, mas esse é o nosso lugar desde que descobrimos que matar aula era legal! – Chay entrou na discussão, bagunçando seu cabelo de um jeito amoroso. Aquilo me fez sentir ciúmes. Eles já eram amigos? Sendo que nunca haviam nem conversado antes?
Meu Deus, eu estava ficando louco. Louco de pedra!
Vodu! Com certeza ela havia feito algum vodu pra cima de mim!
Bom, pelo menos se alguma galinha morta aparecesse na minha janela eu saberia com quem brigar…
- Oi, Soph! – Micael chegou por trás de nós e acenou para Sophia, que estava sentada ao lado de Rayanna, sorrindo. – Chegou bem em casa ontem?
- Oi, Micael! – ela respondeu, acenando com a mão, mesmo estando a menos de um metro de distância dele. – Sim, obrigada por andar comigo até a esquina de casa!
- “Oi, Soph!” – Chay imitou Micael, sentando-se ao lado de Mel, fazendo com que Micael fizesse um gesto bem feio, envolvendo seus países baixos. – E aí, o que vocês estão fazendo de bom aqui? Estudando física?
- Na verdade – Sophia tirou uma garrafa de vinho barato da mochila. –, algo um pouco mais interessante.
- Opa! – Pedro exclamou, sentando-se ao lado de Chay e pegando a garrafa de sua mão. Olhei com o canto dos olhos para Lua, que olhava despreocupada para as unhas. De um jeito lindo. “Foco Thur, foco…” – Não sabia que garotas nerds enxiam a cara!
- Nós nem somos tão nerds assim… – Rayanna deu de ombros, finalmente parando de olhar o jogo de futebol dos alunos do primeiro ano e olhando para nós. – Somos garotas como todas as outras, só que, diferente delas, tiramos boas notas… Mas vocês nunca se deram ao trabalho de descobrir isso, nos chamando de nerds o tempo todo, não é? – perguntou, e eu percebi alguma mágoa em sua voz. Seus olhos passaram por todos nós, se demorando um pouco em Pedro.
- Nós não nos damos ao trabalho de fazer nada. – Pedro deu de ombros, tentando se justificar. – Só queremos nos divertir, não nos preocupamos muito com o que os outros vão pensar. Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha, certo? Não vamos atrás de ninguém, as pessoas que se sentem atraídas por nossa estupidez.
E dá-lhe Pedro!
Elas se entreolharam.
Eu não entendia muito bem essa troca de olhares das garotas. Era tão intenso, como se elas estivessem descobrindo a porra da cura pro câncer. Mas em seguida sempre saía algo do tipo “Haha, essa blusa não é linda?”, o que era um pouco bizarro demais pra minha cabeça.
- Até que isso faz sentido. – Mel disse, concordando com a cabeça.
Sentei-me no único lugar que sobrava, ao lado de Lua. Micael já estava conversando animadamente com Sophia e Chay, Mel, Rayanna e Pedro bebiam o vinho barato de Sophia, conversando sobre banalidades, como se fôssemos um grande e feliz grupo de amigos.
Gay!
- E aí, nossos planos ainda estão de pé? – perguntei para ela, tentando evitar aquele silêncio constrangedor.
- Sim. – ela respondeu, seca.
- Às 14:30?
- Sim.
- Hm… – o que havia acontecido com a garota da noite anterior!? Lua voltara a ser a boa e velha assustadora de sempre? Temia que sim… Mas pelo menos agora ela estava mais bonita ainda…
Ficamos mais um pouco em silêncio, enquanto todos os outros pareciam se divertir. Chay estava até abraçando Mel, enquanto ela ria das suas piadas.
Por que Lua não podia ser divertida assim?
Por que eu não conseguia parar de pensar nela, mesmo que indiretamente?
Por que eu estava sempre querendo chamar sua atenção, desde o dia em que nos conhecemos?
Por que ela não podia ser legal comigo, como todas as outras garotas?
Por que eu não conseguia parar de fazer perguntas para mim, mesmo sabendo que elas não seriam respondidas?
- Eu arrumei o MySpace. – ela disse, se virando para mim. – E chamei todas as pessoas pra festa do Micael.
- Opa, quanto mais mulher, melhor. – sorri para ela, que fez uma cara de nojo e voltou a olhar para frente. – Eu só estou brincando… Por que você tem que ser desagradável sempre?
- Por que você tem que ser idiota sempre? – ela rebateu, ainda sem olhar pra mim.
- Porque esse sou eu. – dei de ombros. – Eu sou idiota.
- Que bom que admite.
- Bom, quer saber? Foda-se. – me levantei. – Vou enxer a cara no Loui’s, lá ninguém me trata mal.
- Ótimo, assim eu tenho paz. – ela respondeu, o que por um lado me deixou aliviado em saber que, mesmo se eu estivesse louco e quisesse algo a mais, ela não iria querer. Mas, por outro lado, fiquei um tanto quanto depressivo. De algum jeito completamente mórbido e distorcido, eu gostava de tê-la por perto.
Deixei o telhado sem dizer nada a ninguém. Ninguém precisava saber da nossa pequena briga, pois iriam distorcer as coisas. “Só brigam porque se gostam”, e como eu poderia gostar dela? Como ela poderia gostar de mim? Éramos de mundos diferentes! Nunca daríamos certo juntos…
Nem sei por que estava pensando em tudo aquilo… Era só mais uma garota, nada que pudesse interferir nos meus planos de vida. Tantas garotas vieram e foram, por que com ela seria diferente?
Seria por que, diferente de todas as outras, ela não estava interessada em mim? Talvez… Mas decidi que não me importaria mais. Se ela quisesse, ela que viesse atrás!
Pulei o muro e entrei no Loui’s. Bebi até dar o sinal da última aula. Loui - que surpresa -, o dono do bar, ficou preocupado quando eu disse que iria sair de carro, principalmente pelo meu estado de loucura, mas não pôde fazer nada. Expliquei a ele que tinha compromissos e que não poderia perdê-los de jeito nenhum.
Afinal, eu era um homem de palavra!
Mas porque algo me dizia que minha promessa de esquecer de uma vez por todas aquela obsessão idiota por Lua não daria certo?
Continua...
Posta mais ? Por favor ? amei amei amei amei amei.
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