Capitulo 98
Domingo, dia 15 de Novembro, 17:39, quarto de hóspedes.
Thur:
Dessa vez ela não havia deixado eu dormir em seu quarto. Pra falar a verdade eu nem sabia por que estava tão bravo, deitado de barriga pra cima na cama dura do quarto de hóspedes… É claro que ela não havia deixado! Eu era um completo estranho aos seus olhos! Ela provavelmente só estava com medo de que eu a estuprasse.
O que estava me deixando desanimado de verdade era saber que eu havia pensando em um final de semana totalmente diferente do que eu estava tendo. Eu queria estar com ela, dando uma volta pela praia, comendo em algum lugar legal, passando o resto da noite em algum pub fedorento, enquanto bebíamos cerveja e ríamos. Não preso no quarto de hóspedes que cheirava a mofo enquanto ela dormia em seu quarto, sem ter a mínima ideia de tudo que nós havíamos passado juntos.
Quem eu estou querendo enganar? Eu estava puto com aquela situação. Principalmente porque a culpa fora toda minha…
Ouvi as risadas escandalosas de Taylor no outro quarto, com os amigos. Ouvia também, do outro lado, os barulhos irritantes dos jogos de Dylan, e alguns palavrões de vez em quando. Aquilo era lavagem cerebral. Se continuasse ali me mataria, sem dúvida.
Levantei-me da cama e dei algumas voltas pelo quarto. A minha vontade de fumar era tanta que provavelmente eu enrolaria orégano numa folha sulfite e me sentiria bem só com a sensação de ter algo parecido com um cigarro entre os dedos.
Saí do quarto, sentindo que as paredes se fechariam se eu não o fizesse. Caminhei pelo corredor, passando pelo quarto de Lua. A porta estava entreaberta, e não sem antes ver se ninguém estava observando, enfiei minha cabeça - e meu corpo inteiro - dentro do quarto. Ela estava esparramada na cama onde nós havíamos dormido juntos, de barriga para baixo. O quarto cheirava a cigarro.
Ótimo. Ela havia fumado. E eu não.
Sentei-me na beirada da cama, suspirando. O quarto estava escuro, embora o dia lá fora estivesse ensolarado. Sua boca estava entreaberta, e aquela cena me transportava ao fatídico dia em que ficara bêbada em minha casa e desmaiara em meu quarto. Conseguia me lembrar do diálogo que tivemos como se tivesse acontecido ontem.
- Lua? - chamei baixinho. Nada. - Lua, acorda, você precisa ir embora! - ela se remexeu. - Lu?
- Quem disse que você pode me chamar assim? - ela perguntou sonolenta, e eu sorri.
- Há quanto tempo está acordada? - perguntei.
- Há uns 15 minutos… Aliás, obrigada pelo cafuné. - ela brincou, apoiando-se nos cotovelos e olhando ao seu redor. - Seu quarto é legal. - disse, observando os pôsteres na parede.
Naquela época eu ainda não conseguia entender o porquê da minha fascinação por aquela garota. Agora eu entendia. Ela despertava o que havia de melhor em mim.
Isso pode parecer piegas, mas é a mais pura verdade.
Passei as costas da minha mão de leve por sua perna descoberta. Subi para o quadril, deslizando por suas costas. Peguei um pouco do seu cabelo entre os dedos, sorrindo. O xampu tonalizante que havia passado já estava desbotando, e seu cabelo voltava aos poucos a ser escuro e sombrio. Totalmente sexy. Era como se eu a estivesse vendo pela primeira vez, mas agora com novos olhos.
- Hm… - ela gemeu, e eu soltei seu cabelo na mesma hora. - Só mais cinco minutos… - murmurou, virando-se. Assim que seus olhos encontraram os meus ela ficou estática, respirando fundo.
Ficou um bom tempo me olhando, sem expressão, e eu comecei a pensar que ela viraria a cabeça em 360 graus e gritaria em latim que era a encarnação do mal. Sério.
- Lua, tá tudo bem? - perguntei, assim que ela respirou fundo como se não respirasse direito há 17 anos. Ela fechou os olhos, colocando as mãos na cabeça.
Continua...
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