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30/11/2011

"O Melhor pra Mim"

Capitulo 18

Quinta-feira, dia 5 de Novembro, 15:02, estacionamento do shopping.
Lua:
Ótimo… Era simplesmente ótimo! Agora, além de ter que aguentar seu desprezo por minha pessoa, tinha que segurar sua cabeça para que não vomitasse no próprio pinto!
Espero que minha mãe não leia isso.
- Pelo amor de Deus, por que foi beber tanto assim sabendo do nosso compromisso? – perguntei, mesmo sabendo que ele não me daria uma resposta racional.
- Queria evitar a fadiga! – ele citou uma frase do Chaves e começou a rir, enquanto se balançava para frente e para trás, quase me derrubando no seu vômito. Estávamos no fundo do estacionamento do shopping, onde os hippies costumavam fumar maconha, e ele estava apoiado no muro de tijolos marrons. Era o típico cool boy vomitando: em pé, apoiado em alguma coisa. Na verdade era só pose, porque só metade do seu peso estava descarregado no muro. O resto estava em mim.
- Ha ha ha, que engraçado. – virei os olhos.
- Na verdade, eu só bebi pra poder encarar a fera! - ele apontou para mim, rindo. - Sabe como é, você não é flor que se cheire…
Senti meu peito encolher.
Então era isso que ele pensava sobre mim?
- Mas, no fundo… - ele soluçou. - No fundo do meu coraçãããão, eu sei que eu só bebi assim pra poder te dizer algumas verdades! - ele disse, passando seu braço, antes apoiado no muro, envolta dos meus ombros. - Mas agora que você está aquiii… Eu… Num sei! - ele desatou a rir, e eu virei os olhos, me desvencilhando dos seus braços. - Hey, hey, me desculpe! – ele limpou a boca com a manga do uniforme. – Não quis te deixar mais chateada comigo… Mas, hey, esse sou eu! “Thur, seu idiota!” – ele tentou imitar minha voz, mas as sílabas embaralhadas estavam atrapalhando seu desempenho, então ele riu mais um pouco.
- Sim, agora você está mais idiota do que o normal! - disse, mordendo o lábio inferior com força.
- E você mais linda do que eu já havia visto! – ele murmurou, enfiando sua mão direita por detrás do meu cabelo, segurando minha nuca com força. Senti meu rosto ficar quente, mas retirei sua mão de perto de mim antes que fizesse alguma bobagem. – Qual é, Lu, eu não estou brincando! Por que você não me dá uma chance?
- Quem te deu a liberdade de você me chamar de Lu? – perguntei, ignorando sua pergunta e andando firme em direção ao shopping, deixando-o para trás. – Vamos, você já está melhor, está até dando em cima de pessoas alheias, acho que pode me ajudar com algumas compras. - critiquei, mas sabia que se me virasse para olhá-lo, cairia em contradição.
O que ele estava querendo dizer com “Por que você não me dá uma chance”? Era mais uma de suas brincadeiras ou ele falava sério?
Continuei andando, sentindo sua respiração logo atrás de mim. Não que eu me importasse, claro. Ele havia conseguido me deixar com muita raiva! Ao menos uma vez, desde que fechamos nosso acordo, ele poderia ter deixado seu egoísmo de lado e ter me ajudado! Mas não, ele era Arthur Aguiar, e eu temia que não pretendesse mudar nunca.
Mais uma vez, não era como se eu me importasse…
Dei mais alguns passos, então não podia mais ouvir sua respiração. Agradeci por não estar mais sendo seguida de perto por ele. Mas quanto mais me aproximava do shopping, mais sentia que algo estava errado.
Então olhei para trás, só por precaução.
E vi Thur desmaiado no chão.
27 minutos e 23 segundos depois…
Provavelmente quem visse aquela cena acharia que eu o havia matado. Quero dizer, eu estava sentada no banco de trás de seu carro, com sua cabeça mole em meu colo, enquanto tentava reanimá-lo, dando tapinhas leves em seu rosto. Com certeza se algum coxinha passasse por ali, eu seria levada presa.
Thur já estava desacordado por vários minutos, com alguns momentos de lucidez em que abria os olhos e ria, ou somente ficava me olhando de um jeito idiota. Era como se eu fosse uma obra de arte e ele estivesse me analisando. Por um lado me senti lisonjeada, mas por outro eu só queria sair correndo dali. Aquela proximidade estava me fazendo mal. Eu até estava passando a mão por algumas mechas do seu cabelo de um jeito despreocupado! Como se ser carinhosa fosse uma coisa natural pra mim!
Não que eu fosse um monstro sem sentimentos… Mas nunca fora muito de beijos e abraços, e aquela preocupação que estava sentindo não era normal… Na verdade, me sentia uma traidora dos meus próprios limites.
Então, do nada, ele arregalou os olhos.
Pensei que fosse mais um dos seus momentos de loucura, mas dessa vez ele se levantou, colocando as duas mãos na nuca e empurrou a cabeça para baixo. Pensei que ele fosse vomitar e me arrastei para o lado. Mas ele só se curvou e pegou uma garrafa de água debaixo do banco. Deu um grande gole e a jogou no banco da frente.
- Por quanto tempo eu apaguei? - ele perguntou, ainda meio grogue, mas lúcido.
- Não sei… Uns 25 minutos… - respondi.
Ele não respondeu nada, só deitou-se novamente em meu colo e fechou os olhos. Senti todo o meu corpo esquentar, e de repente aquele carro ficou pequeno demais pra nós dois. O que ele pensava que estava fazendo? Só por que cuidara dele bêbado agora pensava que tinha o direito de deitar-se em meu colo sempre que pudesse?
Me remexi, desconfortável.
- Só dois minutos. - ele percebeu minha falta de jeito, falando mais sério do que eu havia visto desde… Desde sempre! - Minha cabeça está quase explodindo… Só dois minutos e eu já levanto.
- Relaxa. - murmurei, rezando para que esses dois minutos passassem bem devagar.
Não que eu quisesse sentir seus cabelos roçarem meu joelho pelo buraco da minha calça do uniforme, muito menos queria ele no meu colo nem nada do tipo… Só queria que os dois minutos passassem devagar para que ele ficasse bem logo e saísse de cima de mim.
Só por causa disso.
Passados alguns segundos, ele se levantou e abriu os olhos de vez.
- E aí, vamos fazer compras? - perguntou, me perfurando com os olhos.
- Então é assim? Você desmaia no meio da rua, eu te carrego até o carro, fico meia hora aguentando você sem dizer nada e o máximo que você consegue chegar perto de me agradecer é dizer “e aí, vamos fazer compras?” - perguntei, me arrependendo de ter sido tão legal. Deveria tê-lo deixado no meio da rua. Pensei que ele fosse me xingar ou me zoar. Pensei que ele fosse me ignorar e sair do carro. Pensei até que ele fosse me expulsar do seu carro e ir embora.
Mas nunca pensei que ele faria o que fez a seguir.
Thur se arrastou para mais perto de mim e, surpreendentemente, segurou minhas duas mãos, sem perder o contato visual.
- Me desculpe. - ele disse, obviamente sem saco para ficar brigando. - Obrigado por ter me ajudado. Estou devendo essa.
É, por aquela eu não esperava…
- N-não foi nada. - gaguejei, surpresa.
Então, para o meu espanto total, ele se curvou para me dar um beijo na bochecha.
Mas, como sempre, eu não podia ser normal e receber um beijo normal de agradecimento no rosto. Eu tinha que ser a maior idiota do mundo e me virar bem na hora, fazendo sua boca acertar a minha.
Vi estrelas.
Não foi devagar, não foi romântico e muito menos apaixonado. Foram só duas bocas se encostando e logo em seguida se separando. Mas mesmo assim eu senti como se fosse desmaiar quando ele saísse de perto de mim.
Assim que nos separamos, Thur deixou escapar um sorriso calmo, saindo do carro logo em seguida sem dizer nada. Observei-o se distanciar e o local onde havia recebido o beijo começou a formigar. Coloquei a mão debilmente por cima dos meus lábios e eles se curvaram, num sorriso idiota.
Aquela, com certeza, era a última coisa que eu esperava que iria acontecer entre eu e Arthur Aguiar! Um pseudo-beijo depois de um porre. Não é uma coisa que se imagina todos os dias… Mas, de algum modo, eu esperava por aquilo desde que ele viera me procurar no parque. Sentia que nós dois iríamos nos ligar de algum modo, mesmo sendo tão opostos.
De qualquer jeito, saí do carro alguns segundos depois. Ele estava apoiado do lado de fora, colocando um Ray Ban para se proteger do Sol das 15h. Fui até ele, e sem dizer nada, nos dirigimos ao shopping. Entramos, e ele passou na minha frente, me guiando a uma das lojas mais patricinhas de lá. Antes de se quer olharmos algo na vitrine, uma atendente reconheceu Thur e começou a perguntar como estava Carla - que depois descobri ser sua irmã mais nova - e quando percebi, estava no provador, com pilhas e mais pilhas de roupas. Thur estava calado, e só falava o necessário. Alguma coisa nele estava esquisita, mas não questionei. Ainda estava um pouco anestesiada do beijo de mais cedo. No final, escolhemos três conjuntos calça jeans e blusinha, dois vestidos, algumas sandálias, duas rasteirinhas e vários brincos, colares e essas coisas, e em menos de uma hora saí de lá com várias sacolas e ele com a promessa de trazer Carla mais vezes.
Ao sairmos, ele já estava totalmente sóbrio.
Andamos lado a lado, em silêncio. Às vezes ele atendia o celular para falar com os amigos, e uma das vezes com uma garota, mas nosso silêncio parecia ser para sempre.
Até que eu o quebrei.
Por um ótimo motivo, diga-se de passagem.
- Fondue! – exclamei, apontando para o quiosque branco e rosa no final do corredor. – Aaaah, que vontade de comer um!
Olhei para ele, por um momento me esquecendo com quem estava falando.
- Acho que essa foi a primeira vez em que a vi dar um gritinho de mulher. – ele disse, recobrando o humor sarcástico.
Nenhum dos dois iria comentar sobre o beijo muito cedo. E aquilo não me incomodava, de jeito nenhum.
Fomos até o quiosque, e ele, mais uma vez provando que tirara o dia para ser cavalheiro - tirando o porre, claro -, e comprou um pra mim e um pra ele. Então fomos para fora do shopping, sentar nos banquinhos perto da área em que as mães apressadas deixavam seus monstrinhos.
- Então, estamos bem? – ele perguntou, virando seu corpo pra mim. – Não era minha intenção te dar todo aquele trabalho. Às vezes eu consigo ser bem irresponsável… Prometo nunca mais fazer isso com você!
- É, pode ser… – me esforcei para não sorrir, deixando um deslize do canto da boca transparecer. – Se você levar a promessa a sério… Porque tudo que eu me prontifiquei a fazer eu fiz. Não posso só te ajudar sem receber nada em troca!
- Prometo que vou tentar! – ele cruzou os dedos ao lado da cabeça. – Palavra de escoteiro!
- E você já foi escoteiro para dar essa palavra? – perguntei, ignorando a palavra “tentar” e não segurando a risada.
- Não – ele pareceu confuso. –, precisa?
Nós dois caímos na risada, e só paramos quando um grupo de garotinhas histéricas se aproximou do shopping. Olhamos para elas, e uma delas olhou para nós dois. Depois sussurrou para a amiga, que também olhou para nós dois. Logo as 10 meninas nos olhavam e se cutucavam.
Era a minha deixa!
- Ok, você vai fazer exatamente o que eu mandar. – sussurrei para ele, pegando um bloco de papel na minha mochila. Ele concordou com a cabeça, um pouco assustado, mas se divertindo às custas da minha aparente loucura. – Você vai dizer, bem alto, “claro que eu te dou um autógrafo, linda!” quando eu disser três. – Olhei para as garotas, que agora estavam paradas em frente à porta automática. – Um… Dois… Três!
- Mas é claro que eu te dou um autógrafo, linda! – ele disse, um pouco mais alto do que eu queria, mas deu certo. Não passados cinco segundos, todas as 10 garotas estavam em cima dele, estendendo cadernos e puxando suas máquinas fotográficas da bolsa.
- Você é o Arthur do Phoenix, certo? – uma delas gritou. – Adicionei vocês no MySpace ontem! Adorei as músicas!
- Cadê o Micael!? – uma delas perguntou.
- E o Pedro!? Cadê o Pedro!? – três gritaram.
Saí de perto, assistindo a cena ao fundo. Aquelas 10 garotas colocariam as fotos no Facebook, cada uma deixando 10 amigas com inveja, querendo uma foto também, mesmo sem conhecer a banda. A corrente estava formada.
Mas o mais curioso foi que, no meio de toda a muvuca, Thur me olhou, sorrindo de um jeito de quem está assustado mas está adorando. E eu pisquei pra ele. Simples assim.
Sentia que estava caindo cada vez mais fundo num poço que não tinha volta. Por mais que mentisse pra mim, sabia que não odiava mais Arthur Aguiar. Talvez até gostasse dele. Um pouco mais do que eu poderia controlar.
Coloquei a mão novamente por cima dos meus lábios e sorri.
Quer saber? Eu estava gostando…

Continua...


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