Lua:
Eu suava em bicas. Meu short agarradinho estava quase entrando em meu corpo por osmose. Minha camiseta branca, largona, estilo estou-grávida-e-ninguém-pode-saber, estava transparente de suor. Minhas pernas queimavam e meus pulmões trabalhavam em dobro.
Cara, aquilo era bom.
Um dos meus maiores vícios era correr. Eu corria todos os dias no mesmo lugar – no parque Cloverfield, o mais tranqüilo da cidade e do lado da minha casa – e no mesmo horário – às 19h. Na terça-feira eu só corria uma hora, e já havia ultrapassado 17 minutos, então resolvi parar quando percebi que meus músculos não queriam mais me obedecer.
- Chega. – ofeguei comigo mesma. Joguei-me no banco onde havia deixado minha mochila da Nike e tomei um longo gole de água da minha garrafinha. Tirei os fones de ouvido porque estavam machucando minha orelha e fechei os olhos, sentindo a brisa esfriar meu rosto e corpo.
Tudo estava quieto.
Paz.
- Finalmente! – abri os olhos assustada, dando de cara com ninguém mais ninguém menos que Arthur Aguiar. – Você sabia que existem 5 parques Cloverfield nessa cidade? Tive que rodar vários quilômetros e gastar mais de 50 libras em táxi pra te encontrar!
Inferno.
- Você tá me seguindo? – perguntei, procurando algo para fazer sem que precisasse olhar para sua cara. Por dois motivos: 1 - Eu não gostava dele. 2 - Ele era muito bonito. Afinal, eu tinha 17 anos e nenhum controle sobre os meus hormônios. Então coloquei minhas pernas em cima do banco e comecei a desamarrar e amarrar meus cadarços.
- Tecnicamente eu somente forcei esse encontro, o que não seria exatamente “seguir”. – ele disse, sentando-se ao meu lado, pegando minha garrafa de água e tomando um gole. – Seguir você seria mais algo como o que você fez hoje de manhã.
Virei meus olhos. Será que ele pensava que o mundo girava em torno do seu próprio umbigo?
- Eu não segui você. – me defendi. – Eu estava procurando meu isqueiro que deixei cair ontem no meio dos arbustos e ouvi você estilizando sua irmã. Ótimo olho para roupas, aliás.
- Você fuma? – ele perguntou, ignorando minha língua venenosa.
- Sim… – admiti, porque eu sabia que era um péssimo hábito.
- E como consegue correr como eu te vi correr agora mesmo? – voltou a perguntar.
Aquela era uma ótima pergunta.
- Prática. – respondi, dando de ombros. – Vai me dizer ou não por que estava me seguindo? Eu ainda preciso voltar pra casa, tomar banho, jantar e terminar o trabalho de psicologia.
- Eu não te segui! – ele exclamou, ofendido. Soltei uma risadinha, achando graça na sua indignação, mas logo fiquei séria. Do jeito que ele era, podia pensar que eu estava lhe dando mole só por rir ao seu lado. – Eu perguntei às suas amigas onde eu poderia te encontrar. Pelo menos elas são simpáticas.
“Vagabundas!” pensei.
- Uns amores. – disse de fato. – E porque você queria me encontrar?
Ele pegou minha mão. Dei um pulinho e uma das minhas pernas escorregou pra baixo. Olhei para ele. Cabelo no rosto, uniforme desalinhado e um sorriso idiota na cara.
Porque Deus não colocava cérebro em garotos bonitos?
- Porque eu estou apaixonado por você! – ele sussurrou. Arregalei meus olhos e ele ficou me olhando, sem dizer nada.
- V-você o q-que? – gaguejei, e ele caiu na risada.
- Brincadeira! – exclamou, soltando minha mão. Voltei a olhar para todos os lugares menos para ele. Depois quando eu dizia que ele era idiota ninguém acreditava em mim. – Você sabe porque eu estou aqui, Lua… Eu preciso mesmo da sua ajuda. Agora ainda mais, porque eu descobri que sua mãe é uma produtora das boas! – ele estendeu um dos chaveiros da minha bolsa da escola.
- Madrasta. – murmurei, pegando-o da sua mão.
- Hãm?
- Madrasta, ela é minha madrasta. – falei mais alto.
- Que seja, madrasta, mãe, tudo a mesma coisa… – ele respondeu, me ignorando. – Você não entende? – perguntou, tirando o Malboro Vermelho do bolso e acendendo um cigarro. – Pra uma aluna de média global 9 e alguma coisa, até que você é bem lerdinha… – disse, soltando a fumaça na minha cara.
Cretino.
- Sabe, moleque, se você fosse um pouco mais humilde, talvez eu pensasse em te ajudar… – eu expliquei, guardando minha garrafa na mochila e pegando meu Luke Strike Silver.
- Não sei por que você está criando tanto caso. Nem parece que sua madrasta é uma das melhores produtoras do país e você só vai ter que estalar os dedinhos pra ela estalar os dedinhos dela! – ele acendeu o isqueiro e colocou na frente do meu cigarro. Traguei profundamente, acendendo toda a volta.
- É meio difícil uma mulher grávida estalar os dedos, eles estão gordos demais pra isso… – eu disse, soltando a fumaça de volta na sua cara. – E eu nem sei porque estamos discutindo isso, eu já disse que não vou te ajudar.
Thur bufou e escorregou no banco, ficando com as costas no assento. Tirei meu pé de cima do banco e peguei minha garrafa de água das suas mãos, colocando-a na minha mochila.
Era de se pensar que eu levantaria e iria embora, certo?
Errado.
Por algum motivo obscuro, eu não saí dali. Fiquei ao seu lado, olhando para o nada. E olha que nós ficamos uns bons 5 minutos daquele jeito! Não sei explicar porque fiquei… Acho que eu esperava que ele implorasse, porque eu sabia que se o fizesse eu aceitaria.
Eu faria tudo por um carro.
- Por favor? – ele finalmente fez o que eu estava esperando. Virei-me para o lado. Ele ainda mantinha aquele sorriso debochado no rosto, mas eu via no seu rosto que estava desesperado.
Dois desesperados.
Não tinha mais escolha… Eu teria que aceitar.
- Não sei… – cedi um pouquinho. Eu queria mesmo vê-lo implorar. Seria como chocolate pro meu ego.
Essa frase existe?
- Por favor, eu preciso de você! – ele exclamou, se arrumando no banco, quando percebeu que eu estava cedendo. – Por favor, por favor, por favor! – suplicou, pegando minhas mãos e balançando-as de um lado para o outro. Seus dedos estavam quentes e macios.
“Para de pensar nos dedos quentes e macios da pessoa que você mais odeia no mundo, Lua!” pensei comigo mesma, soltando minhas mãos das dele. Eu tinha que me manter assustadora pra ele não ficar de gracinha. Não queria que ele passasse dos limites porque sabia que se o fizesse, eu cairia fácil na sua conversa. Nada disso. Nunca que ele iria conseguir alguma coisa comigo!
Nunca!
Nunca?
- Olha, que fique bem claro que eu só vou te ajudar porque você pediu com educação. E porque eu também preciso da sua ajuda. – finalmente aceitei.
Thur abriu o maior sorriso do mundo e começou a beijar minhas mãos, meus braços e minha bochecha. Comecei a rir porque tinha cócegas, mas depois fechei a cara e o empurrei para longe. Ele caiu de um jeito engraçado do outro lado do banco, sem tirar o sorriso idiota do rosto.
- Você ouviu a última parte? – disse, chamando sua atenção. – Eu preciso de um favor seu!
- Faço tudo que você quiser! – ele exclamou, ficando em pé de frente pra mim. – Corto seu cabelo, pago seu lanche pelo resto do ano, qualquer coisa! É só me pedir!
- É só pedir mesmo? – perguntei, sorrindo maliciosamente.
- Sim.
- Eu quero que você seja meu namorado.
Continua..
Nenhum comentário:
Postar um comentário