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09/12/2011

"O Melhor pra Mim"


Capitulo 74

Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 11:03, casa dos meninos.
Lua:
- Irresponsável! - gritei, estressada, assim que Arthur saiu do táxi, meio bambo. - Você é surdo ou o quê? Eu disso 11 horas EM PONTO aqui! E você além de nos atrasar chega bêbado!
- Cuida da sua vida, Lua. - ele respondeu, olhando no relógio do celular. - Você não é minha mãe. E são 11h03, que diferença isso faz?
- Imbecil. - murmurei sem ser ouvida, entrando na casa. Micael e Pedro conversavam e Chay fumava um cigarro, olhando nervoso para a porta. Pelo menos alguém queria que aquilo desse certo. Ao contrário do idiota do Arthur. - Ele chegou. - anunciei, e os três ficaram em silêncio assistindo Arthur passar pela porta e subir as escadas como se ninguém mais existisse além dele. Desceu com as mãos vazias e só aí percebeu que todos os instrumentos já estavam na sala. Mas pelo menos ele estava trocado.
Usava uma calça jeans de corte reto preta, um All Star também preto, camiseta verde escura do Star Wars e camisa xadrez vermelham e cinza por cima.
Apesar de tudo, ele estava muito gato. Muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito gato.
Por quê, Deus!? Por que você tinha que me castigar assim!? Sempre fui uma menina tão boa!
- Hm… Lua? Tá tudo bem? - Micael perguntou, passando a mão na frente do meu rosto. Tirei os olhos de Arthur, que estava com aquela risadinha de desdém na cara, e senti minhas bochechas esquentarem.
- Sim, tá tudo bem. - respondi ríspida. Coloquei meus óculos de sol D&G e fui em direção à porta. - Vamos então?
Os quatro me seguiram, colocaram os instrumentos em uma Van prateada e entraram na outra, exatamente igual. Fui na frente com o motorista e Pedro, e os três foram atrás. O lugar ficava perto de um lago, e era super movimentado àquela hora do dia. Estava nervosa por eles, mas sabia que se sairiam bem. Afinal, pelo menos uma coisa eles faziam bem: Música. Eu crescera nesse meio, e sabia distinguir o que era bom e o que era ruim. E o Phoenix estava a um passo do estrelato.
Infelizmente eu havia feito um puta favor a quem não merecia. Mas os outros três compensavam tudo.
- Sabe, ele não é tão idiota assim, só está nervoso com o show. - Pedro sussurrou ao meu lado. - Ele tem medo de palco. Palcofobia. - ele riu da própria piada.
- Como ele tem medo de palco e quer ser um rockstar? - perguntei, achando graça.
- Ele não quer ser um rockstar. Nunca quis. Mas ele se convenceu de que nasceu pra isso. - Pedro olhou para frente. - Pelo menos foi convencido por nós. Você deve saber disso, Lua. Uns treinam e ficam bons, outros nascem com o dom, treinam e viram estrelas. Outros simplesmente nascem para ser. Esse é o caso do Arthur.
Olhei para trás com o canto dos olhos. Ele estava com a cabeça apoiada no vidro da Van, olhando distante para fora do carro. Por um instante me senti tentada a perdoá-lo.
Mas só por um instante.
- Ele é sempre idiota. - resmunguei.
- Não querendo me meter, mas já me metendo, o que houve entre vocês dois?
- Não houve nada. Eu só não o amo como deveria amar. - menti, sem nem pensar. Estava com aquela desculpa pronta para usar caso alguém perguntasse o que havia acontecido com o casal mais estranho de todos os tempos, mas mesmo assim fora difícil dizer.
- Não é o que parece. - ele comentou, voltando a olhar para frente. - Mas se é verdade, é uma pena. Ele gosta mesmo de você.
“Não foi o que pareceu enquanto ele enfiava a língua na goela de Pérola…”
Ótimo, agora além de traída eu receberia lições de morais dos companheiros de banda do cara que havia me traído? Eu quem deveria estar dando lições de morais! Claro que eles não sabiam na parte da traição, então eu não poderia dizer nada. Na cabeça deles, eu era a errada por fazer o pobre Arthur Aguiar sofrer.
Afinal, mesmo que ele não tivesse me traído quem faz uma promessa bêbada para uma oportunista como Pérola?
Olhei para fora, observando as casas voarem pelo vidro. Chegamos ao TacoPlace em quinze minutos, e o lugar parecia lotado. Algumas meninas com saias curtas e meias arrastão esperavam do lado de fora, e alguns caras com o cabelo de lado fumavam um baseado e andavam de skate pela rua. Depois de vários anos frequentando o lugar, nunca o havia visto tão cheio. Olhei para Pedro, que olhava maravilhado pelo vidro. Fiz sinal para que o motorista fosse mais para frente. Assim que chegamos aos fundos, ele estacionou e nós saímos. Chay, Micael e Pedro foram para a outra Van retirar os instrumentos, e Thur se afastou para falar ao celular.
Deveria ser Pérola. Aquela vadia não desistiria nunca até acabar com a minha vida.
Fui até os meninos, que recusaram qualquer ajuda minha, e me encontrei sozinha com Arthur assim que eles atravessaram a porta do estabelecimento.
- É, pai, é exatamente onde você está! … Não, não é brincadeira… Sim, pai, eu estou aqui atrás fumando um baseado com esses skatistas… Pai, eu tô brincando… Entra e dá seu nome pra recepcionista, ela vai te colocar no mezanino, onde você será o próprio intocável, ok? - ele desligou o celular e ficou olhando para o visor. - Tchau pra você também, papai.
Guardou-o no bolso, tirou o maço de cigarros e acendeu um, não suspeitando - ou apenas ignorando - que eu estava ali.
Olhei para baixo, me analisando. Usava um mini-vestido estampado com uma jaqueta curta e preta, meia-calça preta, scarpin preto, bolsa de couro preta, colar e pulseiras de prata e meu cabelo estava preso num coque desfiado. Quando a coloquei, pensei que era uma roupa legal, mas naquele momento eu só conseguia me sentir estúpida com toda aquela produção. Passei horas e horas escolhendo, tentando pensar como uma pessoa “fashion”, e aquele era o melhor que poderia conseguir.
No fundo eu queria mesmo era uma aprovação de Arthur, como se houvesse passado de mais um teste rumo meu aprendizado, mas nós não estávamos nos falando direito, e eu não conseguia olhar para ele sem querer matá-lo.
Apoiei-me na Van, peguei meu maço de cigarros e acendi um. Arthur se virou, surpreso por não estar sozinho, e me olhou de cima a baixo.
- Pensei que estivesse sozinho. - ele comentou, diminuindo nossa distância ao dar alguns passos em nossa direção. - Você está linda.
- Obrigada. - soltei a fumaça, esperando que ela camuflasse minha vergonha. - Não vai ajudar seus amigos?
- Eles já levaram tudo. - ele apontou para a Van vazia.
Olhei para ele, que me encarava com seus lindos olhos castanhos. Nós estávamos bem próximos. Mais próximos do que eu poderia aguentar.
Por que ele tinha que ter me traído? Por quê?
- Vamos entrar vocês precisam passar o som. - lembrei-o, apagando o cigarro com o bico do scarpin e dando dois passos para o lado.
- Você não quer conversar comigo? - ele perguntou, imitando meu gesto.
- Quero, mas vocês precisam passar o som. - respondi seca.
- Lua. Olha pra mim. - ele ordenou. Levantei meus olhos. - Eu quero que você olhe pra mim e diga que você não sente nada por mim e que ama Eric . Eu só preciso de mais uma confirmação e eu te deixo em paz definitivamente.
Fiquei muda por alguns segundos, encarando seus olhos. Por que era tão difícil mentir para ele? Por que ele não podia me deixar em paz? Estava claro que ele só queria curtir com a minha cara, então por que não admitia de uma vez e ficava com todas as garotas que queria ficar?
- Arthur, pare com… - tentei dizer, mas ele me cortou com uma só palavra.
- Mentirosa.
Olhei para ele, incrédula.
- Você não consegue fazer o que eu te pedi porque você é uma mentirosa. Eu já te expliquei o que aconteceu com a Pérola, e você não quer me perdoar. E eu disse que te amo! Você sabe o quanto isso foi difícil pra mim? - ele parou para respirar, alterado. - Mas é mais fácil, não é? Me colocar de lado de uma vez por todas. Afinal, eu sou só um galinha idiota que não merece nenhum tipo de valor. É isso que você pensa, é isso que todas pensam. Mas eu não sou idiota, Lua, então não tente dar uma de superior pra cima de mim. Eu sei que eu errei, e estou tentando consertar isso, mas você não me dá uma porra de uma chance!
Bom, eu realmente não esperava por aquela.
Era verdade, sempre o achei meio idiota, meio bobão. E agora ele estava ali, me provando o contrário.
Mas me chamar de mentirosa foi meio golpe baixo. O mentiroso traidor era ele, não eu!
Fiquei sem palavras, gaguejando coisas sem sentindo enquanto ele me olhava impaciente, esperando uma resposta.
- Arthur, cara, temos que passar o som agora. - Chay nos interrompeu, jogando uma bolinha de papel amassada em sua cabeça.
- Beleza. - ele concordou, sem tirar os olhos de mim. - Estou indo.
Depois virou e entrou no TacoPlace, deixando-me completamente sozinha.
Bom, ele veria quem era a mentirosa.
Continua...


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