Capitulo 102
Segunda-feira, dia 16 de Novembro, 8:16, auditório do Elite Way.
Guys:
- Nossa, ficou do caralho! - exclamei, realmente surpreso com a mudança do auditório. Ele geralmente era marrom e tedioso, mas, especialmente para o projeto cultural de Lua, que eu ainda não sabia direito sobre o que se tratava, ele estava parecendo uma balada. Uma daquelas bem caras, que estrelas do rock e prostitutas de luxo frequentavam. - O que vocês fizeram com as cadeiras? Elas não são parafusadas no chão?
- Ah, isso foi o de menos. O mais difícil foi encontrar algum lugar pra escondê-las. - Pedro deu de ombros. - A diretora ficou puta e disse que se as cadeiras não estiverem de volta aqui amanhã de manhã ela nos expulsa.
- O que não é muito surpreendente. - Chay suspirou. - Acho que tenho uma coleção de cartinhas avisando sobre meu novo estado de “observação permanente”. Eu sou praticamente um Big Brother ambulante nesse colégio. Se eu peidar vou ser expulso.
- E do que se trata esse projeto cultural? - perguntei, curioso. - Até agora eu não sei o que eu vou fazer aqui. Isso não é uma orgia organizada, né? Porque eu esqueci minha cueca da sorte.
- Cara, que nojo. - Pedro disse.
- Eu não diria orgia organizada, muito menos projeto cultural. Eu diria… Festa de inauguração. - Micael comentou. - A Sophia estava me explicando direito. A Lua pensa nisso desde que entrou no colégio. Ela percebeu que aqui na Elite Way eles não prezam muito a música em si, cantada, tocada ou dançada, e resolveu criar todo um complexo cultural, com aulas de dança, instrumento e um coral. Hoje ela vai anunciar pro resto do colégio as novas aulas extracurriculares que poderemos fazer a partir do ano que vem…
- O que é uma bosta, já que nós nos formamos esse ano e seria muito foda ter aulas de canto ao invés de aulas de história da arte. - Pedro fez uma careta.
Olhei para Lua, que conversava com a diretora do outro lado do auditório. Ela ainda estava com o curativo na cabeça, o que a deixava com um ar de indefesa, totalmente o oposto ao ar de garota radical que sua roupa queria passar: regata preta, calça jeans preta e Vans slip on quadriculado preto e vermelho. Seu cabelo estava preso numa trança que ia até mais ou menos a metade das costas, e ela estava linda.
Todos os alunos do Elite Way foram convidados - ou intimados - a comparecer, e alguns vencedores já entravam no salão, sonolentos e maravilhados com a mudança.
Eu podia jurar ter ouvido alguns alunos se perguntarem se estavam no céu.
As luzes estavam baixas, as janelas cobertas por lycra preta e alguns globos estavam pendurados no teto. Uma aparelhagem de som estava meio escondida atrás do palco e eu tinha quase certeza que um cara que circulava de um lado para o outro de Ray Ban new wave era um DJ conhecido.
Ao longe observei a diretora balançar a cabeça para Lua, entusiasmada, e depois lançar seu olhar felino sobre mim. Atravessou o salão em minha direção, com um sorrisinho demoníaco no rosto.
- Aguiar, já temos uma ocupação pra você! - ela exclamou.
- Hã?
- Esqueceu-se do nosso acordo? Você vai ter que trabalhar hoje! - ela passou a língua pelo lábio inferior, me fazendo estremecer. - Vai ser o técnico do som.
Bom, pelo menos aquilo era algo que eu sabia fazer. E era bem melhor do que ficar do lado de fora usando uma roupa de cachorro-quente.
- Ah, beleza. - dei de ombros. - Trato é trato.
- Lua precisa de você lá atrás às 9 horas. Enquanto isso pode ficar por aqui com o resto dos alunos. - ela virou o rostinho de boneca e saiu pelas portas do fundo.
Virei-me e dei de cara com Lua, que me olhava de cima do palco com um sorrisinho débil no rosto. “Oi” disse, por mímica labial.
“Oi” ela respondeu.
Acordamos naquele dia com seu despertador e sua mãe gritando do andar de baixo ao mesmo tempo. Saí correndo de seu quarto, sem nem poder dar-lhe um beijo, e não pude ficar perto dela pelo resto da manhã, pois sua mãe insistiu em nos trazer de carro para o Rio. Assim que chegamos fomos abordados por suas amigas e pelos meninos, então nossa proximidade do dia anterior havia sumido.
Não conseguia parar de pensar na nossa noite. Dormimos abraçados, na maior inocência. Consegui finalmente não me sentir puto por ela estar sem memória. Porque com ou sem, Lua ainda era a mesma. A minha Lua.
Estranho foi que na noite anterior eu senti que ela me conhecia, sabia do que eu gostava e do que eu não gostava. Provavelmente seu cérebro estava respondendo a impulsos conhecidos, e não a lembranças, mas que foi esquisito foi. Eu ainda estava meio intrigado com algumas coisas que ela dizia, como se lembrasse muito bem de tudo que nós havíamos passado.
Paranóia. Provavelmente era só paranóia.
- Arthur! - Micael gritou atrás de mim, e eu virei o rosto em sua direção. Ele apontou com sua própria cabeça para Michel, Fábio e Kátia, que entravam no salão. Michel parecia entediado, com as mãos na bunda de Kátia, e Fábio usava um óculos de sol e parecia se esconder das pessoas.
Com tudo que havia acontecido esquecera-se de perguntar o que havia acontecido com Fábio,Kátia,Fábio e Pérola. E esquecera-se de agradecer Carlos. Era a oportunidade perfeita para saciar minha curiosidade e mostrar minha gratidão.
Agradeci Micael com a cabeça e caminhei até eles.
- Fábio! Como vai você? - perguntei, sorrindo. Ele me olhou por cima dos óculos, surpreso. Michel soltou Kátia, que olhou para o chão, envergonhada. - Sua pele está brilhosa… Acho que uma noite em cana fez muito bem a você!
- Por que você não enfia… - ele ia dizendo, quando Michel colocou uma mão em seu ombro, como um sinal de aviso.
- Arthur, vaza daqui. Não queremos mais problemas, não é, Fábio? - ele falou entre os dentes. Michel balançou a cabeça em afirmação, contrariado.
Do jeito que eu conhecia os pais de Fábio, ele estava muito ferrado. Michel não ficava muito atrás.
- Estão ouvindo isso? - perguntei, colocando a mão no ouvido. Michel franziu a testa, Fábio não esboçou nenhuma reação e Kátia levantou o rosto. - É o som da vitória. - sorri.
- Filho da puta. - Fábio murmurou antes de dar as costas a mim e sair pelo portão principal. Michel e Kátia foram atrás.
Ah… O doce som da vitória.
Continua..
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