Segunda-feira, dia 9 de Novembro, 21:03, meu quarto.
Lua:
Ok… O que diabos acabara de acontecer? Já não bastavam minhas amigas, agora meu pai também estava usando drogas? Porque depois daquela conversa eu tinha quase certeza de que encontraria uma seringa na sua gaveta de cuecas. Ou talvez um pacotinho de seda.
Se você não está entendendo nada, eu explico melhor: Logo depois que Sophia contou o que havia acontecido, nós combinamos de nos encontrar no dia seguinte para conversar melhor. Então elas foram embora, eu atualizei as coisas do Phoenix na Internet, fiz minhas tarefas e me joguei nos cobertores, com o terceiro livro da série Mediadora para ler. Estava lendo tranquila quando vejo pelo canto dos olhos um vulto na minha porta. Levantei os olhos e encontrei meu pai me encarando, meio pálido.
- Pai? Aconteceu alguma coisa? - perguntei, porque ele não estava com a sua cara de trabalhei-o-dia-todo de sempre, e sim com uma expressão de medo. - A Clara está bem?
- A Clara está ótima. - ele respondeu, um tanto quanto esquisito. - Mas tem algo de errado acontecendo sim. Entre nós dois.
Ajeitei-me na cama, fechando o livro e colocando-o de lado. Meu pai entrou no quarto e fechou a porta, sentando-se na cadeira do computador e olhando em volta, com cara de reprovação para todos os meus pôsteres de bandas e filmes. Depois fixou os olhos em mim e sorriu fraquinho.
- Sua mãe acabou de me ligar. Disse que você está namorando.
Engasguei, colocando a mão no pescoço. Tive um acesso de tosse e fiquei uns bons dois minutos tossindo sem parar. Clara entrou no quarto, preenchendo todo o lugar com a sua barriga, e perguntou se estava tudo bem. Meu pai disse que sim, ainda sério, e ela foi embora.
Depois que o acesso passou, engoli em seco e tive que encará-lo.
Eu pretendia contar pra ele da minha farsa. Quando ainda era uma farsa… Mas naquele momento eu não tinha certeza sobre o que estava acontecendo entre Arthur e eu, e eu não podia dizer para ele “ah pai, relaxa na bolacha, ele é só uma fachada”, e depois levá-lo em casa e dizer “ei pai, lembra da minha fachada?”.
Arthur Aguiar… Sempre me metendo em problemas…
- É verdade. - murmurei, envergonhada.
- E por que não me contou antes?
- Porque, não sei se vai se lembrar, mas você não estava falando comigo. - me segurei para não terminar com um “dã!”, porque, bom, era óbvio demais.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos grisalhos.
Meu velho estava ficando velho… E teria um filho! Ou uma filha… Eu teria um irmão ou irmã. Meu Deus… Eu não conseguia nem cuidar de um peixinho, imagina cuidar de um futuro irmão?! Ele provavelmente seria aquele menino de 2 anos que fumava 40 cigarros por dia.
Brincadeira.
Mas com certeza Clara não me deixaria segurá-lo… Ou segurá-la. Bom, tanto faz, por que eu estou falando disso quando deveria estar contando sobre a conversa que tive com meu pai?
- Sim, querida, mas foi você quem voltou bêbada para casa. - ele comentou. - Mas não vamos falar sobre isso agora. Já passou, voltei a ser seu pai. Eu só queria que você tivesse me contado… Quem é esse garoto? O que ele faz da vida?
Engoli mais uma vez em seco. Eu sabia que não mentiria pra ele, pelo menos não agora que havia voltado a falar comigo.
- Bom, acho que você não vai gostar muito de saber… - murmurei.
- Experimente.
- Éaquelegarotoquevocêameaçoudemortenotelefone, Arthur Aguiar. - falei rapidamente, mas ele entendeu muito bem.
Muito bem.
- Aquele que te embebedou? - ele perguntou, gritando. - Lua, pensei que você tivesse alguma coisa nessa sua cabeça oca!
- Ah, pai, para de frescura vai, você sabe muito bem que quando um não quer dois não fazem. Se eu bebi foi por que eu quis. E eu nem sei por que ficou tão bravo! Como se eu nunca tivesse voltado bêbada pra casa… - suspirei.
Meu pai deixou os ombros caírem e suspirou. Ficou um bom tempo em silêncio, olhando para mim. E eu, como sempre uma grosseirona, abaixei os olhos, envergonhada. Mas eu não gostava que ficassem olhando para mim fixamente. Fazia cócegas.
- Não sei. Eu sinto que eu estou perdendo minha menininha… Você está tão grande… E quando seu irmão chegar, ou irmã, eu vou ficar tão preocupado em protegê-lo que talvez possa me esquecer um pouco de você… E isso está me matando por dentro, Lua…
Então uma lágrima escorreu pela sua bochecha direita.
WTF? O que estava acontecendo? Por que diabos todas as pessoas estavam chorando perto de mim?
Bom, não todas, só Sophia e meu pai. Mas por quê?! Será que eles queriam me deixar tão desconfortável assim? Eles ainda não tinham percebido que eu era péssima com sentimentos?
- Pai, não viaja! Como você poderia se esquecer de mim? Você paga minhas contas! - exclamei, e ele riu, passando o dedo pela lágrima. Levantei-me e fui até ele, agachando-me em sua frente. - Para com isso, papai, você sabe que eu vou sempre ser sua menininha! Namorando, não namorando, casada ou lésbica! Você é o melhor pai do mundo!
Levantei-me e fiz uma tremenda força para abraçá-lo. Ele me apertou forte nos braços e eu repousei minha cabeça em seu ombro.
Agora estava tudo bem…
- Gostaria de conhecê-lo direito, Lua. - ele comentou, ainda abraçado comigo.
É, nem tão bem assim…
Continua...
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