Terça-feira, dia 10 de Novembro, 13:37, bar.
Guys:
No dia seguinte acordei no susto, com uma bigorna em cima de mim. Semicerrei os olhos e olhei para o relógio no criado-mudo, constatando que ainda eram nove da madrugada. Quem era o filho da puta que estava me pentelhando àquela hora?
A vá! Quem poderia ser?
- Caralho, Pedro, para com isso, velho… - exclamei, ainda com os olhos fechados, sentindo um peso imenso nas minhas costas. Meu braço direito já estava ficando dormente.
- Vai, levanta, mocinha, vamos fazer alguma coisa, compor uma música, fumar um cigarro, sei lá, eu só não aguento mais olhar pro teto! - ele pediu, me chacoalhando com seu peso, indo pra frente e pra trás.
- Já sei, vamos brincar de dormir. - eu disse, ainda sem abrir os olhos.
- Nem. - ele descordou, saindo de cima de mim.
Mal pude respirar aliviado quando senti um frio cortante nas minhas pernas. O frio começou a subir e quando abri os olhos vi todas as minhas cobertas no chão.
- Eu te odeio. - murmurei, coçando os olhos e sentando-me só de samba canção na cama. - Muito.
- É, blá blá blá, toma um banho pra gente fazer alguma coisa. - ele ordenou, saindo do quarto com minhas cobertas nos braços.
Maldita suspensão de Pedro. Se os professores soubessem o quão pentelho ele era, não davam tantas suspensões assim para ele. Principalmente quando seu colega de casa também estava suspenso.
Primeiro deitei-me de novo na cama, tentando voltar a dormir, mas o frio londrino não me deixou. Então me levantei e fui até o banheiro, ligando a água no mais quente e esperando o banheiro virar uma sauna. Aí tirei a samba canção e entrei embaixo do chuveiro. Tomei um banho demorado, só para irritar Pedro, e quando saí não conseguia ver nada dentro do banheiro de tão espessa que estava a nuvem de vapor.
Saí do banheiro, espalhando o vapor quente pelo quarto, e me vesti. Coloquei uma calça jeans escura, uma camiseta preta, uma camisa xadrez de flanela preta e branca de manga cumprida por cima e um blusão preto da Hurley. Enfiei uma touca cinza na cabeça, ainda com o cabelo molhado e calcei meu All Star preto.
Entrei no quarto de Pedro e o encontrei jogando Call Of Duty modern warfare 2 no Play 3. Sentei-me ao seu lado e fiquei assistindo ele jogar, até que ele se cansou, salvou o jogo e desligou o videogame.
- E aí, tá a fim de fazer o que? - perguntou, coçando o joelho por cima da calça jeans.
- Sei lá, você me acordou, você sugere. - disse, levantando-me e pegando seu violão em cima da cama.
- Eu tava a fim de esperar os guys sair no campão, aí a gente fica por lá e espera o ensaio começar. Você tá sabendo que tem ensaio hoje, né? - ele perguntou, levantando-se também.
- Sim. Com seu carro ou o meu? - perguntei, já pegando a chave do seu carro. - Com o seu, né? Beleza.
Pegamos os instrumentos e descemos as escadas, passando pela zona de roupas, comidas, copos, latinhas, bitucas de cigarro e tigelas da sala sem ao menos nos importar. Saímos pela porta da garagem, colocamos as coisas no carro, entramos e Pedro guiou nos próximos minutos devagar como uma mulherzinha. Chegamos ao campão, um parque aberto em frente à escola, estacionamos o carro e saímos, nos sentando com algumas amigas do primeiro ano que estavam cabulando aula.
Ficamos falando besteira até que o sinal bateu e seus respectivos namorados - e nossos amigos - chegaram. Elas foram embora e nós ligamos para os guys, avisando que estávamos no campão. Passados alguns segundos, eles estavam sentados com a gente, contando sobre o que havia acontecido de legal na escola, ou seja, nada.
Estávamos no meio de uma conversa sobre quem era mais gostosa, Megan Fox ou Angelina Jolie, quando Chay avistou Sophia, Mel, Rayanna e Lua atravessando a rua. Ele assoviou o mais alto que pôde, antes mesmo que pudéssemos impedir, e começou a acenar para elas, que se entreolharam e depois olharam para Sophia, que estava séria, quase com cara de choro. Olhei para Micael, e ele olhava para o lado contrário, como se estivesse com vergonha de olhá-las.
- Cara, não acho que seja uma boa id… - comecei a falar, mas Chay já gritava para que elas viessem se sentar com a gente. - eia…
- Por quê? - ele perguntou, confuso, mas elas já se aproximavam, e eu fiz sinal para que ele deixasse para lá.
- Oi, gente. - Lua disse, sentando-se ao meu lado. Não sabia direito o que fazer, porque ainda não havia dito aos guys que nós estávamos meio que juntos - nem para os guys nem para mim mesmo -, mas para não ser cuzão de novo, segurei-a pela cintura, puxando-a para mais perto de mim.
- Oi, Luzinha. - respondi, sorrindo sem mostrar os dentes para ela, que balançou a cabeça negativamente, rindo.
- Eu já disse pra não…
- …me chamar assim! - Pedro completou sua frase de praxe, e todos nós rimos.
Rayanna sentou-se entre Lua e Chay, ficando de frente com Pedro. Sophia sentou-se entre Chay e Pedro, com os olhos no chão, e Mel sentou-se entre Micael e Pedro, jogando em Chay o chiclete que ele havia pedido.
Todos começaram a conversar - menos Sophia - e os alunos da escola começavam a sair, espichando os olhos curiosos para o fato de que eu estava abraçando Lua Blanco, a punk nerd esquisita.
Chupem essa manga, filhos da puta! Quem estava vendo Alana pelada mesmo?
Dei um beijo na bochecha de Lua quando vi que um grupo de jogadores de futebol nos olhavam, pegando-a de surpresa. Ela se virou para mim, depois para o grupo de jogadores, e riu.
- Não sei se eles vão achar super foda você ter trocado Alana por mim… - ela comentou, rindo. - Eu ainda sou uma perdedora, sabia disso?
- Uma perdedora lindinha. - sussurrei, beijando a ponta do seu nariz.
- Bom, depois não diga que eu não avisei. - ela disse, séria, me dando um beijo na testa.
- Pera aí, essa é nova, vocês estão juntos? - Pedro perguntou, quando finalmente percebeu nossa proximidade. - Tipo, juntos juntos?
- Mais ou… - Lua ia dizendo, quando eu a cortei.
- Sim. - respondi, e ela me olhou com a boca aberta. - O quê?
- Que coisa mais fofa! - Micael exclamou, fazendo todos rirem. - Lindo! Lindo!
- É, o amor é lindo. - Sophia comentou, amarga, levantando os olhos pela primeira vez e encontrando os olhos de Micael.
Olhei para Lua com o canto dos olhos. Ela estava olhando para Sophia, como se pedisse algo que ela se acusava a aceitar.
Como eu já disse, eu tinha medo dessa troca de olhares entre mulheres… Muito medo.
- Tão lindo… Um dia a gente pensa que a pessoa gosta mesmo de você, e no outro dia ela te liga pra dizer que você estava enganada. - Sophia continuou, não obedecendo as súplicas silenciosas de Lua. - E depois você fica sabendo que essa pessoa já está por aí comendo uma vadiazinha qualquer… Realmente, o amor é maravilhoso…
- Soph, para com… - Lua ia dizendo, quando Micael a cortou.
- O que você quer dizer com isso? - perguntou, sério.
Sophia e Micael estavam no meio do campo de batalha, e nós seis éramos os espectadores.
- Não quis dizer nada, mas se a carapuça serviu… - ela comentou, dando de ombros.
- Você não sabe quem eu sou, não julgue o que você não conhece. - ele disse entre os dentes.
- Pelo pouco que você me mostrou, não preciso conhecer o resto. - ela disse, e Micael riu, amargo.
- Tá bom, Sophia, não vou discutir com você. - disse, acendendo um cigarro. Ela riu sarcástica e voltou a olhar para o chão.
Ficamos algum tempo em silêncio, observando as pessoas que passavam. Odiava esses climas chatos. Era um tanto quanto… Chato.
Peguei um cigarro do meu maço e ofereci para Lua, que pegou e colocou entre os lábios, olhando para Sophia sem dizer nada. Rayanna pigarreou, e Pedro olhou para ela, que sorriu envergonhada. Chay tirou os óculos de sol e os limpou na camiseta. Mel olhou as horas no celular.
Puta clima chato.
- Que horas é o ensaio? - perguntei, querendo mudar o astral.
- 16:30. - Lua disse, soltando a fumaça do cigarro. - A gente podia fazer alguma coisa enquanto espera, né?
- Vamos tomar cerveja em algum lugar? - Mel sugeriu. - Tem um bar legal perto do estúdio, não é caro.
- Pode ser. Mas só o Pedro está de carro. - Chay disse, apontando para o Mini Cooper vermelho estacionado na rua. - Acho que não cabe oito pessoas lá.
- Mas é aqui do lado! Podem ir quatro no carro e quatro a pé! - Rayanna sugeriu. - São só duas quadras daqui!
- Já que você sugeriu, você é uma das que vai a pé. - Lua disse, rindo.
- Eu vou com você. - Sophia murmurou.
- Eu também, o Pedro não deixa ninguém fumar no carro dele. - Chay comentou.
- Eu também vou então. - Mel disse.
- Então fechou, no carro vai eu, a Luzinha - Lua me deu um soco no ombro e todos riram -, o Micael e o Pedro. O resto vai a pé.
Levantamo-nos e fomos para o carro. Pedro e Micael foram na frente e eu fui atrás com Lua, que estava linda com o cabelo solto e seus óculos de leitura.
Meu Deus… Lua havia me transformado no ser mais gay da face do universo!
Fomos ouvindo Ooh La do The Kooks até o lugar que Mel havia sugerido. Estacionamos o carro e pedimos uma mesa do lado de fora. Sentamo-nos e pedimos quatro garrafas de Heineken. Passados alguns minutos, os quatro chegaram e sentaram-se com a gente, comentando sobre o tombo que Chay havia tomado no caminho.
Apoiei minhas costas no encosto da cadeira, colocando as mãos na nuca e esticando as pernas. Através do meu RayBan podia observar meus sete amigos, três antigos, quatro novas e uma delas a garota por quem eu provavelmente estava apaixonado. Pela primeira vez. E pela primeira vez eu tinha amigas de verdade, não só colegas que na verdade só queriam ficar comigo e contar para o resto da escola no dia seguinte.
Olhei para Sophia, que mexia nas unhas. Depois olhei para Micael que, de óculos de sol, olhava para ela e tomava sua cerveja. Virei meu rosto para frente e observei Pedro conversando com Rayanna, que só ria, e às vezes ficava vermelha, mas pelo menos não estava fugindo dele. Ao lado deles, Chay conversava com Mel sobre Iron Maiden, que aparentemente era a banda favorita dos dois. Então virei meu rosto para o lado, e Lua fez o mesmo, no mesmo instante.
- E aí, Luzinha, o que conta de bom? - eu disse, e ela riu.
- Sério, eu me sinto uma ameba quando você me chama assim!
- E aí, Amebinha, o que conta de bom? - disse, e nós dois rimos.
- De bom nada, mas conto algo de novo. - ela disse, tomando um gole da cerveja. - Só não sei se você vai gostar… - terminou, com um bigodinho de espuma no lábio superior. Apontei com o dedo para o meu próprio lábio e ela passou a língua em cima do bigode, rindo. O que foi sexy. Muito sexy. - Meu pai quer te conhecer.
Sério, aquela passada de língua no lábio foi muito boa e…
Espera aí.
O pai dela queria me conhecer?
- Hã?
Continua...
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