Capitulo 99
Domingo, dia 15 de Novembro, 17:47, quarto de hóspedes.
Lua:
E de repente, como um raio, tudo voltou à minha cabeça. Como se nunca tivesse saído dali. Absolutamente tudo. Nosso primeiro contato - sem ser aqueles em que ele me perguntava se a professora de artes estava solteira -, o pedido, a troca de favores, os beijos, as brigas, o castigo, a traição, o pedido de desculpas, os momentos engraçados, os momentos tristes, a banda, o sucesso, o baile, a dança, a briga… Tudo.
Agora eu entendia por que minha mãe estava sendo tão boazinha comigo.
Thur estava sentado na beirada da minha cama, me olhando de um jeito esquisito. Aqueles olhos castanhos me davam uma sensação tão boa, e agora tudo fazia sentido. Eram os olhos castanhos que eu amava.
Abri a boca para contar que havia me lembrado, que eu estava de volta à ativa, mas então eu parei no meio do caminho.
Não seria divertido fazê-lo sofrer um pouquinho? Quero dizer, ele havia beijado Pérola e dito que não era a porra do meu namorado na frente de 500 pessoas. Eu podia sentir nitidamente a mágoa que sentira ao ouvi-lo dizer aquilo. Será que não era a hora de uma pequena vingança?
Além do mais, seria fofo vê-lo meio desamparado. Afinal, eu tinha batido a porra da cabeça por sua culpa! Poderia ser malvada. Tinha o direito de ser malvada. Não tinha?
- Eu tô bem, só senti minha cabeça latejar um pouquinho… - menti. - O que você está fazendo no meu quarto?
- Ah, eu estava… Bom, eu estava meio entediado no meu quarto e resolvi te ver. - ele sorriu, tímido. Finalmente eu iria conhecer as técnicas de conquista de Arthur Aguiar. Ele nunca chegou e flertar comigo e demonstrar interesse. Nosso rolo foi se enrolando enquanto o tempo passava, e eu nunca tive a chance de ser devidamente cortejada por ele.
Mal podia esperar!
- Ah… Bom, me desculpe por isso. - suspirei, ajeitando-me na cama. - Mas eu não pedi para você ficar, você poderia ter ido embora com os outros.
- Eu sei, eu sei… - ele deu de ombros. - Mas eu quero tanto estar com você quando as memórias voltarem que eu simplesmente não consegui voltar ao Rio. Desculpe-me.
- Sem problemas. - sorri, e ele ficou um bom tempo analisando minha boca. - E se eu não me lembrar?
- Hã? - ele pareceu sair de um transe hipnótico, subindo os olhos.
- E se eu não me lembrar? O que você vai fazer? - repeti.
- Eu não parei pra pensar nisso… - ele murmurou, sua voz saindo firme e baixa.
- Ah… - suspirei, tentando passar um ar de decepcionada, o que funcionou, pois ele logo completou:
- Acho que eu vou ter que te conquistar de novo, não? - perguntou, um sorriso tímido brotando em seus lábios.
Eu teria milhões de frases na ponta da língua para quebrar suas pernas. Mas não consegui dizer. Não diante daqueles olhos castanhos profundos e tristes. Então ao invés de ser malvada, eu só respondi:
- É. Acho que sim.
Então virei-me para o lado e fingi voltar a dormir.
Continua...
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