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03/12/2011

"O Melhor pra Mim"


Capitulo 37


Sábado, dia 7 de Novembro, 18:23, meu quarto.
Lua:
Cheguei em casa depois de algumas horas zanzando com as meninas pela cidade. Pedi para que Marcos não contasse à Clara, peguei o carro e fomos até o parque Cloverfield. Ficamos o dia inteiro conversando, tomando/comendo raspadinha de framboesa e rindo de todos e de tudo. Quando encaixei a chave na fechadura da porta, sentia-me feliz. As meninas haviam ido para o churrasco, mas nem isso estava me abalando - pelo menos não muito.
Dei oi para Clara, que respondeu com um aceno de cabeça, e perguntei pelo meu pai. Ela me disse que ele havia ido para a empresa em que trabalhava, pois um dos estagiários havia ferrado com as coisas. Com essa explicação, subi as escadas e entrei no meu casulo. Liguei a TV no MTV Hits, tirei a roupa e coloquei meu bom e velho conjunto de moletom. Joguei-me na cama e relaxei.
Por meio segundo.
Tinha acabado de fechar os olhos e ouvi um barulho baixinho de algo acertando meu vidro. Abri os olhos. Passados alguns segundos, o barulho veio mais forte. Coloquei os pés no chão, calçando minhas pantufas do Bob Esponja. Mais um barulho. “Porra, eu já vou!”, pensei, estressada. Fui até a janela e afastei as cortinas, abrindo-a. Procurei por alguém e não achei. Apertei os olhos e encontrei um isqueiro no parapeito da janela. Enrolado à ele, um pedaço de papel.
Mas eim!?
Peguei o isqueiro na mão e coloquei a cabeça para dentro do quarto. Puxei o pedaço de papel e li o que estava escrito.
“Se você está sem calcinha, dá uma risadinha!”
Olhei de um lado para o outro antes de cair na risada. O que era aquilo? O que estava acontecendo?
Mais um barulho.
Dessa vez fui mais rápida e coloquei a cabeça para fora da janela ainda rindo, mas o riso cessou no exato momento em que encontrei Thur parado em frente a minha casa. Olhei para o horizonte e avistei seu carro do outro lado da rua.
- Ouvi sua risada de dentro do carro. - ele disse, descruzando os braços.
- O que você quer aqui? - perguntei, séria. - Clara está na sala, pode te ver, e meu pai pode chegar a qualquer momento. E você não tem mais o que fazer, não? Chamei umas 100 garotas pra sua casa assistir ao seu show e você não está lá?
- Vim exatamente para te levar para o churrasco. Já fiz o show. - ele sorriu. - Quero que você vá comigo como amigos. Sem segundas intenções. Na paz. Pode ser?
Suspirei, cansada.
Ele gostava tanto assim de me infernizar?
- Thur, mesmo se eu quisesse, eu não posso sair de casa! - exclamei.
- Eu tenho um plano. - ele disse, com aquele sorrisinho sarcástico dele.
- Aaah, jura? Eu também tenho, vários! Mas nem por isso saio por aí jogando isqueiros na janela das pessoas! - respondi, e ele gargalhou.
Ouvi a porta da frente ser aberta. Thur se enfiou no meio das plantas e eu coloquei a cabeça para dentro, sentindo que meu coração ia sair pela boca. Clara foi até seu carro, abriu a porta, ficou por alguns segundos lá dentro e retornou para dentro de casa. Coloquei a cabeça para fora de novo e Thur estava lá, olhando estático para a porta.
- Isso mesmo, bonitão! Depois é preso e diz que é destino! - eu disse, bufando.
- Vamos fazer o seguinte: Você deixa eu colocar meu plano em prática. Se der errado, eu continuo te ajudando, mas você pode esquecer do Phoenix e de todos os problemas que nós te trouxemos!
Hm… Tentador!
Apoiei o rosto na mão, como se pensasse, mesmo que já soubesse a resposta.
- Hm… - fiz um suspense. - É, beleza, pode ser.
- Ótimo! Mas você tem que fazer tudo o que eu mandar! Começando por entrar em seu quarto e agir como se nada estivesse acontecendo. Espere Clara ir te chamar, e quando descer, me convide para entrar.
Ri, já imaginando aonde aquilo iria acabar, mas obedeci, fechando a janela e deitando-me na cama. Fiquei assistindo a Beyoncé rebolar até que Clara entrou mesmo em meu quarto, começando na barriga e terminando nos longos cabelos.
- Querida, tem um garoto aí dizendo que você está com os cadernos dele!
Desci as escadas atrás dela, lentamente, e quando cheguei ao pé da escada arregalei os olhos e abri a boca. Thur estava parado na porta, mas eu só o reconheci pelos seus olhos castanhos, porque todo o resto havia sumido. Ele usava uma peruca ruiva crespa, que ia até o começo das costas. Na boca usava um aparelho móvel nojento, todo babado. Uns óculos de armação tartaruga cobriam seu rosto e algumas pintas pretas estavam espalhadas pelas bochechas. Olhei para baixo, não podendo acreditar naquilo, e reparei que ele vestia uma camisa social bege grande demais para ele, enfiada dentro de uma calça de veludo marrom. Nos pés, mocassins verde musgo.
- Masquemerdaées…
- Lua! - ele exclamou, com a voz fanha e fina. - Preciso dos meus cadernos de física.
Clara me olhava incrédula, como quem diz “porque diabos você foi pegar os cadernos dessa pessoa?”, mas mal sabia ela…
- Tudo bem, Roger, pode entrar, sobe comigo que eu preciso procurá-los na bagunça do meu quarto. - eu disse, inventando um nome qualquer e fazendo sinal para que Thur me acompanhasse.
Nós fomos em silêncio, seguidos pelos olhos interrogatórios de Clara .Quando entramos em meu quarto e eu fechei a porta, não pude mais segurar a risada.
- Meu Deus! Que… Coisa é essa? - perguntei, apontando para ele inteiro.
- Um disfarce. - ele piscou para mim, e eu parei de rir na hora. - Ok, eis aqui a salvação do seu sábado à noite. - dito isso, Thur tirou da mochila que levava nas costas quatro objetos. Um parecia uma agulha, que ele prendeu no chão com uma fita isolante. O outro era um pequeno fone de ouvido sem fio, que ele deu na minha mão. Os dois últimos eram dois Walk Talk, um ele também me deu e o outro ele colocou entre meu edredom. - Seguinte: Esse microfone no chão capta todos os sons do seu quarto e do corredor, e os sons são transferidos para esse ponto que está na sua mão. Então se seus pais te chamarem ou algo do tipo, é só você apertar seu Walk Talk que o som da sua voz sai do aparelho que está na sua cama. Nós vamos trancar a porta, e se tudo der errado e alguém quiser entrar aqui, eu te trago correndo para casa.
Olhei para ele, embasbacada.
Qual era o propósito daquilo tudo?
- Você pode estar achando tudo isso demais só por um churrasco, mas não é por isso que eu estou fazendo isso. - olhei para baixo, de repente com vergonha de olhar nos olhos dele. - Eu só queria arranjar um meio de me desculpar por tudo que fiz à você. Esse foi o único jeito que encontrei…
Suspirei e levantei os olhos, encontrando os seus olhos castanhos suplicantes.
E mais uma vez eu caía no conto do vigário… Mas eu não conseguia! Simplesmente não conseguia dizer não àqueles olhos! Eles eram tão… Apaixonantes.
Deixei meus ombros caírem e sentei-me na cama.
- E então? - ele perguntou, esperançoso.
- Eu só tenho uma pergunta. - eu disse, me segurando na última ponta de orgulho que restava em mim.
- Pois não?
- Como eu vou sair daqui?
Continua..


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