Quarta-feira, dia 11 de Novembro, 00:12, meu quarto.
Thur:
Nem se eu quisesse, eu conseguiria dormir. Nem rolar na cama estava adiantando mais… Eu estava olhando fixamente para meu relógio, que parecia preso no tempo. Tantas coisas na minha cabeça… Será que as pessoas achavam que só por que eu era meio aloprado eu não tinha sentimentos?
Começando pelo pai de Lua. Pensei que já estivesse tudo bem entre eu e ele… Mesmo que eu soubesse que eu e Lua não éramos namorados coisíssima nenhuma, eu queria ter seu respeito. Não sabia dizer exatamente o porquê, só não queria ter um relacionamento ruim com uma pessoa importante em sua vida. Dá pra entender isso?
Bom, de qualquer jeito, eu pensei que nós estávamos de boa. Estávamos todos na sala conversando sobre música quando ele se levantou e fez sinal para que eu o acompanhasse. Deixei passar alguns segundos e não sabia exatamente o que faria para sair dali, mas por sorte Lua me pediu para pegar mais Coca-Cola na geladeira, e eu pude ir atrás dele.
Chegando à cozinha, encontrei-o apoiado na bancada de mármore me observando através dos óculos de armação quadrada.
- Queria falar comigo? - perguntei, me apoiando na batente da porta.
- Olha, eu não sei do que se trata esse namoro de vocês, e nem quero saber, porque não posso me meter na vida da minha filha. - ele disse, e eu levantei a sobrancelha, sem entender o que estava acontecendo. - Mas eu posso tentar impedir que algo ruim aconteça, e eu estou te avisando agora garoto, se você magoar minha filha eu corto o seu pipizinho fora!
Abri a boca para responder, mas ele estendeu a mão para eu me calar.
- Guarde suas desculpas para você mesmo. Isso é só um aviso.
Então ele passou por mim e voltou para a sala. Peguei as Cocas e voltei logo em seguida, e ele estava agindo como se nada tivesse acontecido. Fiz o mesmo.
Mas, porra! O que diabos ele queria de mim!?
Não contei aquilo para Lua, claro. Ela provavelmente iria rir. Eu já tinha percebido que ela não era a pessoa mais indicada para se contar alguma coisa envolvendo sentimentos, por isso procurava ser o mais frio possível para não afugentá-la. Não queria perdê-la… Se aquilo que nós estávamos tendo não evoluísse para uma coisa mais séria, pelo menos eu teria uma amiga para o resto da vida. E demonstrar o que eu estava sentindo de verdade era uma das coisas que eu tinha certeza que a afastaria de mim. Assim como contar que seu pai ameaçou cortar meu pinto fora.
Além disso, tinha Pérola.
Desde o dia em que conversara com ela pela webcam, ela andava meio sumida. Mas como a vida adorava conspirar contra mim, assim que cheguei em casa e entrei no computador, ela veio me encher o saco, me chamar para sair e essas coisas… Sabia que ela era uma menina legal, e não queria magoá-la, mas eu não estava muito a fim de sair com ela. Aliás, não estava muito a fim de sair com nenhuma menina desde que beijara Lua no estacionamento do shopping. Parecia esquisito, principalmente para um galinha sem cura como eu, mas eu já havia desistido de tentar entender o que eu sentia por ela… Decidira deixar a vida me levar. Só que essa vida me levar não incluía sair com Pérola. Eu podia ser tudo, galinha, cafajeste, idiota, mas quando eu estava com alguém, e não traía. E no final só me ferrava…
E isso nos leva ao último item da minha lista de coisas que estavam me atormentando: A pergunta de Lua sobre meu comentário, que me transportara para um passado remoto que eu julgava estar morto e enterrado. Mas pelo jeito ninguém esquece o primeiro pé na bunda…
Quando ela disse que eu nunca havia conhecido os pais de nenhuma garota, foi como um chute no estômago. Mas como eu estava nervoso em relação ao seu pai, deixei passar e soltei sem querer aquela frase. “Não fale o que você não sabe”. Porque, bom, ela não sabia mesmo. Depois que tudo passou, e eu já havia esquecido daquilo, ela jogou na minha cara novamente, como um tiro. E só o que eu consegui fazer foi gargalhar e dar o pé dali.
O que ela não sabia era que eu tive uma ex-namorada. Estava no segundo ano e ela no primeiro. Não era da mesma escola, eu a conheci em um pub em que fora assistir o show de uns amigos meus. Namoramos 8 meses, e eu cheguei a conhecer seus pais. E quando finalmente percebi que estava curtindo tudo aquilo e que namorar era legal, mais legal do que sair por aí ficando com todo mundo, ela me deu um pé na bunda e eu descobri dois dias depois que estava sendo traído.
Por isso eu era um galinha sem controle. Por isso eu ficava com todas as garotas sem remorso nenhum.
Mas lembrar dela - Laureen - ainda doía. Não que eu gostasse dela… Ela era linda, e eu curtia ficar com ela, mas não passou disso. Só que até namorá-la, nunca ninguém havia me passado a rasteira desse jeito.
E tudo isso estava na minha cabeça, não me deixando dormir.
Fechei os olhos bem apertados, lembrando do show que estava se aproximando e que mudaria minha vida. Mais um chute no estômago.
Porra de vida complicada!
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário