Capitulo 44
Segunda-feira, dia 9 de Novembro, 7:13, sala de espera da diretoria.
Thur:
O tique-taque do relógio era insuportável. O cheiro de mofo do banco de couro também. As paredes brancas estavam me cegando. O maço de cigarros do meu bolso parecia gritar “me fume! me fume!”. Eu estava ali há mais ou menos quinze minutos, mas meu relógio biológico acusava alguns meses de diferença. Sabia que a qualquer momento a porta de madeira iria se abrir, e meu pai sairia de lá, sorrindo audaciosamente, com a diretora atrás de si, me pedindo para limpar o armário, pois minhas transferência para um colégio interno na Suécia estava assinada.
Limpei minhas mãos suadas na calça jeans.
Maldita Alana.
Olhei em volta, procurando algo para me distrair. Só encontrei a secretária de novecentos e quarenta e sete anos da diretora jogando paciência no computador e algumas revistinhas de orientação vocacional em cima da mesinha de centro da sala de espera. Pesquei uma ao acaso e comecei a folheá-la. “Administração de Empresas” era a primeira profissão.
Maldita administração de empresas!
Joguei a revistinha em cima da mesa, passando os dedos pelo cabelo.
- … bom, então acho que temos um acordo! - a voz grave do meu pai atravessou meus tímpanos. Levantei os olhos dos meus tênis e o encontrei parado à porta, chacoalhando a mão da diretora, que sorria amigavelmente para ele.
“Finalmente!” pensei, observando a conversa calado.
- Sim, sr. Aguiar, e espero que o senhor converse com o seu filho. - Ela olhou para mim, com a sobrancelha levantada. - O Arthur tem muito potencial, e espero que ele não seja desperdiçado.
- Não será. - ele prometeu, olhando para mim com nada mais do que indiferença. - Vamos?
- Sim, querido papai. - respondi, me levantando e saindo da sala atrás dele.
Ao sair no corredor, encontrei minha mãe falando ao celular. Carla estava ao seu lado, entediada, e sorriu ao me ver.
- Vamos, Cristina. - meu pai ordenou, e ela obedeceu, indo atrás dele. Fui atrás dos dois com Carla nos meus calcanhares.
- O que você está fazendo aqui? - sussurrei para ela.
- Eu não fui suspensa, então, teoricamente, eu estava na aula. - ela apontou para nossa mãe. - Ela me pegou saindo pelo portão principal.
- Boa, maninha, é assim que se faz! - murmurei, sarcástico.
- Aprendi com o melhor. - ela sussurrou, pisando no meu pé.
Fui atrás dos meus pais até o portão principal. Chegando lá, Carla despediu-se e voltou para a aula. Então o rascunho do capeta, vulgo meu pai, me olhou de cima a baixo. Eu estava sem o uniforme, com uma calça jeans surrada, uma camiseta branca furada e meu Adidas com listras pretas. Ele fechou a cara o máximo que conseguiu, dando a ligeira impressão de que era um limão.
- Fiz um acordo com sua diretora. - ele começou, e eu virei os olhos. - Mais alguma gracinha e você está expulso. Ela não vai nem mandar me chamar. Só vai limpar seu armário e te impedir de entrar de novo no prédio. Você está ouvindo?
- Não sou surdo. - respondi.
- Ótimo. Tente não estragar as coisas como sempre. Essa é sua última chance. - ele me entregou um papel e puxou minha mãe pelo braço, que me mandou um beijo no ar e entrou no carro. Mas antes dele entrar, terminou sua sentença: - Semana que vem eu volto, e se perceber que todo o meu investimento foi em vão, você vai para Estocolmo comigo.
- Sim, senhor! - bati continência e ele entrou no carro, arrancando e virando a esquina.
Suspirei de alívio.
Esperei mais alguns segundos e puxei o maço do meu bolso. Acendi um cigarro trêmulo e sentei-me no meio fio. Pelo menos não estava indo embora para a Suécia com eles naquele momento.
Peguei o celular no bolso e digitei a frase “E já se foi o disco-voador!”. Enviei e coloquei-o de volta no bolso da calça.
Assim que ela lesse, entenderia.
Continua..
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