Capitulo 84
Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 18:35, trem.
Lua:
- Na hora! - minha mãe gritou, animada. Deu-me um beijo no rosto e outro em Thur. - O que é isso na sua sobrancelha?
- Tomei uma bolada… - Thur respondeu, entortando a boca.
- Bom, vamos ter que maquiá-lo então… Espero que você não tenha enfiado seu smoking na mala de qualquer jeito… - ela comentou, olhando para a mala de Arthur no chão.
- Não. - ele calou sua boca, tirando de trás das costas o smoking intacto.
- Ótimo! - ela piou. - Vamos então?
Virei os olhos. Como ela podia me odiar por um mês por fazer um furinho no nariz e quando Arthur aparecia com um hematoma gigantesco na testa um dia antes do grande baile ela não se importava?
Thur veio até meu lado e pegou minha mão discretamente. Olhei para ele, com um sorriso de cumplicidade, e ele fez uma careta. Andamos de mãos dadas atrás de minha mãe até chegarmos ao carro. Sentei-me no banco da frente e Thur foi atrás com o smoking em seu colo.
- Mal posso esperar para te ver no vestido! - minha mãe disse assim que entramos no carro.
- Eu vou ter que ficar com ele a noite inteira? - perguntei, já imaginando meu sofrimento em um daqueles vestidos cobertura-de-bolo.
- Não, só na valsa. Pro resto da noite tenho outro vestido pra você. - ela curvou-se para mim e sussurrou: - Um bem sexy.
Minha mãe e seus comentários embaraçosos. Se pelo menos Thur não tivesse ouvido, mas ele deixou bem claro que havia pela sua risadinha cortada.
Olhei pelo retrovisor para ele, que segurava o maço de cigarros através do tecido da calça jeans. Ele parecia meio nervoso, meio alheio ao resto do mundo. Minha mãe tagarelava sobre o acidente de Dylan, mas eu estava mais interessada em observá-lo. Suas bochechas vermelhas do Sol, seu cabelo despenteado, sua boca entreaberta…
É… Não era do meio feitio, mas parecia que Thur havia conquistado meu perdão mais rápido do que eu pensava. E o meu coração também, que se acelerava toda vez que eu o via.
Se naquele exato momento eu pudesse realizar algum desejo, com certeza pediria para que nunca mais ficasse longe de Thur.
Sem sombra de dúvidas.
- Lua, você está me ouvindo? - minha mãe atrapalhou meus pensamentos. Thur me olhou pela espelho e eu desviei os olhos dele.
- Claro que estou te ouvindo, mãe. - reclamei, fingindo estar magoada. - Dylan quebrou o braço jogando futebol!
- Querida, você vai amar o seu vestido! - ela piou, animadinha, mudando de assunto bruscamente. - Thur, você vai se apaixonar pela minha menininha!
Abaixei os olhos, querendo matá-la. Primeiro por que eu não era sua “menininha”, segundo por que odiava ser tratada como uma criança e terceiro por que Thur riu de um jeito incrivelmente fofo, meio debochado.
- Eu já estou apaixonado pela sua menininha. - ele disse, focando o motivo do meu constrangimento.
Mesmo assim eu não pude conter o sorriso que brotou em meus lábios.
Passamos o resto do trajeto em silêncio. Bom, pelo menos eu e Thur passamos, enquanto minha mãe continuava com seu eterno monólogo.
- … Então ela me disse que o clube não permitia chinelos. Imagina!? Ah! Chegamos!
Olhei contrariada para a casa em que vivi alguns anos horríveis de minha vida. Ela continuava imensa e calorosamente estranha para mim. Nem um pouco como a ideia que eu tinha de lar.
- Bela casa, Adriana. - Thur comentou, íntimo.
- Obrigada, querido. - ela agradeceu, olhando para ele com mais carinho do que jamais olhara para mim. Na verdade ela geralmente olhava com repulsa para o meu piercing no nariz.
Graças a Deus ela nem desconfiava do meu piercing no freio da língua.
Nós entramos e Thur não esboçou nenhuma reação à monstruosidade da casa, o que me fez ter certeza que ele era tão rico quanto as pessoas do colégio diziam.
Meu padrasto apareceu nas escadas com sua típica cara de nojo e veio nos cumprimentar com um copo de whisky na mão. Ofereceu a Thur - que obviamente aceitou - enquanto minha mãe me levava para o quarto, doida para me mostrar o vestido. Ela deu pulinhos de emoção ao abrir o zíper da capa onde o vestido estava, e eu tinha que admitir que ele era realmente lindo. Era um longo Branco com o decote bordado com pedrinhas prata.O salto era prateado e simples. Aquele era o vestido para a valsa, pois eu seria “apresentada à sociedade”, então era um vestido virginal, que não me preocupava. Eu queria mesmo era ver o outro, porque do jeito que conhecia minha mãe, sabia que alguma coisa extravagante estava por vir, e eu não queria ir como uma prostituta ao baile, mas ela bateu o pé e disse que só me mostraria no dia seguinte.
Nós descemos para a sala da lareira com Dylan e Taylor - meu outro meio-irmão. Dylan, de 12 anos, mostrava animado para Thur seu gesso, como uma vitória, e Taylor, no auge dos seus 14 anos, resmungava sem parar e batia boca com a minha mãe por qualquer coisa.
Ficamos na sala o resto da tarde. Meu padrasto manteve Thur - bêbado - ocupado com suas histórias entediantes e minha mãe me entreteve com sua conversa interminável sobre suas amigas do clube.
Quando a empregada nos avisou que o jantar estava pronto, o céu já estava escuro.
- Espero que você goste de cachorro-quente, Thur. - minha mãe cantarolou assim que entramos na cozinha. Dylan deu gritinhos de excitação, porque provavelmente só podia comer comida saudável, feita por nutricionistas, e finalmente sairia do seu regime à base de alfafa e comeria alguma porcaria gordurosa. Taylor, ao contrário dele, só sentou-se e montou seu cachorro-quente, calado.
- Eu adoro. - Thur exclamou, afetado.
Ri internamente e sentei-me ao seu lado.
Tivemos um jantar agradável, fora os protestos silenciosos de Taylor, que queria desesperadamente voltar ao seu quarto. Ao acabarmos, minha mãe nos levou ao andar de cima e eu descobri que teria que dormir no quarto de algum de meus meio-irmãos, pois meu antigo quarto fora transformado em uma sala íntima.
- Nada disso! - Thur protestou, com a língua meio presa pela bebida. - Eu durmo no colchão e ela dorme no quarto de hóspedes! Não vou deixar minha namorada dormir no chão em sua própria casa.
Ele deu-me um beijo de leve na testa e minha mãe riu encantada.
- Então vamos fazer o seguinte: Eu coloco um colchão no quarto de hóspedes para você não precisar dividir o quarto e Lua dorme na cama. - então ela olhou para Thur com os olhos apertados. - Meu quarto é no final do corredor, ouviu, mocinho? Vou dormir de porta aberta!
Mais uma vez quis matar minha mãe.
- Sim, senhora! - ele respondeu, envergonhado.
Meu padrasto trouxe o colchão para o quarto e se despediu para ir dormir. Minha mãe ficou mais um pouco conversando com Thur sobre coisas fúteis da alta sociedade - que ele parecia conhecer muito bem - mas percebeu que nós dois estávamos cansados e foi se deitar, avisando mais uma vez que se Thur tentasse alguma gracinha comigo se daria mal.
Assim que ela fechou a porta Thur me pegou pela cintura e nos jogou em cima da cama de casal, ficando em cima de mim.
- Finalmente! - exclamou, ofegante. Seus olhos estavam vermelhos e seu hálito amargo. - Pensei que ela não iria embora nunca!
- Eu também… - murmurei, enquanto ele beijava meu pescoço. - Senti falta disso.
- Mas nós acabamos de nos beijar no trem! - ele comentou, me fazendo rir. - Brincadeira. Eu também senti muita falta disso. Mesmo que nossa separação tenha durado menos de dois dias…
Suas mãos, mais do que experientes, passeavam por todo o meu corpo de um jeito tão suave que faria qualquer garota ter certeza de que aquilo não tinha segundas intenções.
Mas tinha. Ah se tinha…
- Esqueci de perguntar, o que seu pai disse? - desgrudei nossas bocas vermelhas e ele reclamou baixinho. - Sobre o show.
- Que eu posso continuar com a banda… - ele respondeu, inclinando a cabeça para voltar a me beijar. Fui mais rápida e a segurei entre as mãos.
- Mas isso é maravilhoso! - piei, me segurando para não gritar. – Por que você não me contou isso antes?
- Não sei, acho que me esqueci disso em algum momento do dia entre estar apanhando e bebendo whisky com o seu padrasto… - ele comentou, sarcástico. Tentou voltar a me beijar, mas eu o impedi novamente.
- Thur! Nós devíamos estar comemorando! - exclamei, com os olhos arregalados. Levantei-me sob seus protestos e saí do quarto. Peguei uma garrafa de vinho e duas taças na cozinha e voltei para o quarto, pé ante pé para não fazer barulho. Ao entrar no quarto, Thur estava sentado na cama com cara de emburrado, mas ao ver o vinho na minha mão seu rosto se iluminou. - Bebemorar!
Ele veio até mim e pegou uma taça e a garrafa de vinho. Colocou para mim e depois para ele.
- Ao futuro promissor do Phoenix! - levantei minha taça e ele a dele.
- Ao nosso futuro promissor! - senti meu rosto esquentar e bati nossas taças.
Virei o conteúdo de uma só vez.
- Uou! Nesse ritmo você me alcança! - ele brincou, colocando mais vinho. Virei novamente e ele riu, colocando nossas taças e o vinho em cima da escrivaninha. Depois envolveu as mãos em minha cintura e andou para frente devagarzinho, me apoiando na parede. Ele passou as mãos pela minha barriga e costas, e eu dei pulinhos de arrepio. - Já te disseram que você é muito gostosa?
- Não, mas pra tudo tem uma primeira vez. - brinquei, começando a beijar seu pescoço.
Ficamos nos acariciando e rindo, até que eu peguei o vinho e decidi que as taças não eram mais necessárias. Dei um longo gole no gargalo e Thur fez o mesmo.
- Mas que elegância! - ele disse, me fazendo rir.
- Quem pode, pode, não é?
Voltamos a nos beijar sensualmente. Ele apertava o quadril contra o meu e puxava meu cabelo com um pouco de força, me fazendo gemer. Então ele envolveu minhas pernas em sua cintura , rebocando-me até a cama. Deitamos-nos e ele começou a morder de leve minha nuca e pescoço, enquanto eu brincava com a sua orelha. Parávamos para beber o vinho de vez em quando, e a última coisa que me lembro é de beber o último gole, sob os seus protestos.
Então eu apaguei…
Continua..
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